"Mudar de país nos obriga a sair da inércia", diz diretora da Nestlé

24 de novembro de 2022
Divulgação

Rachel Muller, diretora executiva de cafés e bebidas da Nestlé, aproveitou as mudanças de país para diversificar a carreira

Aos 28 anos, Rachel Muller conseguiu um emprego como estagiária em uma agência multinacional de publicidade em Bogotá. Formada em odontologia, ela já exercia a profissão no Brasil, mas deixou o país para acompanhar o marido e viu a mudança como uma oportunidade de recomeço. “Eu gostava de comunicação e queria uma profissão que me desse mais amplitude, queria ter colegas de trabalho, queria ter reuniões”, diz a executiva.

Em alguns meses, foi efetivada na área de atendimento ao cliente para atender, quem diria, a Nestlé. Vinte anos depois, Muller ocupa a diretoria executiva da área de cafés da empresa. “Tenho muita curiosidade sobre tudo e aqui sinto que tenho algo a aprender constantemente, pois cuidamos desde a escolha dos produtores até como o produto fica na gôndola do supermercado.”

Chegar a esse posto de liderança não foi linear. A curiosidade de Rachel a levou a morar em alguns países e a experimentar três carreiras diferentes antes de chegar à Nestlé, onde está há 13 anos. Na primeira mudança, para Bogotá, acompanhando o primeiro marido, aproveitou para fazer a transição de carreira que já imaginava antes de deixar o país e deixar de vez o consultório odontológico. “Ao chegar em um novo lugar, naturalmente você se questiona e é obrigado a se recriar, não há a inércia de continuar fazendo o que já se faz.”

Quando se separou, voltou para o Brasil e, enquanto planejava uma viagem para estudar artes plásticas em Paris, acabou indo para Porto Rico a convite do então namorado. Mudou o destino, mas fez o curso e abriu um negócio de decoração de baixo custo, até que a transferência do marido para o México mudou novamente o rumo de sua carreira e de sua vida. No novo país, assumiu um posto de gerência na agência McCann e, de lá, recebeu um convite para a gerência de marketing da Nestlé.

Apesar das mudanças terem seguido seus relacionamentos, Rachel não enxerga que foi para cada novo país por causa do amor. “Foi mais pela minha vontade de aprender coisas novas, de ver lugares novos, pessoas novas. Não olho a vida de forma linear, então essas sempre foram oportunidades pra mim”, diz. Planejar a carreira, por exemplo, nunca foi algo que fez parte de sua rotina profissional. “Existem tantas variáveis na vida que prefiro não colocar a energia em pensar meus próximos passos enquanto estou satisfeita com o que faço no momento.”

Foi no México também que nasceu sua filha, hoje com 10 anos, e que veio para o Brasil aos 7 meses, quando a mãe foi transferida para ocupar uma gerência executiva local. “Foi a época mais difícil pois meu marido ainda estava no México e eu não sabia que precisava pedir ajuda, dizer às pessoas o que estava acontecendo. Eu eperava que as pessoas soubessem naturalmente e hoje vejo que não funciona assim.”

Na empresa, Muller subiu para ocupar o posto atual e tem liderado projetos diversos, como o de polinização assistida da colheita ou o mais recente, que é a formação de baristas entre jovens sem recursos. Por meio da parceria com a startup Agrobee, abelhas são transferidas para a área do cafezal na Chapada Diamantina, e se encarregam de contribuem para grãos de melhor qualidade, além de produzir mel. O segundo projeto será lançado na próxima semana,  em conjunto com Senac e o G10 Favelas, o grupo que reúne líderes das maiores favelas brasileiras. “As pessoas acham que, por ser uma multinacional, trabalhamos apenas com grandes produtores, mas uma parte dos grãos são famílias que produzem e é muito rico participar desse processo.”

Turning point da carreira

“Sair do consultório de dentista e ir para o mundo dos negócios, algo que eu amo e que me desperta curiosidade. Gosto de trabalhar com equipe, de ter colegas de trabalho, de olhar a estratégia.”

Causas que abraço

“Eu me importo em acompanhar essa cadeia toda, lidar com os produtores, tocar nosso programa de sucessão familiar e ter impacto na vida dessas pessoas. A gente forma os jovens filhos dessas famílias para olhar o café como outra possibilidade, de inovação, e a desenvolver o negócio da família. Eu penso muito mais nisso do que no cargo que eu vou ter.”

Primeiro cargo de liderança

“Gerência de marketing quando entrei na Nestlé.”

 

Quinzenalmente a Forbes publica a coluna Minha Jornada retratando histórias de mulheres que trilharam vidas e carreiras de sucesso.