No lugar de um humano para monitorar granjas de suínos, a startup gaúcha Roboagro, com sede em Caxias do Sul, está propondo robôs para a tarefa. Entre terça-feira (30) e quinta-feira (1º de junho), a empresa está mostrando um equipamento robótico com essa função na Agriness Next, o principal evento de inovação, tecnologia e gestão para a produção animal, que ocorre em Florianópolis (SC).
Atualmente, a empresa tem cerca de mil robôs operando nas granjas de suínos. A nova tecnologia é um avanço na qualidade do serviço prestado que responde a um dos principais gargalos da criação: a falta de mão de obra. Ao robô original, um sistema que apenas alimentava todos os animais com a mesma quantidade de ração, no final do ano passado, a Roboagro apresentou um upgrade para personalizar a dieta dos animais, por exemplo, entregando dois ou mais tipos de rações e medicamentos, de acordo com a quantidade e nutrientes necessários em cada baia.
Leia também:
- Bem-estar animal: por que aves e suínos precisam ser incluídos nessa tendência
- 7 mitos e verdades sobre as práticas de bem-estar animal
- Entenda a importância do bem-estar único para animais, humanos e ambiente
Agora, por meio de câmeras e sensores acoplados, o robô ganha ainda mais funções remotas. Ele pode monitorar em tempo real o desenvolvimento, a engorda e o comportamento dos suínos na granja, no período de 120 dias que vai do pós-desmama até o abate.
Alimentar os animais corretamente, checar o conforto e monitorar a saúde dos suínos são ações fundamentais na fase de terminação. São elementos que contribuem para uma boa conversão alimentar – que significa o quanto um animal come para produzir um quilo de carne – e que constitui um dos pontos mais importantes a serem monitorados, já que o custo de alimentação pode chegar a até 80% dos custos dessa fase.
No ano passado, o VBP (Valor Bruto da Produção) de suínos no Brasil foi de R$ 31,9 bilhões. Foram abatidos 45,6 milhões de animais, que resultaram em 4,983 milhões de toneladas de carne e subprodutos comestíveis. Desse total, 77,5% da produção foi consumida no próprio país. Mas o peso do custo de produção pode deixar uma margem de lucro bem apertada ao produtor. Mas as tecnologias estão ajudando nessa tarefa.
“A nova tecnologia permite que a sanidade, o comportamento e o bem-estar animal sejam acompanhados durante o trato diário”, afirma Giovani Molin, CEO da Roboagro, empresa que tem como foco a suinocultura de precisão no Brasil. “Com base nos dados inseridos automaticamente na plataforma, o gestor da granja tem como tomar as melhores decisões sobre alimentação, medicação e abate dos suínos.”
Confira a entrevista com Molin, a seguir:
Forbes: Quanto tempo a empresa levou para desenvolver o robô?
Giovani Molin: Foram seis anos desde a primeira versão. Era um robô que distribuía a mesma ração para todos os animais. Essa é uma versão original ainda comercializada, em que novas funcionalidades são acopladas.
F: O que o levou a apostar nesse mercado?
GM: O Sul é responsável por mais de 70% da produção de suínos do Brasil e mais de 95% das exportações de carne suína. Dessa forma, estamos muito próximos dos suinocultores. Caxias do Sul é o segundo polo metal mecânico do Brasil. Dessa forma, aproximamos todo conhecimento tecnológico e mercadológico. Conhecendo a necessidade dos suinocultores, identificamos inúmeras oportunidades que poderiam gerar resultados no dia a dia dos produtores e agroindústrias. A empresa usou muito do conhecimento que tem sobre agricultura de precisão e trouxe pra suinocultura os mesmos conceitos. O de cuidar de cada área, como se fosse a única, a principal. E faz assim, ao cuidar baia a baia.
F: Quais foram as etapas dessa construção, entre pesquisa, protótipo e produto?
GM: O robô teve muitas evoluções ao longo desses últimos anos, com a inserção de diferentes implementos e acessórios que melhoram e muito a renda do produtor e reduzem os custos de produção. O desenvolvimento de um aplicativo para controle em tempo real do que acontece em cada lote, durante todo o andamento do lote, em cada granja, revolucionou a forma de gerir a produção, transformando o produtor em um gestor da granja.
Criamos a plataforma, um BI (business intelligence) com tudo que acontece em cada baia com informações em tempo real para garantir os melhores resultados. Dizemos que é a suinocultura de precisão na palma da mão.
Além desse relacionamento direto com os produtores e agroindústrias, fizemos muitos contatos e estreitamos os laços com universidades, empresas de nutrição e de genética, atuantes e líderes no setor para identificar as principais demandas e oportunidades a serem desenvolvidas. A partir disso, a empresa investiu pesado para o desenvolvimento dessa solução até chegar nessa solução do Roboagro, que é um robô móvel multitarefa, atuando como alimentador e gerenciador da suinocultura.
F: Quanto dessa tecnologia é nacional?
GM: A solução é 100% brasileira, nacional e patenteada mundialmente. O Brasil é uma potência do agronegócio mundial. Estamos exportando conhecimento e tecnologia na produção de alimentos. Há pouco tempo estive na maior feira do setor, que ocorre na Alemanha, para ver como estava o setor em nível mundial, se tinha alguma coisa mais moderna, inclusive para acrescentar no Roboagro, e não encontramos nada nesse nível. O robô é completo.
F: Mas já existe algum similar para suínos ou outra categoria animal?
GM: Não existe nenhum outro robô alimentador de suínos. Está começando agora a ter alguns robôs para limpeza das granjas. Em outras aplicações, existem robôs para ordenhar vacas.
F: Quanto de mão de obra o produtor economiza na operação?
GM: O robô faz todo o serviço sozinho. Ele é 100% autônomo e conectado, sem a dependência do produtor. O sistema proporciona a melhor conversão alimentar gerando uma economia de até R$ 60 por animal produzido. Considerando que um robô atende até 3.000 animais por lote, a economia chega a ser de R$180 mil por lote com apenas um robô.
F: Quanto custa para um produtor ter a tecnologia dos robôs?
GM: Os robôs são comercializados em duas modalidades, em formato de compra ou locação. O preço inicial parte da faixa de R$ 70 mil por robô e aumenta de acordo com a quantidade de animais e de acessórios. Na locação, onde o produtor não precisa fazer investimentos, o custo do serviço é de R$ 2 por animais, mais R$ 15 por animal relativo ao equipamento.
F: Quanto foi investido para chegar a esse produto? E quem financiou?
GM: Para chegar nesse nível de solução, a empresa investiu perto de R$ 15 milhões. Uma parte veio de recursos de editais de inovação e outra parte de investidores que apostaram na transformação da suinocultura mundial.