O bitcoin, o ether, o solana e as mais de 10 mil outras criptomoedas estão 60% abaixo do pico de novembro de 2021, resultando em uma perda de US$ 2 trilhões (R$ 10 trilhões) em valor de mercado. As plataformas de criptomoedas têm sido alvo de hacks regulares, e suas empresas mais importantes têm sido alvo de reguladores. Ainda assim, Sevillano insistiu que a tecnologia subjacente a essa moeda digital ainda era viável e tinha um futuro promissor. “Isso é blockchain, não criptomoedas, e tem utilidade real”, afirma o parceiro da McKinsey.
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No entanto, apesar de todo o discurso sobre a eficiência, havia uma certa superficialidade na apresentação. Poucas empresas adotaram a tecnologia, e muitos projetos ainda enfrentam os mesmos desafios e debates de anos atrás. A tokenização pode até ser o futuro dos serviços financeiros, mas parece estar muito longe de se concretizar.
A tecnologia blockchain insiste em pagamentos instantâneos em tempo real em qualquer lugar do mundo por centavos de dólar, ferramentas para proteger identidades e informações pessoais dos olhos curiosos de reguladores e empresas, e uma proteção contra políticas governamentais inflacionárias. Nesse conjunto de benefícios também se encontra a tokenização, recibos digitais para ativos do mundo real, como imóveis, arte, títulos ou até propriedade intelectual.
Um relatório de 2015 da divisão de capital de risco do Banco Santander afirmou: “A tecnologia de contabilidade distribuída poderia reduzir de US$ 15 a US$ 20 bilhões dos custos dos bancos com pagamentos transfronteiriços, negociação de títulos e conformidade regulatória até 2022”. O ano passou sem nenhum efeito notável.
Tokenização
Em 2017, a DAH fechou um contrato com a Bolsa de Valores da Austrália para substituir um sistema antiquado. Mas após cinco anos, o negócio teve seu encerramento anunciado. O projeto apresentava atrasos ligados à estabilidade, escalabilidade, governança e gerenciamento geral do projeto. A Bolsa contabilizou uma perda de US$ 165 milhões em seu investimento (R$ 822 milhões).
A empresa de tokenização foi recentemente adquirida pela Depository Trust and Clearing Corporation (DTCC) por US$ 50 milhões (R$ 249 milhões), com 50% de desconto em relação ao seu valor em março de 2021.
“Todos, desde a Blackrock até o Goldman, estão dizendo que a tokenização é o futuro. O problema é a interoperabilidade e a liquidez. Os bancos se associam com a empresa XYZ, fazem uma emissão e depois divulgam um comunicado de imprensa. O que acontece a seguir? Nada. Porque não podem ir a lugar algum”, afirma Nadine Chakar, CEO da Securrency.
O único uso moderadamente bem-sucedido da tokenização tem sido os stablecoins. O mercado global subiu para US$ 127 bilhões (R$ 633 bilhões) em apenas alguns anos, mas o uso principal das tokens tem sido facilitar negociações especulativas em bolsas de criptomoedas não regulamentadas. Além disso, o mercado é dominado pela Tether, uma entidade que opera há muito tempo fora do escrutínio regulatório. A entidade, que possui US$ 84 bilhões (R$ 418 bilhões) em ativos, nunca foi auditada e se recusa a divulgar os bancos que utiliza para manter os fundos.
Ainda assim, pilotos de tokenização e comunicados de imprensa continuam a ser produzidos em série. Nas últimas semanas, o Citi anunciou um plano para começar a tokenizar os depósitos dos clientes no banco, para que possam enviar fundos instantaneamente para qualquer lugar do mundo, independentemente do horário. A Bolsa de Valores de Londres também deseja lançar um negócio de tokenização de negociações, que provavelmente se concentrará inicialmente em private equities.
Murray Roos, chefe de mercados de capitais do LSE Group, ecoou comentários feitos pela ASX anos atrás, dizendo que a tecnologia havia atingido um “ponto de inflexão” e “a ideia é usar a tecnologia digital para tornar um processo mais eficiente, suave, barato e transparente… e tê-lo regulamentado”.