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Caso o cenário seja confirmado nos próximos meses, a expectativa é de um aumento na demanda por gás natural, especialmente de GNL (liquefeito) importado para alimentar as térmicas.
A situação, contudo, está longe de indicar no momento uma crise hídrica como a vista em 2021 que resultou em forte acionamento das termelétricas e alta de custos para toda a cadeia, ressaltaram os agentes. Por enquanto, eles avaliam com que o despacho das térmicas deve ocorrer principalmente para garantir a demanda por energia nos horários de ponta, a princípio limitando impactos.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinou o acionamento de termelétricas nos últimos meses de 2023 em função do aumento significativo da carga, em meio às elevadas temperaturas. Foram acionadas usinas mais flexíveis, com tempos de partida e parada mais curtos, para atender a chamada “ponta de carga”.
De setembro de 2023 a janeiro deste ano, o despacho termelétrico atingiu média de aproximadamente 8.745 megawatts (MW), informou o operador à Reuters. Não foram fornecidos dados para comparação com o ano anterior.
Porém, as chuvas em hidrelétricas têm decepcionado neste ano, afirmam geradores, e uma projeção divulgada na semana passada pelo ONS para a afluência até julho, podendo ser a menor em toda série histórica, ligou o alerta para a possibilidade de maior despacho.
“Este ano a gente acredita que o segundo semestre tem uma possibilidade de a gente vir a ser acionado (com a Celse), e temos expectativa de tomar algumas cargas (de GNL) para poder fazer frente a essa expectativa de despacho”, afirmou Lopes.
Para uma fonte ligada ao complexo termelétrico GNA, um dos maiores do país, situado no porto fluminense de Açu, o cenário hidrológico não está desfavorável em 2024, mas não permite trabalhar com folga. “Acredito sim que as térmicas venham a ser despachadas com mais frequência que no ano passado, mais para o segundo semestre”, disse.
O porto de Açu conta um terminal de regaseificação de GNL para atender ao complexo da GNA, joint venture entre a Prumo Logística, BP, Siemens e SPIC Brasil.
Pensar o Modelo
Xisto Vieira, presidente da associação de geradoras termelétricas (Abraget), avaliou que, se confirmada a possibilidade de vazões muito baixas apontada pelo ONS, o país “evidentemente necessitará bastante de despachos das térmicas”.
Marcelo Mendonça, diretor técnico-comercial da associação das distribuidoras de gás (Abegás), afirmou que o cenário volta a mostrar a importância das térmicas para garantir a segurança do abastecimento elétrico e a necessidade de se pensar um modelo que dê maior previsibilidade ao segmento, inclusive para a compra de GNL.
O ONS deve avaliar o nível dos reservatórios ao final do período úmido, em abril ou maio, para decidir se acionará térmicas de forma antecipada, com base nos modelos matemáticos ou em uma postura mais conservadora do governo, com aprovação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), disse Celso Dall’Orto, head de Planejamento e Inteligência de Mercado da consultoria PSR.
“Para chegar nos números do ONS, as premissas precisam ser bem pessimistas, uma carga mais elevada, vazão realmente bem baixa, as renováveis não performando bem”, disse Dall’Orto.
Segundo o ONS, em fevereiro a carga nos horários de ponta tem exigido mais requisitos de potência do que o verificado desde setembro do ano passado, mas esse atendimento tem sido feito com as hidrelétricas.
“Diferente dos demais períodos, toda a potência necessária para atendimento a ponta de carga está sendo suprida com geração hidráulica, predominantemente das usinas situadas no Norte”.
“A tendência do balanço brasileiro é ficar mais seguro, mais confortável. Se a gente sair do período úmido com conforto de reservatórios, a tendência é de se manter uma importação pequena de GNL no horizonte de 12 a 18 meses”.