Num ano em que Barbie, Beyoncé e Taylor Swift demonstraram o poder econômico das mulheres, as personagens femininas ainda ficaram sub-representadas nas telonas. Um novo estudo analisou os principais filmes de 2023 e concluiu que apenas cerca de um terço dos personagens com falas eram mulheres.
O Centro para o Estudo das Mulheres na Televisão e no Cinema da Universidade Estadual de San Diego estuda as disparidades de gênero nos 100 filmes de maior bilheteria desde 2002. Este ano, analisou os 2.200 personagens que aparecem entre os top filmes de 2023. Apenas 35% dos papéis falados foram ocupados por mulheres, uma queda em relação aos 37% do ano anterior. Quase 80% dos filmes de maior bilheteria no ano passado tinham mais homens falando do que mulheres.
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Além disso, menos de um terço (28%) dos filmes de 2023 contavam histórias a partir de uma perspectiva feminina, enquanto 62% tinham um protagonista masculino. É o menor percentual de filmes com protagonistas femininas desde 2017. “Como a Barbie conquistou grande parte do espaço cultural em 2023, as personagens femininas podem ter parecido mais abundantes nos filmes do ano passado”, diz Martha Lauzen, autora do relatório e fundadora e diretora executiva do Centro para o Estudo das Mulheres na Televisão e no Cinema, explicando que não foi o que aconteceu.
Etarismo de gênero no cinema
Não é de se surpreender que as personagens femininas na tela fossem geralmente mais jovens que os homens. “Limitar a idade das personagens também limita a capacidade das mulheres de envelhecerem em posições de poder pessoal, político e profissional”, afirma Lauzen.
E também houve uma queda significativa de mulheres a partir dos 40 anos nos filmes. A maioria dos personagens masculinos em 2023 tinha mais de 40 anos (52%), contra apenas 28% das personagens femininas. “Embora possamos comemorar as atuações de Jane Fonda, Diane Keaton, Rita Moreno e outras atrizes com mais de 60 anos no ano passado, essa faixa etária compreendia apenas 7% de todas as mulheres nos filmes de maior bilheteria de 2023”.
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Papéis de liderança – dentro e fora das telas
A escassez de mulheres nas telas pode ser parcialmente atribuída à falta de roteiristas e diretoras. Filmes com pelo menos uma mulher nessas posições tinham maior probabilidade de apresentar porcentagens mais altas de mulheres como protagonistas, em papéis significativos e como personagens falantes.
Os papéis dos homens também foram mais desenvolvidos do que os das mulheres, e grande parte das personagens femininas acabaram caindo em estereótipos de gênero. “Personagens femininas eram mais propensas do que os homens a ter um estado civil conhecido, enquanto os personagens masculinos eram mais propensos a ter uma profissão identificável e a serem vistos trabalhando.”
Uma porcentagem muito maior de personagens masculinos (76%) do que femininos (60%) tinha uma ocupação clara. Dos personagens retratados como líderes, 63% eram homens e apenas 37% eram mulheres.
Diversidade racial e étnica
No que diz respeito à raça e etnia, a representação de personagens femininas latinas e negras também sofreu um declínio a partir de 2022. As latinas passaram de 6,9% de todos os papéis femininos com fala em 2022 para 6,3% em 2023. As mulheres negras representavam 15,3% de todas as personagens femininas em 2023, contra 18,0% no ano anterior. E a porcentagem de mulheres asiáticas aumentou de 8,1% em 2022 para 9,2% em 2023.
O mais surpreendente do relatório é a falta de qualquer progresso para as mulheres no cinema. Os gráficos que mostram as porcentagens de mulheres em papéis de fala e como protagonistas, ao longo do tempo, não deixam espaço para otimismo. A representação das mulheres no cinema está estagnada ou retrocedendo – o que reforça a importância de mais profissionais mulheres liderando grandes produções e de maior reconhecimento da indústria a elas.
*Kim Elsesser é colaboradora sênior da Forbes USA. Ela é especialista em vieses inconscientes de gênero e professora de gênero na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).