No entanto, foi em um contexto anterior ao coronavírus que Carolina Mendes, ainda como universitária, enxergou todo o potencial do setor e decidiu mudar os planos de sua vida fundando a gal, (assim mesmo, com letras minúsculas e vírgula), a primeira rede agregadora de salões de beleza do mundo.
“Pela primeira vez, eu vi a oportunidade de construir outras realidades”, recorda Carolina. “Comecei a pensar diariamente em algum projeto de startup que atendesse o público feminino.” Sua ideia, no início, foi um aplicativo de agendamento online, onde seria possível marcar atendimentos médicos e até horários para cortar o cabelo. Porém, ao estudar e observar o mercado, a jovem percebeu que os salões tinham um leque muito maior para ser explorado. Conversando com pequenos empreendedores da área, descobriu algumas dificuldades recorrentes e decidiu criar a LaPag, uma empresa de maquininhas que transferiria os pagamentos dos salões de beleza automaticamente para cada prestador de serviço.
“O aplicativo nasceu com a ideia de facilitar a vida dos empreendedores. Com ele, não seria mais preciso fazer transferências bancárias manuais todo mês”, explica ela. No entanto, embora a ideia fosse válida – e até muito esperada pelos donos dos salões -, Carolina tinha apenas 22 anos e ainda estava na faculdade, sem dinheiro para investir. “Eu sempre gostei de fazer brigadeiro, então comecei a vender na faculdade para arrecadar fundos para o meu negócio.”
Em pouco tempo, duas surpresas aconteceram em sua vida: primeiro, conseguiu juntar uma boa renda com seus chocolates. Em segundo, mas não menos importante, conquistou um forte investimento para iniciar a LaPag. Renato Freitas, fundador da 99, decidiu embarcar na ideia em 2016. “Justamente o primeiro empreendedor que me inspirou”, destaca ela.
COMO UMA AGREGADORA FUNCIONA?
O modelo de negócio criado por Carolina é curioso. Ao selecionar algum salão de beleza para investir, a gal, inicia o processo de padronização do espaço, oferecendo treinamento com profissionais da área e reformas, além de colocar em prática metodologias de crescimento e gestão financeira. Resumidamente, fornece aos parceiros uma infraestrutura especializada. E, por mais semelhante que possa parecer, isso não tem nada a ver com modelo de franquias. “Os salões já existem, nós não viramos sócios. Apenas investimos em melhorias e cobramos uma taxa de cerca de 10% sobre a receita mensal de cada unidade”, explica ela, ressaltando que esse valor pode mudar de acordo com os resultados de cada empreendimento.
O sistema inovador pareceu agradar tanto o setor de beleza como o financeiro. Mesmo em tempos de pandemia, a empresa já conta com 52 funcionários e 30 salões de beleza associados na cidade de São Paulo. Parte desse sucesso é resultado das ações para contenção de crises durante o coronavírus. “Organizamos doações, rifas, vaquinhas e até um sistema de créditos para que os consumidores pudessem comprar pacotes promocionais válidos por um ano nos salões. Todo um ecossistema unido para que nossos parceiros sobrevivessem.” Coincidência ou não, os salões gal, performaram, em média, 30% acima do mercado em 2020.
Diante desse cenário, a expectativa para o final do ano é mais do que otimista. Carolina quer alcançar a marca dos 150 estabelecimentos agregados e um faturamento de R$ 50 milhões. Quando se observa as últimas notícias da companhia, percebe-se que as metas não são fantasiosas. No primeiro semestre de 2021, a agregadora levantou R$ 40 milhões em uma rodada de investimento liderada pela Monashees e com participação da gestora de venture capital Canary e dos investidores-anjo José Galló (presidente do conselho da Renner) e Renato Freitas (fundador da 99).
Embora essa estimativa de crescimento seja alta, a empreendedora revela que o processo para novas parcerias é delicado e paciente. “Identificamos um salão com alto potencial, visitamos o local, entrevistamos o dono, analisamos o perfil e os números do salão. Apenas depois disso conversamos sobre investimento.” Além disso, ela ressalta que, embora a agregadora tenha um padrão de estética e funcionamento, o trabalho sempre busca manter a essência original dos salões.
Para Carolina, o nome da empresa é mais do que um simples título. Com o termo #galpower ilustrado nas paredes dos salões parceiros, ela busca incentivá-los a superar as dificuldades do empreendedorismo. “O professor Mário Sérgio Cortella tem uma frase que define os valores da empresa: ‘Faça o teu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores para fazer melhor ainda’. Nem sempre temos 100% de segurança, mas vamos com medo mesmo e aprendemos no meio do caminho. Tento passar isso para todos os profissionais que trabalham comigo”, revela.
De certa forma, é essa troca de aprendizados que define o papel da agregadora. “Encontramos, através desse modelo, uma lógica de que juntos somos mais fortes”, conclui.
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