“O Brasil pode ser um celeiro de talentos para a indústria espacial”, diz Jeff Michaelis

10 de setembro de 2023

Jeff Michaelis: “Os principais impactos da exploração espacial já são claramente mostrados na Terra como o uso de várias tecnologias, como o smartphone, os microchips, carros autônomos”

A corrida espacial privada é um fenômeno recente, que começou a ganhar força na década de 2000. Empresas como SpaceX, Blue Origin e Virgin Galactic investem bilhões em pesquisas e desenvolvimento de tecnologias espaciais.

Essa corrida é importante para vários países do mundo por diversos motivos. Em primeiro lugar, ela está ajudando a reduzir os custos da exploração espacial. As empresas privadas estão desenvolvendo tecnologias mais eficientes e acessíveis, o que está tornando possível realizar missões espaciais mais baratas.

Em segundo lugar, a corrida espacial privada está gerando empregos e impulsionando o desenvolvimento econômico. As empresas privadas estão contratando engenheiros, cientistas e outros profissionais especializados, o que está ajudando a criar empregos em diversos setores da economia. Além disso, a corrida espacial privada está estimulando a inovação.

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Nesse contexto, existe um cenário aquecido de formação e busca por mão de obra qualificada, inclusive em países como o Brasil. É o que diz Jeff Michaelis, presidente da Michaelis Foundation, especialista em pesquisa de exploração espacial e consultor do International Space Academy, programa global de incentivo à educação espacial investido pela Nasa.

O cientista está no Brasil para o lançamento da Missão Marte, exposição interativa organizada pela International School em parceria com o Kennedy Space Center – KSCIA, no Morumbi Town Shopping, em São Paulo. Jeff falou à Forbes Brasil sobre a importância de trazer a educação aeroespacial para países como o Brasil. “O espaço é há muito tempo uma gigantesca incubadora de inovação”, afirma.

Confira abaixo as 8 melhores fotografias tiradas pelo James Webb em um ano de operação:

Forbes Brasil – Vivemos uma nova fase em relação à exploração espacial, principalmente com a entrada de agentes privados. Quais são os principais destaques desse momento?
Jeff Michaelis – Podemos dizer que o espaço é, há muito tempo, uma gigantesca incubadora de inovação. Atualmente, os principais destaques são o avanço da cooperação entre as empresas do New Space, que são instituições, organizações e empresas que nasceram nos últimos 10-12 anos para avançar a exploração espacial. O New Space possibilita a criação de novas tecnologias, empresas estão desenvolvendo e lançando seus próprios foguetes e satélites (mais modernos e mais baratos), além de oferecer a oportunidade de mais pessoas ao redor do mundo terem acesso às novas tecnologias. As indústrias e farmacêuticas, por exemplo, podem estabelecer um laboratório em uma estação espacial comercial para estudar as células, como já está acontecendo com uma colaboração inédita entre Brasil & Estados Unidos no projeto de “Stem Cell Microgravity Research”, e empresas de semicondutores que podem fabricar chips em fábricas no espaço para determinar se algum aspecto do ambiente espacial, como a falta de gravidade, melhora o processo.

FB – Em relação a Marte, pode comentar os desafios e perspectivas para a exploração do planeta?
Jeff – Os desafios para a exploração de Marte são grandes (com a nossa atual tecnologia), contudo com a cooperação internacional poderemos aumentar as chances de sucesso. Para reduzir o custo e o risco da exploração humana de Marte, as missões robóticas irão explorar e ajudar cientistas e pesquisadores a encontrarem recursos potenciais e os riscos de, no futuro, colonizar o planeta. Desta maneira, antes de enviarmos astronautas, iremos compreender os perigos de avançar a exploração do planeta. Outro desafio será a compreensão de eventuais riscos biológicos no solo e na poeira de Marte, o que ajudará no planejamento e preparação das futuras missões. As perspectivas: durante as próximas duas décadas, a Nasa, e possivelmente empresas privadas, conduzirão missões para avaliar se alguma vez surgiu vida em Marte. A busca começa com a determinação se o ambiente marciano já foi adequado para a vida. Marte é um excelente planeta para investigar essa questão porque é o planeta mais semelhante à Terra no Sistema Solar. As evidências sugerem que Marte já foi cheio de água, mais quente e tinha uma atmosfera mais espessa, oferecendo um ambiente potencialmente habitável.

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FB – O que você destacaria como as principais tecnologias e impactos que uma exploração espacial pode trazer para o planeta?
Jeff – Os principais impactos da exploração espacial já são claramente mostrados na Terra. O uso de várias tecnologias, como o smartphone, os microchips, carros autônomos. Na medicina, hoje, temos vários equipamentos que inicialmente foram desenvolvidos para as missões espaciais e hoje são frequentemente usados na terra. Água filtrada ou água limpa, por exemplo, é uma das contribuições mais significativas que a exploração espacial deu ao planeta Terra. A necessidade de filtrar adequadamente a água para os viajantes espaciais levou a Nasa a desenvolver uma maneira de filtrar a água de maneira simples e portátil, de um jeito eficiente. Como resultado, sistemas de filtragem de água baratos e fáceis de usar foram projetados e usados em todo o mundo para fornecer água potável ou cultivar culturas em solos que de outra forma seriam estéreis. Os pneus dos carros agora podem ter uma vida útil de até 16.000 kms extras. A missão Viking, enviada a Marte na década de 1970, usou um material 5 vezes mais resistente que o aço. Esta tecnologia é o que dá longa vida aos “novos” pneus. Comida congelada (Freeze Dry), incluindo sorvetes, foram desenvolvidos para as missões Apollo à Lua. O objetivo era manter a nutrição para manter os astronautas saudáveis, mas economizar peso. O resultado: até 98% do valor nutricional, 80% menos peso. Hoje, mais de 160 satélites monitoram a Terra para avaliar os efeitos do aquecimento global e detectar atividades, como a exploração madeireira ilegal, que possam contribuir para o problema.

FB – Como você vê a importância de uma exposição como essa para países como o Brasil?
Jeff – A exposição Marte é uma oportunidade para estudantes e educadores poderem conhecer de perto o que atualmente está sendo feito nos Estados Unidos pela KSCIA na área de pesquisa e educação espacial. Participantes terão a chance de ver der perto artefatos que participaram de missões espaciais. Essa parceria pioneira entre a International School no Brasil e o KSCIA nos Estados Unidos com certeza beneficiará centenas de escolas e jovens no Brasil e dará acesso aos participantes a vivenciarem um pouquinho da nossa área do “New Space”, onde empresas de todo o mundo estão em busca de talentos. Juntos, estamos preparando a nova geração de cientistas, pesquisadores, e exploradores espaciais.