Mas o rosa já foi a cor preferida dos meninos. “O branco é usado para todos os bebês. Azul é para meninas e rosa é para meninos, quando se quer uma cor”, publicou a tradicional e já encerrada revista norte-americana Ladies Home Journal em 1890. “O rosa, sendo uma cor mais enfática e forte, é mais adequado para o menino, enquanto o azul, mais delicado, é mais bonito para a menina”, dizia um outro artigo de 1918 da finada revista de negócios e bebês Earnshaw’s Infants’ Department.
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Jo Paoletti, professora da Universidade de Maryland, explica que, no século 19, os pais preferiam vestir seus filhos de branco para não enfatizar o gênero. “Poucos pais em 1880 se sentiam confortáveis em vestir meninos de um ano para expressar masculinidade ou escolhendo roupas para acentuar a feminilidade de sua filha pequena. Roupas que acentuavam gêneros eram consideradas impróprias para crianças pequenas, cuja inocência era frequentemente citada como um dos maiores encantos deles”, diz ela.
Em meados do século 20, as filhas se vestiam como suas mães e os filhos como seus pais. Mas na década de 1970, as crianças começaram a usar roupas mais unissex. Naquela época, as mulheres estavam entrando no mercado de trabalho em maior número, assumindo papéis não tradicionais e escolhendo roupas menos femininas para si e para suas filhas. “Na década de 1970, o rosa era tão fortemente associado à feminilidade tradicional que foi rejeitado por pais feministas para as roupas de suas filhas”, diz a professora universitária. Essa rejeição era tão forte no auge da tendência unissex que os catálogos da loja de departamento norte-americana Sears não tiveram roupas rosa para crianças por dois anos consecutivos.
Em meados da década de 1980, a divisão de gênero entre as cores rosa e azul começou a ganhar força. O teste pré-natal para descobrir o sexo do bebê pode ter sido um catalisador para essa tendência, porque os pais sabiam se a criança seria menino ou menina antes mesmo do nascimento. Isso deu aos pais tempo suficiente para decorar o berçário com cores que refletissem o sexo do recém-nascido. Mais recentemente, os futuros pais têm feito as revelações do sexo de seus filhos em festas com balões, bolo e confetes em rosa ou azul.
Os estereótipos de gênero também foram exacerbados pelo crescente fenômeno do rosa para meninas. Manifestações de clientes encorajaram lojas de departamento a parar de diferenciar os brinquedos por gênero e a remover os corredores de brinquedos rosa para meninas. Só porque as meninas estão vestidas de rosa não significa que as lojas podem tratá-las de maneira diferente dos meninos em relação aos brinquedos. Os consumidores não querem que suas filhas sejam levadas a ter bonecas e equipamentos de cozinha enquanto os meninos brincam com blocos de construção.
A distinção rosa e azul também faz com que meninos e meninas pareçam mais diferentes uns dos outros do que realmente são. Também pode fazer com que as pessoas os tratem de maneira diferente e deixem desconfortáveis as pessoas que não concordam com a binaridade de gênero.
Portanto, a escolha de rosa para meninas e azul para meninos é o que os pesquisadores chamam de construção social. Não há nada biológico que atraia meninas para a cor rosa e meninos para a cor azul. É apenas algo que nossa sociedade inventou. Então, quando for assistir o live-action da Barbie, lembre-se de que se a história tivesse sido diferente, poderíamos estar assistindo uma boneca ganhar vida em uma casa azul, com um carro azul e roupas azuis.
(traduzido por Gabriela Guido)