Guillen: expectativa de inflação acima da meta indica Selic contracionista

7 de março de 2024
Pedestres caminham em frente ao prédio do Banco Central, em Brasília - Foto: Amanda Perobelli - Reuters

Os indicadores futuros organizam as expectativas do BC.

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta quinta-feira que as indicações da autoridade monetária de que a taxa terminal do atual ciclo de cortes de juros deve manter a Selic em um nível contracionista têm relação com as expectativas de inflação desancoradas.

“A nossa indicação tem sido de que a gente vai para uma taxa terminal contracionista, está bastante relacionado com expectativas desancoradas, você olha um Focus de 3,5%, como a gente tem colocado na comunicação, é um motivo de preocupação”, afirmou.

“Você tem experiência na literatura, olha para outros países, olha para o passado, qual é o impacto de expectativas desancoradas: aumenta o custo de ‘welfare’, você tem que manter juros mais contracionistas para levar a inflação para a meta.”

Em conferência do Goldman Sachs, em São Paulo, Guillen destacou que as expectativas de inflação de longo prazo estão em 3,5%, acima da meta central de 3%, há 30 semanas, o que é fator de preocupação para o BC.

“Você vai criando um farol iluminando para o lado errado e isso vai se perpetuando em reindexação de salários, impactos sobre definição de preços”, disse.

Indicações futuras

Guillen afirmou, ainda, que o “forward guidance” do BC — que tem sinalizado cortes de 0,5 ponto percentual nas reuniões à frente do Comitê de Política Monetária — é condicionada ao cenário, e será avaliada a cada reunião.

Para ele, essa sinalização futura tem a vantagem de gerar transparência e coordenar expectativas, tendo evitado desentendimentos em avaliações de mercado ao longo do ciclo de política monetária.

Por outro lado, Guillen afirmou que o uso do “forward guidance” reduz o grau de liberdade de atuação do Banco Central.

De acordo com o diretor, o BC tem considerado que indicar uma taxa Selic terminal — patamar dos juros básicos ao fim do ciclo de cortes — geraria efeito negativo e traria mais ruídos.

Ele argumentou ainda que a tarefa principal do BC não é reduzir a volatilidade com sua atuação, e sim atingir as metas de inflação.

“O que está acima de tudo é o compromisso com o atingimento da meta. E aí a gente vai conduzir a política monetária para atingir a meta, seja qual for a (taxa de juros) terminal, qual a trajetória… O que a gente vai fazer é com esse objetivo, vamos caminhando e olhando os dados”, disse.

A fala de Guillen se diferencia de declaração feita nesta semana pelo diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, para quem a decisão da autarquia por manter o “forward guidance” se deve à avaliação de que a perda de liberdade na política monetária é compensada pela redução da volatilidade no mercado.

Em relação à atividade econômica, Guillen disse que reformas estruturais feitas nos últimos anos podem ter aumentado o PIB potencial do Brasil. Para ele, a inflação menor e o crescimento maior em 2023 foi uma combinação mais positiva do que se esperava.

Guillen disse ainda que o BC segue monitorando possíveis pressões no mercado de trabalho sobre a inflação do setor de serviços.

Em um dos pontos da apresentação, ele apontou que os núcleos de inflação — que desconsideram itens mais voláteis — estão indicando alta recente em serviços intensivos em mão de obra.

Na reunião de janeiro do Copom, quando a taxa básica de juros foi cortada em mais 0,50 ponto percentual, a 11,25% ao ano, o BC debateu a dinâmica do setor de serviços, apontando que um mercado de trabalho mais apertado pode retardar a convergência da inflação para a meta, segundo a ata da reunião. O Copom voltará a se reunir em 19 e 20 de março.