Ometto, aliás, é um noveleiro confesso: “Quando não consigo assistir às minhas novelas, gravo e assisto depois – e também agora temos Netflix”, comemora, referindo-se aos streamings que não o deixam perder nenhum capítulo de novela ou série. A cabeça que construiu uma das principais companhias do país tem esse jeito de ser: não deixa nada para trás e vai arrastando para junto de si tudo o que está à sua volta, tem olhos atentos no presente e uma vontade gigante de inventar um futuro. “É fundamental para o Brasil de hoje o sucesso do agronegócio”, sentencia.
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A Raízen, que nasceu em 2011 como uma joint venture com a norte-americana Shell, faturou no ano passado R$ 120,6 bilhões. A companhia é uma das mais modernas do mundo na produção de etanol de primeira e de segunda geração (produzido a partir da palha, a biomassa que seria descartada no campo), mais biogás, bioenergia e hidrogênio verde a partir dos resíduos do biogás, que por sua vez é gerado pelos resíduos do etanol de segunda geração.
A façanha não faz parte de algum livro ou filme de ficção científica, já que o hidrogênio normalmente é extraído de combustíveis fósseis: o primeiro contrato de fornecimento de hidrogênio verde foi fechado em setembro passado com a produtora de fertilizantes Yara, que em 2020 faturou R$ 16 bilhões. Nos negócios da companhia, somente de unidades produtoras são 35 destinadas a açúcar, etanol, bioenergia e refinaria, que se abastecem em uma área cultivada de 1,3 milhão de hectares de cana-de-açúcar.
Quando questionado sobre como planejou seus negócios para se tornar o que é hoje, Ometto diz que “mente pra caramba sobre ser tudo planejado, quando na verdade as coisas vão acontecendo”. Mas o engenheiro de produção formado em 1972 na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, que sempre “quis, na vida pessoal e profissional, ser um maratonista e não um corredor de 100 metros”, deixa muito claro o que pensa do futuro e como o país tem se encaminhado nos dias atuais, especialmente nos temas ligados à produção de alimentos, bioenergia e meio ambiente.
A saída é estar sempre na vanguarda. Ometto diz que sobreviveu às crises do setor da cana-de-açúcar, principalmente a iniciada em 2011 e que levou à quebra de mais de uma centena de usinas, porque sempre teve como régua levar os projetos em frente e “não aceitar as coisas como elas são”.
Não por acaso, foi um dos primeiros a fazer exportação privatizada de cana-de-açúcar (antes era só o governo que fazia), um dos primeiros a entrar de cabeça na cogeração de energia elétrica com o bagaço de cana, o primeiro a investir em logística para diminuir os custos de exportação e um dos primeiros a abrir o capital para ter acesso a dinheiro mais barato. “E sempre fomos uma empresa que acreditou nos seus líderes, porque nenhum sistema é melhor que os homens e as mulheres que o compõem.”
Hoje são cerca de 40 mil funcionários e 15 mil parceiros de negócios em todo o país. É justamente sobre pessoas que Ometto mais tem disposição para falar. Sobre o futuro de seus negócios, ele diz que caberá aos herdeiros tomar as decisões como acionistas. Ometto é pai de duas mulheres e avô de quatro netos. Mas ele guarda uma carta na manga.
*Reportagem publicada na edição 92 da Revista Forbes como parte do Especial “As 100+ do Agro”