4 empreendedores estrangeiros que apostaram no Brasil (e se deram bem)

27 de fevereiro de 2024

O Brasil tem se mostrado um ambiente propício para empreendedores estrangeiros. Apesar da inflação e da taxa de juros ainda estarem longe do que é esperado para o país, o número de imigrantes que se tornaram Microempreendedores Individuais (MEI) cresceu 73% entre 2019 e 2023, de acordo com o estudo do Sebrae, com base em dados da Receita Federal de maio de 2023.

É impossível prever exatamente quantos dos 74,2 mil MEIs estrangeiros realmente terão sucesso em terras tupiniquins, mas existem grandes exemplos de negócios criados por empresários de outras nacionalidades que tiveram muito sucesso por aqui.

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Pensando nisso, a Forbes conversou com quatro empreendedores que deixaram sua terra natal para apostar no mercado brasileiro e tiveram bastante sucesso nessa escolha, apesar dos desafios encontrados no meio do caminho.

Por que o Brasil?

A norte-americana Emily Ewell, CEO e cofundadora da femtech Pantys, chegou ao país por meio de uma transferência em sua então empresa, uma multinacional farmacêutica. Porém, ao colocar os pés por aqui, percebeu que existiam diversas possibilidades para empreender, já que o país conta com um ecossistema completo para novas empresas.

“O país tem um ecossistema desenvolvido de startups e de empreendedorismo e também é um dos poucos lugares no mundo que conta com uma cadeia de inovação de várias indústrias. Então, no nosso caso, tínhamos no mesmo local a matéria-prima, a fabricação e até a parte de branding e comunicação”, afirma Ewell.

Além disso, ela diz que, como o mercado brasileiro é grande, existe uma grande oportunidade de lançar novidades e testar o público, para depois levar a ideia para outros lugares. “Acredito que essa combinação de fatores me deu a coragem de sair do mundo corporativo e empreender no Brasil”, diz a empresária.

Ghislaine Dubrule, CEO e cofundadora da Tok&Stok, saiu da França junto ao seu marido, Régis Dubrule, em um período complicado, onde o desemprego batia à porta. Na época, o Brasil aparecia como um dos países mais promissores economicamente e atraente devido à cultura, ao clima e idioma.

“Quando chegamos, em 1975, tivemos dificuldade em mobiliar nossa casa porque tudo que era bonito, era caríssimo e nada era de pronta-entrega. Com isso, após algumas experiências, Régis observou que o mercado de móveis no Brasil era muito enxuto”, conta Ghislaine. “Então, começamos a pensar em móveis de pronta-entrega que o cliente levaria, pagaria na hora e montaria sozinho.”

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O francês Nicolas Geiger, CEO da L’Occitane Group, sempre viu o Brasil como um país com grande potencial. Não é para menos que ele foi o responsável pela criação da L’Occitane au Brésil, marca franco-brasileira feita com produtos nacionais e a expertise francesa. “Eu quis comprar o desafio de criar uma marca com propósito diferente no Brasil que usa nossa expertise francesa de cosméticos num mercado com grande potencial, e usa a riqueza da biodiversidade brasileira para encantar o mundo com produtos diferentes, únicos e surpreendentes”, diz Geiger.

Desafios

Susanna Marchionni, cofundadora e CEO da Planet Smart City, empresa líder global em Cidades Inteligentes Inclusivas, é italiana de nascença.

Para ela, um dos maiores desafios de adaptação foi o cultural. “Ser estrangeiro, no geral não é simples, mesmo que italianos e brasileiros tenham diversos pontos em comum, ainda sim são culturas diferentes, com diferentes leis, costumes e burocracias”, avalia a empresária.

Na visão de Ewell, da Pantys, a maior dificuldade da companhia foi penetrar no mercado. “Nosso maior desafio foi adentrar em um mercado pouco explorado no Brasil e ainda lançar um produto que traz uma mudança de hábito na vida do consumidor. Para superarmos isso, trabalhamos muitos conteúdos educacionais, com intuito de tentarmos inspirar essa mudança de vida, com um produto mais sustentável”, afirma.

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Para Geiger, do L’Occitane Group, a burocracia também é um ponto de atenção. “O Brasil é um país com um nível de burocracia alto e o universo fiscal é, por vezes, desafiador. Por outro lado, o nível de qualidade dos profissionais e o nível de paixão que eles entregam para uma empresa que os trata bem é fantástico”, diz ele.

Para Dubrule, da Tok&Stok, a concorrência, problemas organizacionais e variabilidade na operação das lojas foram os maiores desafios. “Inicialmente, a concorrência vinha de imitações por compradores e fornecedores, mas agora é mais pulverizada”, conta a executiva. “Outra questão foi o rápido crescimento em pouco tempo de empresa, que trouxe impactos no operacional, exigindo maior rigor e organização. Além disso, a padronização das lojas e a definição clara das funções de cada cargo foram cruciais para a eficiência operacional e a percepção da marca pelos consumidores.”

Dicas para os iniciantes

Na visão de Marchionni, da Planet Smart City, existem diferenças substanciais entre o Brasil e a Europa e é preciso ter isso em mente. “É importante lembrar, falando de europeus, que a diferença de idade média entre a Europa e o Brasil influencia na mentalidade das pessoas. O Brasil é um país jovem, ao contrário da Europa, e isso significa que há uma forma de pensar totalmente diferente, mantendo o otimismo e os sonhos. É importante adaptar-se a essa mentalidade mais jovem e positiva”, afirma.

Pensando nas questões burocráticas, Dubrule aconselha sobre os impostos. “Existem diversas oportunidades no Brasil, mas elas precisam ser bem dimensionadas, pois se trata de um país com enormes diferenças sociais. Cada um dos estados tem regras fiscais distintas e complicadas e, em especial, o ICMS é um imposto muito complexo”, afirma. “Então, uma sugestão para quem inicia uma operação por aqui é limitar a operação em um só estado em um primeiro momento”.

Ewell, da Pantys, segue a mesma linha em sua dica. “É muito importante ter pessoas ao seu redor que conhecem bem o sistema legal e as burocracias contábeis, porque o Brasil tem muitas complexidades que, para pessoas que entram sem esse conhecimento, torna-se um grande desafio”, diz.

Além disso, ela comenta sobre o sistema de pagamentos do país. “É importante ter em mente que o Brasil é um país que tem muitos pagamentos a prazo, com um maior tempo de espera para receber as vendas, o que se torna um desafio para o fluxo de caixa”, complementa.

Para Geiger, é importante lembrar dos desafios, mas nunca esquecer do lado positivo. “O Brasil nunca será o país mais simples para fazer negócios, mas o tamanho do mercado e a energia fantástica das pessoas fazem valer muito o esforço. É importante não perder de vista o longo prazo, até porque pode demorar para desfrutar os resultados. Mas quando eles vêm, ficam”, diz.