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O que o cliente não percebeu foi que o tal email automatizado havia sido enviado, na verdade, pela própria CEO. Cacioppo, que havia fundado a Vanta apenas alguns meses antes, acordava todos os dias às 5h45 para escrever ela mesma a mensagem de todos os emails. A executiva fez isso para entender se os clientes gostavam do formato antes de decidir se sua empresa deveria investir para automatizar esse processo. Assim que chegou a uma conclusão, Cacioppo e a equipe fundadora da Vanta sentaram e escreveram o código para automação dos emails – que, aliás, não precisaram alterar por um ano e meio.
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Nos dois primeiros anos, a Vanta não tinha executivos formais ou reuniões de equipe. Mas todo o esforço ajudou a empresa a conseguir cerca de 5 mil clientes, com um crescimento de 600 a cada trimestre. Cacioppo também ajudou a levantar US$ 203 milhões (R$ 975 milhões) em financiamento de empresas de capital de risco, como a Craft Ventures e a Sequoia, incluindo US$ 110 milhões (R$ 528 milhões) arrecadados em junho de 2022. Essa movimentação fez a avaliação da Vanta chegar a US$ 1,6 bilhão (R$ 7,6 bilhões).
Foi o suficiente para garantir a Cacioppo, 36, um espaço na lista da Forbes das mulheres self-made mais ricas dos EUA, ou seja, aquelas que construíram as próprias fortunas. Hoje, com base em sua participação na Vanta, a CEO tem um patrimônio estimado em US$ 385 milhões (R$ 1,8 bilhão).
“Antes da Vanta, a segurança e o compliance eram feitos com planilhas e capturas de tela de informações coletadas, organizadas em pastas e mostradas para contadores públicos certificados”, diz Cacioppo. “O que construímos foi uma maneira de fazer quase todo esse trabalho e automatizá-lo”, completa. Cacioppo fundou a Vanta com Erik Goldman, um engenheiro de software e designer de produto que não está mais envolvido na empresa.
Investimentos de R$ 528 milhões
Historicamente, esse processo durava de seis meses a um ano. Com a Vanta, a entrega foi automatizada por meio de monitoramento contínuo e transmissão de dados em tempo real chamados “relatórios de confiança”. Em seguida, os auditores, incluindo uma rede de profissionais certificados pela Vanta, analisam os dados e certificam a empresa como adequada ou inadequada a partir de uma série de padrões, como controles de sistema e organização, gestão da segurança da informação e proteção de dados, entre outros.
Cacioppo afirma que, hoje, Vanta tem recursos suficientes para operar por mais três anos e meio, com a maior parte da sua rodada de financiamento de US$ 110 milhões (R$ 528 milhões) de junho de 2022 ainda no banco. “A Vanta está “definitivamente na trajetória do IPO”, diz Andrew Reed, sócio da Sequoia, que liderou a rodada anterior de captação de investimentos da startup em 2021 e investiu novamente no último ano. Para Cacioppo, abrir o capital da empresa não é seu objetivo final, mas sim um trampolim para o crescimento.
Além disso, a empresa mais do que dobrou sua receita anual, resultado de todos os anos desde sua fundação, para cerca de US$ 80 milhões (R$ 384 milhões). Como uma companhia por assinatura, a Vanta cobra antecipadamente dos clientes por um ano de serviço. E, como muitas startups, a Vanta hoje não é lucrativa, embora tenha sido aproximadamente de 2019 a 2021, afirma Cacioppo.
Pioneira em automatização de segurança
Alguns desses concorrentes são empresas como Drata e Secureframe. A primeira, por exemplo, cresceu mais rápido que a Vanta em valor de mercado: foi fundada em 2020 e atingiu uma avaliação de US$ 2 bilhões (R$ 9,6 bilhões) em dezembro de 2022.
O plano da Vanta para se diferenciar inclui a expansão da lista de empresas com as quais seu software é compatível. Nesse contexto, a companhia lançou no ano passado uma iniciativa com o objetivo de aumentar o número de normas de conformidade que o software comporta.
Também teve largada as primeiras ações do outro lado do Atlântico: nascida em São Francisco, desde o fim de 2002 a Vanta opera na Irlanda o seu primeiro escritório na Europa – para Reed, sócio da Sequoia, Cacioppo e cia. podem ser ainda mais úteis na região devido aos complexos sistemas regulatórios do Velho Continente. Além disso, a startup mantém seu foco na contratação de engenheiros que também gostam de conversar com os clientes para feedbacks rápidos, como os dos emails “automatizados” da CEO.
A trajetória da empreendedora
Naquela época, ela estava terminando a faculdade de economia em Stanford e fez um mestrado na mesma universidade. Na sequência, partiu para o venture capital, trabalhando de 2010 a 2012 como analista da Union Square Ventures em investimentos em estágio inicial – um trabalho que ela aceitou porque “é igual a ser pesquisadora, você pode encontrar pessoas e fazer perguntas o dia todo”.
Então ela decidiu que queria construir coisas. Quando começou a trabalhar sozinha, em 2013, Cacioppo disse aos pais que era um “sabático” de seu trabalho com investimentos. Não foi: ela já havia desistido de atuar na área.
Seu primeiro projeto, uma série de produtos de software criados sob o guarda-chuva “Nebula Labs” – que ela fundou com o colega de Stanford Matt Spitz, hoje chefe de engenharia da Vanta – não deu certo, mas ajudou Cacioppo a lançar as bases para a Vanta. Depois da Nebula Labs, Spitz e, um pouco mais tarde, Cacioppo, foram trabalhar na Dropbox. Em 2014, Cacioppo começou como gerente de produto de um novo negócio do Dropbox, o Dropbox Paper, a versão da empresa do Google Docs.
Ao trabalhar com a equipe jurídica para entender esses padrões de regulação e conformidade, ela se lembra de ter pensado em como o processo era tedioso, manual e sujeito a erros. “Como indústria, pensamos na segurança dos produtos por meio de contadores que analisam as capturas de tela? Sério?”, refletiu Cacioppo.
Começo de carreira no Dropbox
Cacioppo deixou o Dropbox em 2016 para fundar a Vanta com Erik Goldman, embora eles não soubessem exatamente o que a empresa se tornaria naquele momento. A fase de exploração de um mês os levaria a várias ideias, incluindo um aplicativo que era como a Alexa, da Amazon, para biólogos. Eles esperaram para escrever qualquer código até que tivessem conversado com especialistas em segurança suficientes e tivessem certeza de que tinham um negócio. Depois disso, perceberam que realmente havia necessidade de uma solução automatizada.
No início, a Vanta estava construindo seu produto com clientes individuais, atuando essencialmente como consultores de segurança, e administrava quantias relativamente pequenas de financiamento – US$ 500 mil (R$ 2,4 milhões) da Y Combinator, e US$ 3 milhões (R$ 14,4 milhões) em financiamento inicial.
Como a Vanta saiu de alguns para milhares de clientes, Reed diz que a obsessão de Cacioppo pelo cliente e a abordagem atenta ao concorrente beneficiam a Vanta em um campo que está mais disputado agora, visto que a empresa continua desenvolvendo e inovando seu produto.
Tanto o cofundador da Vanta, Goldman, quanto o líder de engenharia, Spitz, dizem que um dos principais pontos fortes de Cacioppo é sua capacidade de mergulhar em um problema com o qual ela não estava familiarizada anteriormente, seja escrevendo códigos mesmo sem ter experiência em ciência da computação ou segurança ou chegando com um modelo de preços para os primeiros clientes corporativos da Vanta, o que ela, sempre uma leitora ávida, fez “folheando” vários livros em um fim de semana. O modelo de precificação, guiado pela opinião dos clientes de um “preço caro” que eles pagariam pelo produto da Vanta, acabou sendo o modelo da empresa por cerca de dois anos.
Além de construir uma companhia de sucesso, Cacioppo fez alguns investimentos-anjo. Ela apoiou em 2016 a empresa de ferramentas de colaboração em equipe Notion – que foi um dos primeiros clientes da Vanta. Em 2022, investiu em diversas empresas de software e segurança, incluindo a companhia vertical de software como serviço Pocus.
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(traduzido por Fernanda de Almeida)