Queda de mais de 30% da Casas Bahia: oportunidade ou risco?

21 de setembro de 2023
Divulgação

O varejo tem enfrentado desafios nos últimos dois anos. A alta dos juros reduziu a demanda e elevou o custo do crédito

O Grupo Casas Bahia está em destaque nos noticiários, mas não devido a alguma liquidação. O motivo são mudanças em seu capital social que provocaram uma queda de 35% nas ações em uma semana. Esse recuo nos papéis levanta questões entre investidores sobre se vale a pena apostar na reestruturação para obter lucros no futuro. Apesar de ser o mais visível, esse movimento não é recente. E a perspectiva dos especialistas para a empresa não é positiva.

No início de setembro, o grupo anunciou a mudança de seu nome e do código de negociação na Bolsa de Valores. A denominação mudou de Via para Casas Bahia, e o ticker foi alterado de VIIA3 para BHIA3. Em agosto de 2021, a empresa já havia usado a mesma estratégia. Anteriormente, era chamada de Via Varejo e se tornou simplesmente Via, enquanto o ticker mudou de VVAR3 para VIIA3. A troca de nome não impediu as quedas. Desde 2021, as ações da varejista já perderam 94% de seu valor.

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Os especialistas alertam que mudanças frequentes em uma organização podem indicar incerteza em relação à estratégia. “Investir em um momento de transformação pode ser considerado uma aposta de alto risco, especialmente quando o futuro da empresa é incerto”, diz Anthonio Araujo Jr, da Smart Business.

Além disso, o varejo tem enfrentado desafios nos últimos dois anos. A alta dos juros reduziu a demanda e elevou o custo do crédito. O setor opera com margens estreitas. Por isso, muitas empresas queimaram caixa e sofreram prejuízos, incluindo o Grupo Casas Bahia.

Nesse contexto, à medida que a alavancagem da companhia subia, o grupo buscou capitalização por meio de seus acionistas com uma oferta subsequente de ações (follow-on). A expectativa era captar cerca de R$ 1 bilhão, mas conseguiu levantar apenas R$ 622 milhões. Segundo os analistas, não é suficiente para reestruturar a empresa.

“Com margens operacionais apertadas e uma dívida crescente (atualmente em R$ 4,5 bilhões), a empresa tem feito demissões e fechado lojas, buscando evitar o caminho trilhado pela Americanas, de pedir Recuperação Judicial”, afirma José Daronco, da Suno Research. “Apesar das significativas quedas, não é hora de investir. A companhia está passando por uma situação complicada e está longe de ser resolvida”.

10x sem juros

O cenário macroeconômico apresenta desafios não apenas para o Grupo Casas Bahia, mas também para todo o setor de varejo. O aumento da taxa de juros eleva o custo do endividamento e do financiamento para os clientes. Além disso, as varejistas enfrentam a concorrência de grandes concorrentes internacionais, como Mercado Livre e Amazon.

No entanto, a principal concorrente do grupo está em uma posição mais favorável. Em uma simples comparação ao longo de um ano, as ações do Magazine Luiza tiveram uma desvalorização de 43,50%, enquanto o grupo enfrentou uma queda de 76,49%. O professor da FIA Business School, Rodolfo Olivo, analisa que o diferencial da Casas Bahia é oferecer vendas a longo prazo, famosa por sua propaganda de “10 vezes sem juros”. Entretanto, em apenas três anos, os juros subiram de 2% para até 13,75% ao ano, o que resultou em prejuízos. “O público-alvo sempre foi composto por pessoas das classes C e D, que dependem de crédito”, afirma Olivo.

Por este motivo, como parte da reestruturação, a companhia pretende criar um Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC). O objetivo é utilizar o dinheiro dos investidores para financiar o crediário da Casas Bahia. Isso significa que, em vez de esperar para receber o dinheiro das vendas parceladas ao longo do tempo, a varejista terá acesso aos recursos de uma só vez.