Lisiane Lemos avisa: “empoderar o outro é um ato político”

25 de novembro de 2020
Divulgação

Lisiane Lemos trabalha na área de marketing digital do Google

Aos 31 anos, Lisiane Lemos mostra-se muito segura de si e fala no tom de alguém que realmente sabe o que quer. Gaúcha de Pelotas, ela quase se tornou advogada, mas não resistiu ao apelo do mundo corporativo e, sobretudo, da tecnologia. Hoje é especialista em transformação digital trabalhando na área de marketing digital do Google – depois de uma carreira de cinco anos e meio na Microsoft.

“Chamamos de transformação digital porque transformamos pequenos, médios e grandes negócios a partir de e-commerce, varejo e campanhas online. Paralelamente tenho uma carreira de palestrante, ajudando pequenos empreendedores a utilizarem tecnologia no dia a dia para inovar em seus negócios”, explica. E resume: “Sou uma tradutora do mundo digital e corporativo para o cotidiano”, resume.

Ela conta que entrou na Microsoft por acaso, informando pessoas conhecidas sobre seus desejos profissionais e participando de processos seletivos. Então teve a oportunidade de trabalhar tanto com órgãos do governo quanto com grandes empresas da área siderúrgica, da construção, de óleo e gás. “Aprendi muito porque implicava em modernizar estruturas e transformar a cultura das empresas”, recorda.

Houve também o período de seis meses, em 2013, quando morou em Moçambique atuando como diretora de uma ONG, cuidando de expansão e desenvolvimento organizacional. Segundo ela, a experiência africana a fez ver o Brasil como um país extraordinário na cultura, pluralidade, liderança feminina e inovação tecnológica. A experiência africana foi tão estimulante que ela estava pronta para outra temporada de vida e trabalho este ano, desta vez em Angola. A pandemia cancelou o expediente.

Mas o sonho não acabou e, assim que for possível, Lisiane pretende morar por uns tempos nos Estados Unidos. Por que? “Porque as sedes das grandes empresas de tecnologia estão lá. Então, quero trabalhar onde as coisas são projetadas, criadas e desenvolvidas. E depois voltar e implementar tudo em meu país”, responde certeira.

“O meu primeiro foco é a carreira. O segundo é ver uma transformação de diversidade no mundo corporativo, provar que com oportunidade podem aparecer várias ‘Lisianes’ escondidas pelo Brasil”, declara. Por isso está envolvida com ações sociais relacionadas à igualdade racial e de gênero.

Ela vai direto na estatística: “Cinquenta e seis por cento da população brasileira é preta ou parda e existe um campo imenso a ser preenchido no mercado de tecnologia. Precisamos de programadores, engenheiros, vendedores…”, faz questão de frisar. Ao mesmo tempo, lembra que é preciso estimular tanto as mulheres quanto os jovens negros para esse tipo de formação. “Quando você empodera o outro, é um ato político”, avisa.

Lisiane faz parte do Grupo Mulheres do Brasil, que promove o protagonismo e a liderança feminina e da ONG Rede de Profissionais Negros. Este coletivo, focado no mundo corporativo, levou Lisiane até a ONU, onde foi convidada por Jamil Nadal, chefe do Fundo de População da organização no Brasil, para participar do conselho da agência.

“Eu sempre soube o que quis”, diz Lisiane orgulhosa. “Estabelecer laços, construir uma reputação e sempre pensar na minha jornada de responsabilidade para abrir portas é uma grande chave do sucesso”, conclui sem falsa modéstia.

Ah, faltou dizer que ela também se orgulha em possuir um network poderoso: “Se me perguntam como faz para chegar no Papa, é muito fácil. O WhatsApp e cinco minutos”.

E também gosta de ir para a cozinha com o marido chef: “Mas não cozinho nada. Eu só corto tomate, pico cebola, alho, salsinha… E como!”.

A seguir, Lisiane Lemos, #MulherdeSucessoResponde

Donata Meirelles: Qual seu maior exemplo de mulher de sucesso?

Lisiane Lemos: Minha mãe. Ela se formou arquiteta, fez especialidade e pós em química, pós-doutorado em engenharia civil e PhD em patrimônio material. Hoje é professora de geometria descritiva, patrimônio material e história afro-brasileira. Ela fez duas pós-graduações cuidando de dois filhos e com o marido trabalhando em outra cidade. Ela nos criou para termos a vida que desejamos. E me passou esse legado. Penso também no impacto que ela teve na sociedade, em nossa cidade, Pelotas. Para mim isso é um sucesso absoluto.

DM: Qual a sua ideia de felicidade no trabalho?

LL: Ter um trabalho que me possibilite aprender todos os dias. Trabalhar com pessoas mais inteligentes e mais competentes do que eu e que, ao mesmo tempo, estejam abertas para aprender comigo e me ensinarem. Um trabalho que tenha impacto na sociedade, ser uma tradutora tecnológica para as pessoas. Felicidade é trabalhar com tecnologia, digitalizando esse país.

DM: Eu achava que sucesso era… e descobri que sucesso é…

LL: Achava que sucesso era dinheiro e descobri que é transformar a vida das pessoas. Dinheiro é a consequência. Ainda bem, porque ele me possibilita comprar sapatos (adoro!), viajar e estudar. Sucesso, acima de tudo, é ouvir uma pessoa dizer que você mudou a vida dela com o seu trabalho.

DM: Depois da pandemia qual será a mudança mais significativa na sua área de atuação profissional?

LL: A pandemia veio para me lembrar do meu grande sonho no momento que é ter uma vivência nos Estados Unidos, trabalhando em uma empresa de tecnologia e construir uma jornada como conselheira de administração. Também que minha família é o alicerce para eu poder voar e realizar esses sonhos. E me mostrou que sou capaz de navegar na adversidade. Eu naveguei bem e consegui ficar em paz.

DM: Se você pudesse escolher um superpoder, qual seria?

LL: Ser onipresente e poder fazer inúmeras atividades ao mesmo tempo. E ainda poder estar com as minhas amigas.

DM: Que tipo de hábito ou exercício você recomenda para desligar ou aliviar sua mente?

LL: Sou uma musa fitness em desenvolvimento. Gosto de treinar todos os dias. É o momento em que eu desligo. Sem boleto, sem clientes, sem marido… Apenas contar o número de repetições. Supero meus próprios limites sendo competitiva comigo mesma.

DM: Qual mensagem você gostaria de deixar para as próximas gerações?

LL: Sonhe com aquilo que você pode ver. Escreva seu sonho em um papel e coloque em um lugar onde você veja todos os dias, para saber porque você está levantando. E também uma foto da sua família, para saber para quem você está construindo tudo. Quando vemos o nosso grande sonho, temos uma visão além do alcance.

Com Mario Mendes e Antonia Petta

Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.

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