Tendência barbiecore: por que o rosa é associado às mulheres

13 de julho de 2023
Getty Images

Marcas de todas as indústrias têm criado produtos rosa inspirados no lançamento do live-action da Barbie no próximo dia 20

Rosa é a cor deste mês de julho, pelo menos para os fãs da Barbie que esperam ansiosamente o lançamento do filme no próximo dia 20. A cor domina o live-action, como você pode ver no trailer: a casa da Barbie é rosa, assim como seu carro, suas roupas, as ruas da cidade, os aviões voando e até a areia da praia. A estrela Margot Robbie está desfilando em tapetes rosa para promover o filme, marcas estão criando produtos personalizados dessa cor – desde hambúrgueres a produtos pet – e os fãs estão usando roupas na cor característica da boneca. Embora o rosa esteja atualmente associado a coisas femininas, nem sempre foi assim.

Mas o rosa já foi a cor preferida dos meninos. “O branco é usado para todos os bebês. Azul é para meninas e rosa é para meninos, quando se quer uma cor”, publicou a tradicional e já encerrada revista norte-americana Ladies Home Journal em 1890. “O rosa, sendo uma cor mais enfática e forte, é mais adequado para o menino, enquanto o azul, mais delicado, é mais bonito para a menina”, dizia um outro artigo de 1918 da finada revista de negócios e bebês Earnshaw’s Infants’ Department.

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A preferência por meninos de rosa pode ter sido um fenômeno de certas regiões dos Estados Unidos. Um artigo de 1927 da revista Time entrevistou consumidores em grandes lojas de departamento nos EUA, perguntando qual cor eles achavam mais apropriada para meninas e meninos. Em Boston, Cleveland, Nova Orleans e Chicago, a preferência era rosa para meninos e azul para meninas. A Califórnia ficou dividida: Los Angeles gostava de rosa para meninas e São Francisco escolheu a cor para os meninos. Na Filadélfia e em Manhattan, os clientes preferiam azul para meninos e rosa para meninas. Não havia qualquer correspondência forte entre as cores e o gênero dos bebês.

Jo Paoletti, professora da Universidade de Maryland, explica que, no século 19, os pais preferiam vestir seus filhos de branco para não enfatizar o gênero. “Poucos pais em 1880 se sentiam confortáveis ​​em vestir meninos de um ano para expressar masculinidade ou escolhendo roupas para acentuar a feminilidade de sua filha pequena. Roupas que acentuavam gêneros eram consideradas impróprias para crianças pequenas, cuja inocência era frequentemente citada como um dos maiores encantos deles”, diz ela.

Em meados do século 20, as filhas se vestiam como suas mães e os filhos como seus pais. Mas na década de 1970, as crianças começaram a usar roupas mais unissex. Naquela época, as mulheres estavam entrando no mercado de trabalho em maior número, assumindo papéis não tradicionais e escolhendo roupas menos femininas para si e para suas filhas. “Na década de 1970, o rosa era tão fortemente associado à feminilidade tradicional que foi rejeitado por pais feministas para as roupas de suas filhas”, diz a professora universitária. Essa rejeição era tão forte no auge da tendência unissex que os catálogos da loja de departamento norte-americana Sears não tiveram roupas rosa para crianças por dois anos consecutivos.

Em meados da década de 1980, a divisão de gênero entre as cores rosa e azul começou a ganhar força. O teste pré-natal para descobrir o sexo do bebê pode ter sido um catalisador para essa tendência, porque os pais sabiam se a criança seria menino ou menina antes mesmo do nascimento. Isso deu aos pais tempo suficiente para decorar o berçário com cores que refletissem o sexo do recém-nascido. Mais recentemente, os futuros pais têm feito as revelações do sexo de seus filhos em festas com balões, bolo e confetes em rosa ou azul.

À medida que a correlação entre gênero e cor ficou mais forte, o mercado se adaptou. Primeiro, os fabricantes correram para acomodar o desejo dos pais. Triciclos cor-de-rosa, bicicletas cor-de-rosa, lâminas de barbear cor-de-rosa e até canetas cor-de-rosa eram comercializados para mulheres e meninas, muitas vezes a preços mais elevados em relação aos produtos semelhantes com “cores de meninos”. Hoje, nos EUA, apenas os estados de Nova York e da Califórnia têm leis que impedem os varejistas de cobrar mais por itens destinados a meninas e mulheres.

Os estereótipos de gênero também foram exacerbados pelo crescente fenômeno do rosa para meninas. Manifestações de clientes encorajaram lojas de departamento a parar de diferenciar os brinquedos por gênero e a remover os corredores de brinquedos rosa para meninas. Só porque as meninas estão vestidas de rosa não significa que as lojas podem tratá-las de maneira diferente dos meninos em relação aos brinquedos. Os consumidores não querem que suas filhas sejam levadas a ter bonecas e equipamentos de cozinha enquanto os meninos brincam com blocos de construção.

A distinção rosa e azul também faz com que meninos e meninas pareçam mais diferentes uns dos outros do que realmente são. Também pode fazer com que as pessoas os tratem de maneira diferente e deixem desconfortáveis ​​as pessoas que não concordam com a binaridade de gênero.

Portanto, a escolha de rosa para meninas e azul para meninos é o que os pesquisadores chamam de construção social. Não há nada biológico que atraia meninas para a cor rosa e meninos para a cor azul. É apenas algo que nossa sociedade inventou. Então, quando for assistir o live-action da Barbie, lembre-se de que se a história tivesse sido diferente, poderíamos estar assistindo uma boneca ganhar vida em uma casa azul, com um carro azul e roupas azuis.

* Kim Elsesser é colaboradora sênior da Forbes USA. Ela é especialista em vieses inconscientes de gênero e professora de gênero na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).

(traduzido por Gabriela Guido)