Paula Lindenberg, CEO da Diageo: "Não quero ter razão, quero ter sucesso”

8 de novembro de 2022
Rogério Assis

Paula Lindenberg é presidente no Brasil da Diageo, maior fabricante de bebidas destiladas do mundo

“Não quero ter razão, quero ter sucesso”, diz Paula Lindenberg sobre a construção de uma cultura corporativa em que os colaboradores tenham curiosidade e ousadia – inclusive para discordar. “Preciso de um time que faça a gente pensar diferente, que traga novas alternativas, que leve a melhores decisões.” Paula está na lista da Forbes dos melhores CEOs de 2022.

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Em nove meses como presidente da Diageo no Brasil, a executiva, vinda de 20 anos de Ambev, conta já ter revisado alguns de seus conceitos sobre destilados. Apostava, por exemplo, que os ready to drink, como Smirnoff Ice, eram o grande caminho para recrutar consumidores de cerveja. Mas foi convencida pela equipe de que havia opções mais rentáveis, como a coquetelaria, e isso levou ao lançamento de Johnnie Blonde, um uísque voltado para uso em coquetéis.

As metas para a operação brasileira são altas. “Temos ambição financeira de mais do que dobrar a companhia até 2026”, diz Paula. No último ano fiscal, encerrado em junho, as vendas líquidas da região PUB (Paraguai, Uruguai e Brasil) cresceram 36%, impulsionadas principalmente pelos números brasileiros, com alta de 32%. “Também ganhamos share tanto em destilados quanto no total álcool e nas categorias uísque, vodca, gim, ready to
drink e cachaça.”

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Paula entrou para a Diageo em janeiro de 2022 para comandar a região PUB, mas, desde julho, passou a se concentrar apenas no Brasil. A saída do cargo de presidente para Reino Unido, Irlanda e Espanha da Anheuser-Busch InBev veio da vontade de voltar de Londres para São Paulo e trazer estabilidade para as filhas, de 15 e 12 anos.

Dentro do grupo cervejeiro, a paulistana já tinha também liderado a área de global insights em Nova York e, entre 2015 e 2018, assumido a vice-presidência de marketing no Brasil. “Fui a primeira mulher a ser vice-presidente da Ambev”, diz. “O que me orgulho bastante desse período foi um trabalho de brigar com o estereótipo que a cerveja tinha criado em torno da mulher.” Começou com a confecção de novos cartazes para a Skol por uma equipe de ilustradoras e levou a empresa a assumir o compromisso de não mais fazer comerciais com modelos de biquíni. “Entendi que meu trabalho era maior do que vender cerveja. Era mexer em cultura. É uma bênção ter marcas que podem gerar conversa.”

São conversas que agora ela diz ter na Diageo, em que já encontrou um ambiente mais maduro em relação a temas como diversidade, com licença paternidade e maternidade de seis meses e 50% de mulheres em cargos de liderança. “Mas, de novo, temos marcas que são muito maiores do que o álcool. Johnny Walker tem um posicionamento que é ‘keep walking’. Depois de dois anos de pandemia, em um momento de guerra, talvez não tenha nada que as pessoas precisem mais do que ‘keep walking’.”

Reportagem publicada na edição 101, lançada em setembro de 2022.