A Fhinck, startup de tecnologia que usa dados para gestão de pessoas, acaba de contratar dez mulheres em um processo feito às cegas e sem pré-requisitos, em que a ideia era eliminar os vieses ligados a raça, origem e educação, por exemplo. O processo seletivo, que durou 74 dias, recebeu mais de 1400 candidaturas e não aceitou indicações de pessoas próximas ou avaliou currículos e habilidades técnicas. Além disso, apenas candidatas que se identificam como mulheres podiam se inscrever. “Foi a primeira vez que conduzi um processo para um grupo com lente de gênero”, diz Sarah Hirota, líder de pessoas e cultura da Fhinck. Com as contratações, a empresa passou a ter 41 funcionários, sendo 21 mulheres.
As selecionadas não irão para um departamento específico logo de cara, mas passarão por um treinamento que pode levar até dois anos, voltado para análise de dados e que gera conhecimentos que podem ser aplicados em departamentos diversos da empresa: tech, data, people, marketing, finanças. E terão acesso a conteúdo e cursos técnicos teóricos, habilidades digitais, programação, ciência de dados, soft skills, negócios, curso de idioma e mentoria com mulheres que são referências das áreas de dados, ainda considerada um ambiente masculino. “Durante as entrevistas, queríamos apenas entender se as pessoas tinham a ver com a área de dados, se encaixava, mas não é necessária experiência pois iremos formá-las”, diz Hirota. A empresa usou a plataforma Jobecam, que cria um avatar do entrevistado e distorce a voz para que o recrutador não identifique. “Como mulher, nordestina e lésbica, sofri muita discriminação, por isso foi tão libertador esse processo às cegas”, diz Lorena Farias, 23 anos, estudante de ciências econômicas de São Luís do Maranhão, mais uma das mulheres contratadas pela Fhinck.
O programa não trouxe só diversidade de gênero para a empresa. Há candidatas entre 20 e 40 anos de idade, com formações e origens diversas. Entre as contratadas está Bianca Yabiku, de 32 anos, engenheira civil, que percebeu a importância de ter pares femininos no ambiente. “Nunca havia trabalhado com tantas profissionais e me dei conta que isso traz segurança ao trabalho no cotidiano”, diz. Biomédica e farmacêutica de formação, Kátia Battistini, 43 anos, é mãe e havia feito uma pausa na carreira para rever a trajetória. Hoje, está entre as novas funcionárias da Fhinck. “A área da tecnologia parecia algo improvável, talvez pela minha falta de conhecimento, mas fiz um curso básico e me identifiquei de imediato.”