Acessórios para plantar e usar cannabis movimentam bilhões

4 de março de 2024

Giorgio Volonghi, cofundador da Aleda

A maconha de uso recreativo, apesar de não ser legalizada no Brasil, movimenta um mercado bilionário, que cresce a um ritmo acelerado no país desde os anos 2010, com a proliferação de headshops, growshops e marcas que comercializam acessórios ligados ao consumo da erva. São papéis de seda, piteiras, estufas de cultivo, fertilizantes, bongs e materiais para iluminação, entre uma grande variedade de produtos. Os usos medicinal e industrial (como no setor têxtil) não entram nessa conta.

A regulamentação da cannabis recreativa não tem data para acontecer no Brasil, mas é possível dimensionar o potencial do mercado a partir de uma recente pesquisa do Datafolha indicando que 45 milhões de pessoas já teriam feito uso da substância ao menos uma vez na vida. Globalmente, segundo dados da consultoria Grand View Research, foram movimentados US$ 66 bilhões em 2022.

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O crescimento das headshops e growshops ocorre dentro dos limites da legislação atual, que permite a comercialização de acessórios e equipamentos associados à substância.

Em 2006, os irmãos Giorgio e Renato Volonghi fundaram a Aleda, que inovou ao comercializar o primeiro papel para fumar feito de celulose no mundo. Já no primeiro ano, a empresa fornecia para 50 países. Hoje é uma das sete marcas debaixo do guarda-chuva da HBT, que tem no portfólio 46 produtos. “Planejamos entrar no setor medicinal e no comércio de alimentos com cânhamo assim que a legislação permitir”, diz Giorgio.

Para Fabrício Penafiel, sócio-fundador da Bem Bolado, hoje o consumidor está menos intolerante e mais conscientizado. “O lifestyle canábico está em alta”, diz ele, que projeta um crescimento de 40% para este ano sobre os R$ 40 milhões que faturou em 2023.

O posicionamento das marcas também é essencial para que as marcas se destaquem da concorrência e sejam referência dentro e fora do país – é o que acredita Maria Eugênia Riscala, especialista no mercado da cannabis e sócia da consultoria Kaya Mind. A receita foi seguida pela Squadafum, principal marca brasileira de bongs, dichavadores, cinzeiros e cachimbos.

“Nos próximos dez anos, quero atender a todos os grandes mercados de maconha legal”, diz Fernando Henrique Frazi, sócio da marca que hoje exporta para Espanha, Portugal, Itália, Chile e Canadá, entre outros, e planeja expandir a operação em 2024 para Tailândia, Alemanha e Colômbia. Parte dos 80 produtos do portfólio da Squada são fabricados no Brasil, parte é importada de China, Índia e Indonésia.

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“Não quero correr riscos nem fazer nada de trás para a frente. Quero trabalhar nesse mercado de forma regulamentada, correta, e poder vender não só a flor, mas extrações, sementes… Investir no cânhamo para a produção de tecido e de blocos para construção civil – as possibilidades são enormes”, diz Frazi.

Os envolvidos no ecossistema canábico avaliam que a legalização traria um crescimento exponencial aos players. Segundo projeções da Kaya Mind, que em dezembro passado publicou um anuário com informações sobre mais de 550 heads e grows e mais de 430 marcas, o futuro novo mercado movimentaria entre R$ 7 bilhões e R$ 51 bilhões por ano.

“Desde o ano 2000, houve um crescimento muito maior do que imaginávamos na oferta de produtos de headshop. As marcas estão cada dia inovando com produtos e tendências, coisa que antigamente só viamos em mercados internacionais”, conta Willian Jambeiro, sócio ao lado de seu pai, Evilasio, da Villa’s Distribuidora, a principal fornecedora de produtos de headshops e tabacarias do Brasil.

Com faturamento de R$ 50 milhões em 2023 e projeção de R$ 150 milhões em 2024, por suas mãos passam mais de 3 mil tipos diferentes de produtos, número 20 vezes maior que nos anos 90, segundo ele. Pautas como a descriminalização da maconha, prestes a acontecer no STF, e os avanços do status da erva nos EUA e outros países ajudam a desmistificar um tema que era – e em boa parte ainda é – tabu.

“As growshops tendem a crescer, talvez chegar ao ponto em que as headshops estiveram na década de 2000”, prevê Jambeiro. Isso vai depender da legislação sobre o autocultivo, um direito garantido por habeas corpus atualmente a cerca de 5 mil brasileiros. Esse número de cultivadores e de associações de pacientes que plantam maconha cresce a cada ano, e com ele aumenta também a demanda por fertilizantes, substratos, luzes e materiais específicos que até há poucos anos eram importados, raros e caros.

Nos últimos seis anos, no entanto, notou-se um boom de marcas brasileiras de produtos para cultivo de cannabis. O nicho de fertilizantes, por exemplo, comercializa aproximadamente 150 mil litros por ano, fornecidos por oito marcas que disputam o setor, quase todas elas de origem nacional, segundo João Lordello, fundador da SmartGrow, uma das maiores marcas nacionais. Fernando Velho, CEO da Flowermind Co., conta que para se diferenciar de seus concorrentes, ouve o que os clientes pedem. “Há um crescente interesse e uma crescente demanda por produtos que não agridam a saúde e o meio ambiente”, exemplifica.

Para entender os termos

Growshop: loja de artigos para cultivo de cannabis
Headshop: loja de artigos para fumar, parecido com tabacaria, mas conta também com artigos específicos para fumar cannabis
Tabacaria: loja de artigos para fumar
Cannabis: é o nome científico da maconha
Cânhamo: variedade não psicoativa da cannabis, que pode ser matéria-prima para o desenvolvimento de produtos medicinais ou industriais
Bong: também conhecido como purificador ou cachimbo de água, é um aparelho utilizado para fumar qualquer tipo de erva, normalmente cannabis