Recentemente descobri o mundo dos podcasts. Logo passei a usar meu tempo livre para ouvir podcasts. Um podcast a caminho do dentista, um podcast enquanto aguardo o início da reunião, outro enquanto tomo banho. Inicialmente me pareceu uma ótima idéia, uma forma de aproveitar e otimizar meu tempo. Afinal, no tempo ocioso eu ainda iria adquirir conhecimento, portanto seria produtivo, certo?
O que percebo nos dias que se sucedem é cansaço. Sem que aparentemente nada tivesse mudado na minha rotina, passei a me sentir esgotada. Percebi que até mesmo absorver informação ininterruptamente cansa e mais uma vez ficou evidente o quanto o ócio e as pausas são necessários. Jogar conversa fora, observar o tempo lá fora e até mesmo entediar-se é preciso.
De alguma forma, acreditamos que concluir todas as nossas tarefas no menor tempo nos tornará mais produtivos, e que essa seria uma forma de aproveitarmos nosso tempo ao máximo. Muitas vezes me pego no trânsito irritada com o carro da frente que não anda, mas na realidade não tenho nenhum compromisso urgente, não estou atrasada, a urgência vem da minha cabeça. Me pego respondendo o whatsapp “urgente” de outra pessoa no meio do jantar, enquanto na realidade não existe urgência alguma ali. Apenas ansiedade e o hábito de querer tudo “para ontem”.
As redes sociais foram o ambiente perfeito para que essa nossa urgência crescesse exponencialmente. Além da necessidade de postar todo e a qualquer momento, não há nada que potencialize mais o sentimento de improdutividade do que perceber que o outro está produzindo. Eu mesma frequentemente me pego pensando que não tenho produzido o suficiente. É natural: a comparação é da natureza humana.
Além de termos que atender a cobrança externa, temos que lidar com a nossa própria cobrança, que pode ser ainda mais cruel. Temos que otimizar o tempo, as tarefas, nunca se usaram tantos termos corporativos como “performance”, “entrega”, “eficiência”. Os discursos motivacionais estão aí, se multiplicando, cheios de termos bonitos. Os diagnósticos de “burnout” também.
Precisamos sempre de mais: fazermos mais, aproveitarmos mais, absorvermos mais, sermos mais, termos mais. É uma corrida na qual não há linha de chegada e nossos principais adversários somos nós mesmos. Uma fuga regada a antidepressivos, ansiolíticos e indutores de sono.
No mundo moderno vivemos uma abundância: de informação, de tecnologia, de recursos. Deveria ser incrível, mas paradoxalmente quanto maior é a abundância, mais miseráveis nos encontramos, afogados em excesso. Já sentiu a sensação de sentar em um restaurante, abrir um cardápio extenso demais e não conseguir escolher nada?
Nas últimas semanas, li um livro que estava parado há algum tempo na minha estante, e me pareceu uma coincidência do destino que tratasse exatamente do que eu estava escrevendo no momento. Em “A sociedade do cansaço”, Byung-Chul Han afirma que ao desempenhar muitas tarefas simultaneamente buscando a produtividade (ou pelo menos, a crença de estarmos sendo mais produtivos), nos tornamos rasos, pois perdemos a capacidade de nos aprofundarmos.
Que seja um lembrete diário: respeitar nosso tempo é preciso.
Paula Drumond Setubal é advogada, mãe de gêmeos e produtora de conteúdo.
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