Em um dia, as ações da Americanas perderam 77,3% de seu valor, que correspondia a R$ 8,4 bilhões na época. Hoje, a varejista, em recuperação judicial, está avaliada em R$ 785 milhões.
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O rombo no fim se mostrou muito superior ao informado no dia. Chegou a R$ 43 bilhões e não afetou apenas a varejista. Prejudicou como um todo um setor da economia que já estava fragilizado pelo aumento dos juros no país e pelo período pós-pandemia, que traria uma nova onda de calmaria para as grandes marcas.
“Creio que não há uma relação direta entre o desempenho ruim das empresas de varejo com o caso das Americanas, já que o setor como um todo passa por desafios e mudanças estruturais”, afirma Carlos Honorato, professor da FIA Business School. “Porém, em situações como essa sempre há um ‘contágio sistêmico’, isto é, o risco de que outras empresas estejam fazendo as mesmas práticas “pouco ortodoxas” na contabilidade, o que gera aumento na desconfiança e no risco por consequência.”
Para Maria Fernanda Quelhas, analista da Warren Investimentos, o colapso afetou a percepção em relação ao setor. “Com a descoberta da fraude contábil, houve aumento da percepção de risco nos balanços. Isso tornou os bancos mais restritivos na concessão de crédito ao longo de 2023, principalmente, na modalidade de risco sacado, cujo reporte inadequado resultou no rombo. Com a menor exposição dos bancos ao produto, o custo de financiamento aumentou para as varejistas em geral”, afirma.
Com o cenário, varejistas de outros segmentos, como supermercados e vestuário, também registraram resultados negativos no período analisado. Entre os destaques negativos estão Marisa (AMAR3), Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) e Blau Farmacêutica (BLAU3), com perdas de 52,1%, 43,9% e 38%, respectivamente.
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Para Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos, o maior problema para essas companhias foi o aumento do custo do dinheiro após o colapso das Americanas. “Os credores ficaram muito mais detalhistas e minuciosos na hora de emprestar dinheiro para companhias do setor, o que tornou o dinheiro muito mais caro, afetando diretamente o desenvolvimento dessas empresas, que vivem de empréstimos”, explica.
Por outro lado, algumas companhias conseguiram surfar no momento conturbado, como foi o caso da C&A (CEAB3), que viu seus ativos subirem 236% no ano. No mesmo segmento da Americanas, as ações da Lojas Quero-Quero (LJQQ3) avançaram 47,3%.
O levantamento de dados relacionados às varejistas foi realizado por Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria.
Perspectivas
Natalia Sperati, sócia de estratégia da EY-Parthenon para varejo e bens de consumo para a América Latina, também acredita que será um ano mais positivo para o setor. “Para 2024, a tendência é um cenário mais positivo, tanto pela queda na sensibilidade de preço do consumidor quanto pela queda de juros”, diz. “Essa queda na sensibilidade possibilita um aumento nas compras por impulsos, sendo menos racional ao preço e mais preocupado com questões como qualidade e sustentabilidade. Já com a baixa da taxa de juros, os varejistas voltarão a investir e a oferta de crédito será menos custosa”.