EXCLUSIVO: Agfintech ajuda a FMC Agrícola a ofertar R$ 100 milhões em crédito

1 de junho de 2021
Divulgação

Bernando Fabiani, CEO da TerraMagna, diz que ferramenta pode ajudar o produtor a ter insumos mais em conta

Financiar o custeio da lavoura é um dos encargos que mais pesa na gestão dos cultivos no campo, sejam eles perenes ou anuais. O caminho para baratear a cadeia de suprimentos é um desafio nas empresas, para que elas ganhem competitividade no mercado. Foi exatamente esse desafio que uniu três agentes, em setembro do ano passado: a agfintech TerraMagna, a consultoria Markestrat e a multinacional americana de químicos e biológicos, a subsidiária FMC Agrícola. Neste mês, a TerraMagna começa a levar ao mercado uma ferramenta digital de acesso ao crédito na compra de insumos agrícolas, destinada ao setor de revenda, com previsão de entrada em operação no próximo mês de agosto.

São R$ 100 milhões destinados à operação que consiste em ofertar ao distribuidor de insumos a possibilidade de descontos na compra, ao mesmo tempo em que a FMC – geralmente o ator financiador – recebe à vista. A ferramenta desenvolvida pela TerraMagna faz parte de um contexto no qual, cada vez mais, o mercado de capitais se aproxima do agro. “A realidade do distribuidor de insumos é que ele acaba comprando sempre a prazo da agroindústria. Paga dali oito meses, o que é chamado prazo safra. Com a ferramenta financeira, a revenda vai continuar fazendo o mesmo, mas a vantagem é o desconto no preço da tabela da FMC, e que pode ser repassado ao produtor rural”, disse Bernardo Fabiani, CEO da Terra Magna, em entrevista exclusiva à Forbes. Fabiani, 28 anos, é engenheiro eletrônico formado pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), em São José do Campos (SP), onde também está a agfintech. Aliás, da sede da TerraMagna, na qual trabalha um grupo de 100 pessoas, é possível ver o Centro Tecnológico do ITA. Criada em 2016, a agtech nasceu como uma plataforma com foco na agricultura, para a concessão e cobrança de crédito aos distribuidores de insumos, agroindústrias, concessionárias e montadoras do setor.

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Na fase inicial, para colocar a ferramenta financeira no mercado, foram listadas 50 revendas, de um grupo de 90 distribuídas por todo o país. Há em operação no mercado cerca de 1.900 revendedores, de acordo com a Andav (Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários). O mercado de insumos, que abarca defensivos agrícolas, sementes, fertilizantes, máquinas e equipamentos, é estimado, segundo o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto), que no ano passado foi de R$ 7,4 trilhões. No caso dos revendedores escolhidos para o início da ação, o grupo tem potencial de expansão dos negócios da FMC, com aumento da presença em prateleira. “É a primeira operação dessa natureza que a FMC faz e também a primeira via plataforma de seu programa de fidelidade”, afirma Fabiani. Para turbinar as vendas, além do financiamento de produtos da empresa, o revendedor pode utilizar parte do crédito para a compra de outros insumos, como fertilizantes, por exemplo.

A FMC é uma gigante global que no ano passado faturou US $ 4,6 bilhões, aumento de 1,7% em relação a 2019, e que tem uma forte presença na América Latina. Na apresentação dos resultados, no início do ano, o CEO global da corporação, Mark Douglas, destacou três pontos no ano: os 35 novos ingredientes sintéticos e biológicos no pipeline, as 11 moléculas que serão lançadas até 2030 e que adicionarão uma receita entre US$ 1,8 e US$ 2,1 bilhões, e o lançamento da FMC Ventures, um novo braço de capital de risco focado em investimentos estratégicos em startups.

Atualmente, a empresa tem soluções para 19 culturas, entre elas soja, milho cana, algodão, eucalipto, arroz, feijão tabaco, café e hortifrutis, entre eles folhosas, tomate, laranja, melão e cebola. São produtos como herbicidas, inseticidas, fungicidas, nematicidas, tratamento de sementes e biológicos, destinados ao controle de pragas, plantas daninhas e doenças. Foi exatamente para definir os modelos de pacotes de crédito que a Markestrat entrou no projeto, por sua larga experiência na distribuição de insumos. “Nós, da TerraMagna, somos muito bons em gerir crédito no agro e colocar esse tipo de ferramenta financeira de pé. Mas o entendimento consultivo mais fino da necessidade do distribuidor partiu muito da Markestrat”, diz Fabiani. “Eles ajudaram muito a desenhar o porque um insumo é importante na lavoura e como ele vai ajudar o distribuidor a aumentar suas vendas, por exemplo.”

O fato é que fidelizar o distribuidor exige esforço em um mercado bastante competitivo, como é o de insumos, onde estão gigantes do porte de Bayer, Basf e Corteva, entre outras. Aí está a resposta da grande corrida por inovações.  A análise de crédito, via ferramenta desenvolvida pela TerraMagna, que mede os riscos utilizando satélites, inteligência artificial e dados alternativos, já foi testada pela agfintech em uma parceria de estruturação de CPR (Cédula de Produto RuraL), com os fundos Sparta e Grano Capital numa operação de R$ 50 milhões no início deste ano. “A nossa experiência foi muito positiva e agora estamos confortáveis com os R$ 100 milhões para começar a parceria com a FMC”, declara Fabiani. Sem declarar valores, o executivo afirma que a agfintech ganha no volume originado e no desempenho dos produtos vendidos. “De cada R$ 1 milhão colocado na rua, uma fração disso vai para a empresa. Mas o produto final FMC, contando a TerraMagna, ainda é mais barato que a tabela da FMC”.

Outra ajuda preciosa deve vir do mercado de barter, no qual o agricultor troca parte da safra por insumos numa operação financeira que dá tranquilidade em tempos de dólar valorizado. Em Mato Grosso, por exemplo, o IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), estima que a venda antecipada da safra de soja 2021/22, que começa a ser plantada em outubro, já está em 27,72% da produção esperada, um índice histórico para esse tipo de adiantamento de crédito. “A ferramenta complementa o barter porque, de uma forma ou de outra, ele acaba sendo uma venda a prazo. Como o risco da operação acaba ficando com a gente, introduzimos no barter a figura do financiador de insumos”, afirma Fabiani. “Somos uma empresa de tecnologias e a gente só se sente confortável em levar dinheiro para o campo por conta da clareza tecnológica do que está acontecendo no campo.”

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