O balanço dos juros da Super Quarta: o BC suaviza, o Fed endurece

20 de setembro de 2023
Yuri Gripas/Reuters

Sede do Federal Reserve, em Washington: pouca tolerância com a inflação americana

A Super Quarta, que concentrou as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Federal Open Market Committee (Fomc), confirmou as expectativas do mercado. No Brasil, o Copom reduziu a taxa Selic em meio ponto percentual, para 12,75% ao ano, como esperado.

O Comunicado divulgado após a reunião informou que a decisão foi unânime. Além disso, o Copom confirmou que as próximas reduções de juros serão “da mesma magnitude”, de 0,5 ponto percentual.

Segundo Raphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors, “o tom do comunicado foi na linha dovish por entender que o ciclo de afrouxamento monetário seguirá no mesmo passo ao longo das próximas reuniões”.

O tom do Comunicado

O Comunicado foi considerado moderado, apesar de uma menção bastante firme com a situação fiscal. “Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”, diz o texto.

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Segundo Vieira, no lado menos otimista, o “Banco Central chamou a atenção para um ambiente global mais incerto com menor crescimento projetado para a China e elevação dos juros nos EUA”.

Segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o texto mostra que, para o BC, “as expectativas não irão reancorar”. Por isso, o piso dos juros deve ficar em 10,50% ao ano, 1,5 ponto percentual acima da taxa de juros neutra, que a Ativa estima ser 9% ao ano.

Linha dura no Fed

Já em Washington, as declarações de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, foram interpretadas pelos investidores como sendo intransigentes com a inflação. Apesar de ter mantido os juros estáveis no patamar entre 5,25% e 5,50% ao ano, o Fed indicou que espera mais um aumento neste ano, e uma redução menos intensa em 2024.

A manutenção das taxas era esperada, e a única incerteza era com relação ao que esperar para o futuro. A julgar pelas informações do BC americano, o mercado deve esperar uma política monetária mais restritiva e por mais tempo. Isso pesou no mercado, com o S&P 500 a cair quase 1% e o Nasdaq Composite a cair 1,5%. As ações oscilaram enquanto Powell concedia uma entrevista coletiva.

Doze participantes da reunião defenderam o aumento adicional, enquanto sete se opuseram. Isso colocou mais alguém na oposição do que na reunião de junho. Em longo prazo, os membros do FOMC apontaram para uma taxa de fundos de 2,9% em 2026. Isto está acima do que a Fed considera a taxa de juro “neutra”, que não é nem estimulante nem restritiva para o crescimento.

Powell disse que o BC americano será cauteloso antes de começar a afrouxar a política monetária. Ele afirmou que o Fed gostaria de ver mais progressos na sua luta contra a inflação. “Queremos ver provas realmente convincentes de que atingimos o nível apropriado [de inflação]”, disse ele. As projeções do Fed mostraram a probabilidade de mais um aumento neste ano, seguido por duas reduções em 2024. Isso é um cenário mais austero que os quatro cortes previstos para o próximo ano.

Reação do mercado

Segundo o analista Rodrigo Cohen, da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira, os próximos movimentos do Copom vão depender do comportamento da inflação, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. “O cenário externo está muito mais incerto em relação à inflação, principalmente nos Estados Unidos, e a China também vem mostrando uma desaceleração”, diz ele.

Na avaliação de Cohen, a decisão do Fed pode pesar mais sobre o Ibovespa do que o Comunicado do Copom. “O mercado brasileiro já esperava a queda de 0,5 ponto percentual na Selic”, diz ele.