Considerando a relevância da taxa de juros para os rumos da economia, é importante que você compreenda o quanto as decisões da Política Monetária influenciam suas finanças pessoais.
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O que é a taxa Selic
A taxa Selic balizadora de todas as outras taxas praticadas no país. O Banco Central utiliza a taxa Selic como seu principal instrumento de política monetária no controle da inflação.
Sendo assim, o controle da taxa Selic envolve um equilíbrio de forças delicado e complexo, através do qual o Banco Central controla o volume de dinheiro em circulação na economia e, com isso, a inflação.
A Selic alta encarece o crédito e inibe o consumo, desaquecendo a atividade econômica, enquanto a Selic em queda favorece o investimento na economia real, na produção de bens e serviços, acelerando o crescimento econômico.
Como é definido o valor da taxa Selic
O valor da Selic é definido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, composto por 8 diretores do BC e, atualmente, presidido por Roberto Campos Neto.
As diretrizes da política monetária são definidas a partir dessas análises e, após dois dias de reunião, é divulgada a taxa Selic para o próximo período.
O Banco Central também divulga em seu site toda segunda-feira, as projeções para a Selic, através do Boletim Focus. Essas projeções são resultado das expectativas do mercado, coletadas semanalmente junto a 140 instituições financeiras.
O que muda no mercado quando a Selic cai ou sobe?
O movimento da Selic é determinante para o ritmo da atividade econômica, e compreender quais as principais consequências de sua alta ou queda, vai te ajudar a fazer um planejamento financeiro pessoal mais consistente.
Selic em ciclo de alta
- desaceleração da economia, queda dos níveis de emprego
- alta dos juros em empréstimos e financiamentos, aumento dos juros dos cartões de crédito e cheque especial
- redução do consumo impactando todo o ecossistema de produção de produtos e serviços
- empresas reportando prejuízos ou lucros abaixo do esperado, impactando valor das ações
- redução do fluxo de investimentos estrangeiros no mercado interno, com fuga de capitais e aumento do valor do dólar
Selic em ciclo de baixa
- crescimento da atividade econômica, melhora dos índices de emprego
- taxa de juros mais baixa, propiciando maior acesso ao crédito
- maior volume de dinheiro circulando na economia, mediante o aumento do consumo (maior liquidez)
- empresas apresentando melhores resultados, valorização das ações e aumento da atratividade da renda variável
- aumento do fluxo de investidores estrangeiros, trazendo dólares para o país.
Quais os investimentos ligados diretamente à Selic?
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Além do Tesouro Selic, há inúmeros títulos privados cuja rentabilidade acompanha a variação da Selic: LCIs, LCAs e CDBs pós-fixados com base no CDI. Esses títulos são mais atrativos nos momentos de Selic em alta, contudo, o fato da taxa estar em ciclo de queda, não significa que você deva abrir mão totalmente desse tipo de ativo. Como sempre recomendo por aqui, a diversificação e o balanceamento é que irão assegurar a saúde financeira no longo prazo.
Ao fazer seus aportes é fundamental avaliar a taxa, as projeções e, principalmente, se a rentabilidade real, descontados impostos, taxas e inflação do período, é adequada aos seus objetivos financeiros.
A taxa Selic influencia a bolsa de valores?
Quando a Selic está em queda, o crédito fica mais barato para pessoas físicas e jurídicas. Com juros menores, o consumidor volta a comprar fazendo uso de crédito, e as empresas voltam a crescer, o que gera maiores resultados e valorização das ações.
Esse fluxo de investidores indo para a renda fixa faz com que haja mais dinheiro aplicado e menos dinheiro disponível na economia real, financiando as empresas para que produzam, ou seja, a atividade econômica cai, o resultado financeiro das empresas é menor, e com isso, suas ações tendem a desvalorizar.
Mas, obviamente, este é apenas um racional básico do mercado. A bolsa de valores tem inúmeras outras variáveis, além da elevação ou queda da Selic, que podem influenciar o seu resultado ao longo do tempo.
Por exemplo, produtores de bens de consumo e varejistas podem se beneficiar da queda da Selic, na medida em que a baixa propicie o reaquecimento da economia. Por outro lado, bancos credores de empresas, tendem a melhores resultados com a Selic em alta, já que seu spread aumenta neste cenário.
Selic e IPCA estão interligados?
A relação entre esses dois indicadores é direta. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) resulta do cálculo periódico da inflação feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse cálculo ocorre a partir do acompanhamento dos preços de uma cesta de produtos e serviços em grandes regiões metropolitanas.
Então, considerando que a taxa Selic controla a quantidade de dinheiro em circulação e os níveis de consumo, garantindo que a inflação fique próxima da meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), fica claro que os dois indicadores são interdependentes.
Ao escolher investimentos atrelados à Selic ou ao IPCA, você precisa avaliar as tendências macroeconômicas expressas pela política monetária. Dessa forma, se o seu investimento é para longo prazo, sua atenção à variação do IPCA deve ser maior do que à taxa Selic, reduzindo assim o seu risco de perda do poder de compra.
Como investidor, seus desafios mais importantes são: manter uma carteira equilibrada conforme suas metas de curto, médio e longo prazo, mitigar perdas fazendo rebalanceamentos compatíveis com as projeções quanto à política monetária e, o mais importante, manter a disciplina dos aportes.
Lembre-se que ciclos econômicos vêm e vão, mas no longo prazo, o seu sucesso será definido pela constância com que aportou se favorecendo do poder dos juros compostos.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.