Para Vicente Guimarães, fundador e CEO da empresa de análise independente VG Research, há duas formas de ganhar com ações. Uma delas é comprar os papéis e revender com lucro, quando (e se) as cotações subirem. “A outra maneira é por meio de dividendos, em que o investidor não se preocupa com a variação ou queda das cotações”, diz ele.
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Isso requer uma autêntica mudança de mentalidade. Segundo Guimarães, o investidor com um perfil de renda passiva deve encarar as quedas de preços como algo positivo, que lhe permitirá comprar mais ações pagando menos. “Em momentos de baixa da bolsa há uma oportunidade incrível de comprar boas ações que pagam dividendos”, diz. “Essa estratégia de investimentos garante mais previsibilidade.”
Setores rentáveis
As empresas escolhidas pela Hike têm valor de mercado elevado, retorno sobre o capital investido acima de 12% ao ano e nível de endividamento inferior a 2,5x a geração de caixa medida pelo Ebitda. Outro critério de seleção é a empresa distribuir pelo menos 40% dos lucros como dividendos. Ou seja, empresas que não precisam de muito capital para investir. “A manutenção de um total de pagamentos elevado reflete a ausência de novos projetos que possam comprometer o rendimento dos dividendos”, afirma.
No caso de setores intensivos em capital, onde a depreciação é elevada, uma margem de lucros robusta, por exemplo uma margem Ebitda acima de 40%, permite incluir empresas com um payout (o percentual de lucros distribuído como dividendos) menor, de 30% pelo menos.
Estratégia
Guimarães, da VG, avalia que uma estratégia vencedora de dividendos tem quatro pilares:
- Foque no longo prazo: dividendos são pagos uma ou duas vezes por ano. São raras as empresas que pagam dividendos mensais. Então, o investidor tem de ser paciente. “Uma carteira robusta de dividendo é construída ao longo dos anos, até décadas, mas o retorno é exponencial”, diz ele
- Reinvista os dividendos: use os dividendos para comprar mais ações, que vão pagar mais dividendos. O reinvestimento será responsável por 50% dos resultados no longo prazo. Em um estudo recente, o especialista americano Nick Maggiulli, diretor de operações da gestora Ritholtz Wealth, analisou dados das ações americanas entre 1871 e 2020. A rentabilidade nas quatro décadas entre janeiro de 1980 e janeiro de 2020 teria sido de cerca de 800% sem o reinvestimento de dividendos. Com o reinvestimento dos dividendos, o retorno seria de cerca de 2.200%, quase o triplo. A pesquisa revelou também que esse comportamento se repete em períodos mais curtos.
- Esteja no controle: Guimarães aconselha que o investidor compre suas ações em vez de investir em fundos. Mas para isso é preciso saber o que está fazendo. “Leia muito. Livros, relatórios de empresas e de casas de análise”, diz ele.
- Defenda-se da inflação: como o objetivo é a independência financeira por muitos anos, é preciso se defender da inflação. E há duas estratégias para isso. A primeira é buscar empresas cujos dividendos cresçam com o tempo. A segunda é que, mesmo durante a fase de renda passiva, após a acumulação, o investidor não use tudo o que recebe e siga reinvestindo.
As ações sugeridas pelos especialistas
Agora, veja as ações que a VG Research e a Hike Capital recomendam para quem quer receber bons dividendos em 2024:
1) Banco do Brasil (BBAS3) e BB Seguridade (BBES3)
As duas empresas recomendam o banco e a seguradora, vinculados ao mesmo grupo econômico. “Com um volume total de crédito financiado superior a R$ 1 trilhão em 2023, as ações do BB possuem caráter defensivo e são responsáveis pelas maiores distribuições de dividendos do setor bancário”, diz Carvalho. O payout é de 40%.
Segundo Guimarães, a BB Seguridade segue sendo uma excelente alternativa no setor de seguros. A empresa vem entregando resultados excelentes e tem uma política de dividendos atrativa o que tem garantido dividendos consistentes para o investidor
2) CPFL Energia (CPFE3)
As empresas de energia são clássicas pagadoras de dividendos. Possuem receitas relativamente estáveis e previsíveis, e vendem um produto essencial, a eletricidade. Para a VG, a CPFL tem apresentado melhorias consistentes na sua lucratividade e rentabilidade.
A Hike recomenda outra empresa de energia, a Cemig, que gera, transmite e distribui energia, atuando nas três frentes do setor. A empresa tem um percentual do lucro distribuído em dividendos de 50,43% e o DY projetado é de 8%. Já a Engie, líder em energia renovável no Brasil e maior empresa privada de geração de energia, está na carteira por oferecer um payout de 40% e DY projetado de 6%.
4) Klabin (KLBN11) e Celulose Irani (RANI3)
A Klabin, maior produtora e exportadora de papéis do Brasil, conta com um payout de 35% e Dividend Yield projetado de 6% a 10. Já a Irani, que figura entre as maiores empresas de papelão para embalagens do Brasil, tem um DY projetado de 7% e payout de 45%.
5) Petrobras (PETR4)
A Petrobras segue sendo uma boa alternativa no segmento de petróleo, apesar das incertezas quanto a uma intervenção maior do governo na gestão da empresa. Mesmo com o novo governo ainda não houve uma mudança significativa na política de dividendos e a companhia segue sendo muito lucrativa e com preços razoavelmente descontados em relação a este desempenho. A VG espera um dividend yield na casa dos 10% em 2024.