Mulheres são as que mais fazem tarefas "domésticas" do escritório

15 de junho de 2023
Klaus Vedfelt/Getty Images

Mesmo no ambiente de trabalho, há a expectativa de que mulheres sejam mais prestativas em tarefas “domésticas” do que os homens

Planejar festas, pedir comida e fazer anotações em reuniões são apenas algumas das tarefas sem importância (para a carreira) que as mulheres geralmente assumem no trabalho. É mais ou menos como um trabalho doméstico, só que de escritório: tarefas que contribuem para o bom funcionamento do trabalho, mas que não fazem diferença alguma para os negócios e não contam para promoções. 

O “trabalho doméstico de escritório” inclui todas as tarefas administrativas e subvalorizadas necessárias para manter o lugar funcionando – e que obviamente consomem tempo e energia. Diversos estudos mostram que as mulheres mais são solicitadas a fazer esse tipo de serviço do que homens brancos. Na média, 30% mais vezes, de acordo com um estudo norte-americano do Center for WorkLife Law junto da Society of Women Engineers – organizações que estudam o equilíbrio da vida pessoal com o trabalho e a equidade de gênero na engenharia, respectivamente.

Leia também

Elas são também mais propensas do que os homens a aceitar pedidos para se voluntariar. Mesmo quando não são solicitadas diretamente. Não é que se voluntariam porque são melhores nessas tarefas ou gostam de realizá-las, mas porque os estereótipos de gênero enraizados falam mais alto. Normalmente, espera-se que as mulheres sejam mais prestativas no trabalho, assim como são em casa.

Para estabelecer que as mulheres não se voluntariam porque gostam dessas tarefas ou se destacam nelas, um grupo de pesquisadores norte-americanos estudou grupos de participantes observando grupos online. Foi dito a esses participantes que cada um receberia US$ 1 por sua participação, com uma condição. Se um dos três participantes clicasse em um botão na tela do computador, essa pessoa receberia US$ 1,25, e os outros dois receberiam US$ 2. 

As mulheres tinham 48% mais chances do que os homens de se voluntariar para pressionar o botão. Em outras palavras, as mulheres aceitaram uma desvantagem para que todos se beneficiassem. Não havia habilidade envolvida em pressionar o botão, e as mulheres não tinham nenhum interesse especial em pressionar botões. O estudo eliminou essas possibilidades.

Os pesquisadores repetiram o mesmo estudo com uma diferença: usaram grupos compostos por três homens ou três mulheres. Nos grupos do mesmo sexo, as diferenças de gênero desapareceram, e as mulheres não tiveram maior probabilidade de se voluntariar para pressionar o botão do que os homens. No grupo de sexo misto, os homens se seguraram em se voluntariar, e as mulheres perceberam que precisavam se voluntariar para garantir que a tarefa fosse concluída. “As mulheres percebem que, quando os homens estão presentes, espera-se que as mulheres façam o necessário para melhorar a situação para todos”, escrevem os autores. Em grupos compostos apenas por homens, os homens percebem que precisam assumir a responsabilidade.

Como evitar ficar presa com o “trabalho doméstico” no escritório

Para as mulheres, evitar essas tarefas pode não ser tão simples. Não é fácil recusar-se a se voluntariar ou rejeitar um pedido de ajuda. Pesquisadores da Associação Norte-americana de Psicologia descobriram que, porque se espera que as mulheres sejam prestativas, elas acabam sendo penalizadas mais do que os homens quando recusam pedidos de assistência. 

Como observaram a ex-diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, e o psicólogo organizacional Adam Grant em um artigo sobre o trabalho doméstico de escritório, “Um homem que não ajuda está ‘ocupado’. Uma mulher que não ajuda é ‘egoísta'”. Felizmente, existem estratégias que as mulheres podem adotar para ajudar a reduzir o fardo do trabalho doméstico de escritório.

Em seu novo livro “Glass Walls: Shattering The Six Gender Bias Barriers Still Holding Women Back At Work”, as autoras Amy Diehl e Leanne Dzubinski descrevem estratégias que as mulheres podem adotar para superar muitos problemas relacionados ao gênero no trabalho. 

Em relação ao tal do trabalho doméstico de escritório, a dupla recomenda que, se alguém lhe pedir para se voluntariar, sugira uma política que envolva revezamento. Por exemplo, você pode dizer: “Eu fiz as anotações da última reunião, você poderia fazer desta vez?” Ou “Eu vou limpar a geladeira esta semana, mas vamos criar um rodízio de limpeza para o futuro”.

Diehl e Dzubinski também sugerem que você explique ao seu chefe que assumir tanto trabalho doméstico de escritório pode afetar sua capacidade de desempenhar o trabalho real para o qual foi contratada. Em outras palavras, você não está sendo egoísta, apenas quer contribuir com a empresa da melhor maneira possível.

Em algumas empresas, os funcionários são solicitados a realizar uma autoavaliação para o feedback anual. Nesse caso, as autoras recomendam destacar suas responsabilidades de trabalho doméstico de escritório e descrever seu valor na manutenção do bom funcionamento da organização.

Aliados masculinos que testemunham mulheres realizando uma quantidade desproporcional desse tipo de tarefa também têm o dever de intervir. Diehl e Dzubinski recomendam que esses aliados não apenas ofereçam ajuda, mas também procurem a liderança organizacional para expressar suas preocupações sobre a divisão de tarefas que não levam a promoções, por exemplo. Uma vantagem adicional de os homens ajudarem no trabalho doméstico de escritório é que, quanto mais homens forem vistos realizando essas tarefas, menos essas responsabilidades serão associadas estereotipicamente às suas colegas.

* Kim Elsesser é colaboradora sênior da Forbes USA. Ela é especialista em vieses inconscientes de gênero e professora de gênero na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).

(Traduzido por Fabiana Corrêa)