Valor da seleção brasileira feminina de futebol supera os R$ 10 milhões

4 de julho de 2023
Getty Images

Ao marcar o gol que a tornou a única pessoa a golear em 5 Copas do Mundo, Marta protesta pela igualdade de gênero no futebol

Na madrugada da última segunda-feira (3) a seleção brasileira feminina de futebol viajou rumo à Austrália para disputar a Copa do Mundo de futebol feminino, que também terá como país-sede a Nova Zelândia. A Forbes levantou, com exclusividade, o valor de mercado da equipe brasileira, que é de 2,03 milhões de euros (R$10.607.765,00 na cotação atual), junto do Soccerdonna, portal de futebol feminino da plataforma Transfermarkt.

Esse valor leva em consideração os valores de mercado das jogadoras convocadas como titulares e suplentes por Pia Sundhage, técnica das brasileiras. Esse valor é calculado pela equipe do Soccerdonna com base em critérios que podem servir de referência para os clubes interessados em contratar uma atleta, como desempenho esportivo, salário, idade, potencial de desenvolvimento, taxas de transferência, valor de marketing, entre outros.

Veja, abaixo, as seleções com os maiores valores de mercado – consultados em 30 de junho, podendo sofrer atualizações – que vão disputar a próxima Copa do Mundo:

As seleções mais valiosas desta Copa do Mundo

1. Alemanha - 4.250.000 euros
2. Espanha - 4.090.000 euros
3. Inglaterra - 3.650.000 euros
4. Estados Unidos - 3.065.000 euros
5. França - 2.815.000 euros
6. Holanda - 2.775.000 euros
7. Suécia - 2.495.000 euros
8. Noruega ​- 2.055.000 euros
9. Brasil - 2.030.000 euros
10. Austrália - 1.285.000 euros

O valor de mercado não é necessariamente similar às multas rescisórias pagas para transferência das atletas de um clube para outro quando o contrato de trabalho da jogadora em questão ainda está em vigor. A transferência pode ocorrer por um valor muito maior ou até mesmo menor que o previsto pelo mercado, desde que haja acordo entre os clubes envolvidos. Além disso, há barreiras na legislação dos países, além do regulamentos das próprias ligas nacionais, que determinam os parâmetros para o valor dessas multas de acordo com os salários dos atletas.

Quase metade da equipe composta por novatas em uma Copa do Mundo, o time brasileiro conta com jogadoras de valores de mercado consolidados e outras cinco ainda com valor de mercado que não foi levantado pelo Soccerdonna. Jogadoras já veteranas, Marta e a atacante Bia Zaneratto valem 80 mil euros (R$418,04 mil) e 110 mil euros (R$574,5 mil), respectivamente.

As jogadoras mais caras são as atacantes Debinha, valendo 250 mil euros (R$ 1,306 milhão), e Geyse, com valor de mercado de 225 mil euros (R$ 1,175 milhão). Duas apostas de Pia para a renovação da seleção também têm altos valores de mercado ainda jovens: a meio-campo Kerolin, 23, com 200 mil euros (R$ 1,047 milhão) e zagueira Lauren, 20, que vale 125 mil euros (R$ 654,7 mil). Na outra ponta de experiência profissional, a zagueira Mônica tem valor de mercado de 50 mil euros (R$ 261,9 mil) e, a lateral Tamires, de 40 mil euros (R$ 209,5 mil).

A disparidade de gênero nos valores de mercado

A desigualdade entre homens e mulheres no futebol se traduz também nos valores de mercado nos times. O valor de mercado das brasileiras, de 2,03 milhões de euros, é bem menor se comparado ao do time masculino, que é de 899,5 milhões de euros (R$4,7 bilhões na cotação atual).

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Não só os salários das jogadoras são muito menores dos homens, muitos dos quais ganham mensalmente quantias milionárias, mas também as taxas de transferência, as condições financeiras de ligas e de clubes e as durações dos contratos influenciam para valores de mercado mais baixos no futebol feminino. “Os valores de mercado também devem ser definidos nessa faixa e ajustados à realidade do nível de pagamento do futebol feminino”, diz Kay-Ole Schönemann, gestor do Soccerdonna.

A brasileira com a transferência mais cara foi Adriana, que saiu do Corinthians para o Orlando Pride por US$ 100 mil (R$ 478,7 mil), e a transferência mais cara da história do futebol feminino foi a de Keira Walsh, que foi do Manchester City ao Barcelona, valendo 350 mil libras. (R$2,126 milhões). “A maioria dos clubes paga taxas de transferência na faixa de 20 mil a 400 mil euros”, diz Schönemann.

O desenvolvimento do futebol feminino no Brasil

Enquanto a seleção brasileira de futebol foi criada em 1914, a seleção brasileira feminina de futebol só foi oficializada em 1988 quando jogou sua primeira partida. As jogadoras convocadas eram do carioca Radar, por ser um time que se destacava no desenvolvimento de suas atletas, muito diferente da realidade dos outros clubes do país.

Grande parte das equipes femininas no Brasil, por sua vez, só foram criadas depois da necessidade de ter clubes femininos para que os homens pudessem participar das competições da Conmebol em 2016 – obrigatoriedade criada com a determinação da Fifa de que as confederações estimulem a igualdade de gênero. Reforçada pela CBF em 2019, hoje todos os times que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro precisam investir no futebol feminino.

Em fevereiro deste ano, entretanto, Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, anunciou que as equipes das quatro divisões do Campeonato Brasileiro masculino deverão ter uma equipe feminina. “A gente ainda tem uma necessidade muito grande de estruturação do que se entende como um futebol profissional de alto rendimento que envolve os clubes brasileiros. O cenário do sudeste não pode ser equiparado ao que está acontecendo no norte e no nordeste do país”, diz Aira Bonfim, pesquisadora do futebol feminino e curadora da exposição Rainha de Copas, do Museu do Futebol.