A interseccionalidade, um termo cunhado pela estudiosa Kimberlé Crenshaw, foi inicialmente definida como as formas únicas de opressão que as mulheres pretas enfrentam. Agora, o termo se tornou mais popular e é conceituado como as experiências enfrentadas por aqueles com identidades que se assemelham. Um termo mais recente, “misogynoir” ou “misoginia preta”, cunhado por Moya Bailey, descreve “o ódio, a antipatia, desconfiança e preconceito específicos dirigidos às mulheres pretas”. Deste modo, uma educação e os estudos anti-racistas devem explorar esta experiência única sofrida por mulheres pretas, como ela se manifesta e como pode ser mitigada.
Ao longo dos 30 anos de carreira de R. Kelly, várias mulheres e meninas, principalmente negras e menores de idade, fizeram alegações de que ele abusava delas sexualmente. Apesar do crescente número de acusações feitas, só recentemente, quando o documentário “Surviving R. Kelly” foi lançado, essas histórias ganharam credibilidade. Em geral, mulheres e meninas pretas que compartilham experiências de abuso, trauma e agressão são amplamente evitadas, criticadas e ignoradas. Essas experiências são questionadas, escrutinadas e dissecadas mais do que qualquer outro grupo étnico.
Em julho, um vídeo com a rapper Megan Thee Stallion com o que parecia ser ferimentos no pé quando ela foi detida pela polícia emergiu nas redes sociais. Em agosto, ela compartilhou que, de fato, foi baleada no pé pelo rapper Tory Lanez. Após o compartilhamento dessas informações, uma enxurrada de críticas dirigidas a Megan The Stallion se seguiu nas redes sociais, com muitos questionando a veracidade de sua história. Alguns até a rotularam de “dedo duro” por nomear publicamente Lanez como seu atirador.
Apesar da riqueza, da fama e da notoriedade que Megan The Stallion acumulou –principalmente os últimos meses com os hits “Savage”, com Beyoncé, e “WAP” com Cardi B–, a quantidade de comentários ásperos e insensíveis dirigidos a ela é um doloroso lembrete de que a “misogynoir” está viva, mesmo em Hollywood. E, aparentemente, não importa quantidade de prestígio, dinheiro ou fama das vítimas.
Inclusive, o dinheiro não impede que as mulheres pretas vivam a misoginia diariamente. Se aquelas em posições de poder e privilégio não estão protegidas desse tipo de racismo único, então, que proteção as mulheres pretas comuns realmente têm?
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Mas o componente mais crítico para combater a misoginia preta é ouvir as mulheres negras. Quando as mulheres negras compartilham uma experiência, em vez de questioná-las ou envolver racismo e política no assunto, é fundamental simplesmente ouvir. Também é importante evitar tentar desviar a conversa para que o foco seja os brancos e ficar na defensiva, como na expressão “nem todo branco é racista”. Isso é válido como exercício profissional com as colegas negras todos os dias.
As vozes das mulheres pretas são frequentemente abafadas e silenciadas. Pergunte a si mesmo o que você está fazendo atualmente na sua empresa para ajudar as mulheres negras ao seu redor. Por fim, considere como você está usando seu privilégio, acesso e oportunidade para erradicar esse racismo único dirigido a essas mulheres, pois ele mostra suas garras a todo momento em nosso cotidiano.
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