A mulher pioneira do ramo de jatinhos compartilhados

16 de outubro de 2022

Uma Subramanian, CEO da empresa de aviação Aero Technologies, quer voltar para a época em que voar era uma experiência

“A aviação era uma coisa deslumbrante. Agora, é uma experiência horrível e que se tornou uma commodity”, Uma Subramanian, CEO da empresa de aviação Aero Technologies, diz, refletindo sobre a era de ouro das viagens. “Nos anos 1970, quando chegou aos Estados Unidos, as pessoas se vestiam de ternos e roupas glamurosas porque voar era um grande evento. Agora, você talvez use um par de calças limpas para viajar”.

Subramanian – que tem um incrível currículo de trabalho em empresas como Airbus e Rolls-Royce, e que participou de programas como o Mars Project – tem sido clara na sua opinião de que toda a indústria precisa de um chacoalhão.

Por meio da Aero, uma companhia de aviação compartilhada que oferece a experiência de viajar em um jato privado por uma fração do preço que as empresas de aviação privada oferecem, ela está tentando voltar para uma época na qual voar era uma experiência por si só e na qual os consumidores eram valorizados. Ela não está sozinha no seu sonho. Recentemente, a Aero conseguiu US$ 65 milhões (R$ 343 milhões) em financiamentos, gerando uma avaliação pós-investimento de US$ 300 milhões (R$ 1,585 bilhões).

Subramanian falou sobre sua trajetória na aviação e na aviação aeroespacial, suas ambições para a Aero e suas experiências em ser uma mulher não branca em uma indústria dominada por homens.

Rachel Ingram: Voltando ao início de sua trajetória, de onde veio a sua paixão pela aviação e pela aviação aeroespacial? 

Uma Subramanian: Aviação e aviação aeroespacial foram os meus primeiros verdadeiros amores. Eu fui para um acampamento com tema espacial quando tinha nove anos e terminei com um fascínio pela aviação aeroespacial. Eu tenho graduação em engenharia aeroespacial e amo pensar em ajudar pessoas a se moverem pelo céu. 

Trabalhei no ramo de fabricação para várias diferentes indústrias – a Airbus e Rolls-Royce foram, particularmente, experiências fundamentais para minha formação. Quando comecei na aviação aeroespacial, ficou muito claro para mim que a engenharia pura não era para mim – meu cérebro não funciona daquela maneira. Então, passei a pensar sobre desenvolvimento de negócios e sustentabilidade, principalmente como você torna projetos viáveis a longo prazo.

RI: Como a Aero se diferencia de outros serviços de jatos?

F: A Aero não é, deliberadamente, uma empresa de serviços de jatos privados – é um transporte agendado. Oferecemos 80% da experiência de viajar de forma particular a 20% dos preços desse serviço, então você obtém os benefícios sem os custos atrelados a eles. É uma experiência radicalmente melhor para viajar – decolamos de terminais privados que possuem volumes muito menores de voos, conhecemos o cliente por nome e sabemos suas preferências de bebidas se tiver voado conosco antes. É um serviço sob medida. Nossos clientes valorizam experiências interpessoais e mais íntimas. Ainda somos uma companhia aérea nas nossas fundações, mas estamos focados em fazer as coisas diferente e construir uma marca premium.

RI: Como você acabou se juntando à empresa?

F: Logo antes da Aero, eu trabalhava para a Airbus, onde eu construí sua primeira rede de transportes aéreos urbanos – a companhia chamada Boom Flights, que opera helicópteros em mercados urbanos. Entramos na onda de aviação elétrica no momento certo mas, devido às tecnologias existentes, esse empreendimento foi difícil de fazer dar certo. Em 2018, eu saí desse emprego e conheci o fundador da Expa – que é a startup do Garrett Camp, também cofundador da Uber. Ele tinha um mercado interessante em mente e disse: “Eu acredito que o ramo de viagem comercial de primeira e segunda classes está realmente quebrado, viagens privadas são muito caras e há uma oportunidade de oferecer um produto radicalmente melhor pelo qual as pessoas estariam dispostas a pagar”. Eu concordei.

RI: Qual é o estágio atual da Aero?

F: Esperamos crescer 400% neste ano se comparado ao mesmo período anterior. Estamos em funcionamento no Reino Unido, nos Estados Unidos e, nesse verão, estivemos em rotas focadas em viagens de lazer, como de Londres a Nice (França), Londres a Mykonos (Grécia), Los Angeles a Cabo (México). Nós realmente temos clientes interessantes que vêm de trajetórias diversas – estamos inclusive trabalhando em algumas turnês de rock. Estamos naquele ponto no qual sabemos que isso funciona, tanto de uma perspectiva financeira quanto de uma visão de encaixar no mercado do produto. Agora é sobre expandir e crescer de uma forma que seja viável a longo prazo.

RI: O que você gosta mais do seu trabalho?

F: O que eu realmente gostei nos últimos cinco anos foi construir um negócio na união da aviação com a tecnologia do consumidor. A aviação é uma indústria incrivelmente interessante, mas o ritmo da mudança é realmente devagar, então demora 15 anos para um novo produto chegar ao mercado. É animador que, no ramo do consumo, as coisas se movem muito rápido.

A Aero não existia há três anos e, agora, é um empreendimento viável com consumidores reais. Ao mesmo tempo, o programa espacial no qual eu trabalhei há três anos, no meu primeiro emprego na multinacional aeroespacial Northrop Gruman, está sendo lançado agora – 10 anos antes do que planejado inicialmente. Eu amo esse feedback em tempo real, interagindo com clientes e vendo algo que você construir do zero crescer.

RI: Qual foi a sua experiência de ser uma mulher não branca crescendo em uma indústria dominada por homens?

F: Às vezes, é realmente útil ser diferente. Isso é particularmente verdade nesse caso, Eu não acho que esse fator me beneficiou de maneira desproporcional mas, pelo menos, ser diferente pode ser vantajoso se você está construindo algo que é diferente.

Quando você é uma liderança feminina, pode dar atenção a garantir que exista diversidade na sua companhia. Temos uma equipe de voo muito diversa na Aero – alguns dos nossos mais antigos capitães no Reino Unido são mulheres, então estamos muito focados nisso. Eu amaria ver mais mulheres pensando em uma carreira no ramo da aviação. A aviação é uma indústria atraente, mas não há mulheres suficientes nela. Acho que há muita oportunidade de crescer mais em relação à diversidade de gênero, além de em outras áreas de diversidade, particularmente no mundo dos pilotos.

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