117 anos de reinvenções

5 de janeiro de 2023
Ilustração: Ciro Girard

Energisa dedica 1% de seu faturamento anual à pesquisa

Fundada em 1905 na cidade de Cataguases, no interior de Minas Gerais, a antiga Companhia de Força e Luz Cataguases Leopoldina é a mais antiga desta lista de empresas inovadoras. Aqui, porém, antigo não é um sinônimo de velho. “A empresa listou suas ações na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro em 1907, dois anos após sua fundação”, diz Lucas Pinz, diretor de inovação da Energisa, denominação atual da empresa.

Ainda listada em bolsa, a companhia é uma das líderes do setor elétrico. É uma companhia de grande porte. Trata-se da quinta maior distribuidora de energia do país. Tem operações em 862 municípios, localizados em 11 estados brasileiros, servindo 20 milhões de pessoas. Em 2021, seu faturamento consolidado foi de R$ 23,7 bilhões, e o lucro líquido foi de R$ 3,1 bilhões.

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Com atividades tão extensas e números tão grandes, qualquer melhoria de processos, ainda que marginal, tem um impacto profundo nos resultados. Por isso, a companhia dedica 1% de seu faturamento anual à pesquisa. “São muitas iniciativas, e buscamos engajar todos os 15 mil colabores da companhia, da diretoria às equipes de campo”, diz Pinz.

Um dos produtos é um religador das redes de distribuição. Todos já passaram pela experiência de ter de religar a energia doméstica devido a um pico de tensão. O equipamento desenvolvido pela companhia faz a mesma função, mas nas redes externas. “Há religadores espalhados em centenas de quilômetros de linhas”, afirma o executivo. “Eles monitoram as linhas, alertam se houver alterações na tensão e permitem religar o fornecimento remotamente.” É muito mais ágil (e barato) do que mandar uma equipe para fazer o serviço manualmente. O equipamento foi desenvolvido pela empresa, que montou uma fábrica no interior de São Paulo para produzir em larga escala. E o sistema está patenteado e já é exportado para distribuidoras de eletricidade na Colômbia e no Equador.

Outro exemplo é a manutenção preditiva das subestações de distribuição. “Preditiva, não preventiva”, diz Pinz. Usando recursos de inteligência artificial e muitos dados, a Energisa é capaz de prever com um grau razoável de antecipação quando uma central vai “pifar”, deixando um bairro (ou uma cidade) às escuras. “Conseguimos antecipar em vários dias os problemas em subestações, e, por evitarmos manutenções corretivas, conseguimos economizar R$ 5 milhões em custos potenciais só com isso.” E há mais: as distribuidoras de eletricidade no Brasil têm de lidar com o problema crônico dos galhos de árvores que caem sobre os fios. É o que uma seguradora chama de risco catastrófico: quando há uma tempestade, dezenas de árvores podem cair ao mesmo tempo, apagando regiões inteiras de uma vez. “Desenvolvemos um sistema que usa aprendizado de máquina para antecipar onde a vegetação poderá causar problemas e realizar podas preventivas”, diz o executivo.

Inovar com eficiência vai além de apenas investir dinheiro. Segundo Pinz, a inovação só é possível porque a empresa se esforça para manter-se permeável às ideias de fora. “Somos um incumbente, uma empresa grande, e precisamos estar abertos a inovações de startups.” Pinz tem experiência no assunto. Formado em informática, ele começou sua carreira e passou duas décadas no grupo Promon, uma das primeiras empresas brasileiras a levar a inovação a sério, ainda nos anos 1970. E ele segue pilotando a inovação na Energisa, que acelerou os investimentos em inteligência artificial nos últimos dois anos. “A transição energética aumentou essa necessidade”, diz ele. “O cliente percebe isso – é um diferencial para manter a competitividade.”

*Reportagem publicada na edição 102, lançada em outubro de 2022