Aos 121 anos, como a moderna Expointer liga o campo à cidade

30 de agosto de 2022
Vera Ondei

Apresentação dos animais para serem avaliados é uma das atrações

No agro brasileiro, as modernidades estão por toda parte. Dos drones ao trator de biometano, dos alimentos que fazem as vacas arrotarem menos à vacina para proteger a saúde de peixes, as tecnologias impulsionam o setor. Mas as modernidades não começaram hoje. Elas são um trunfo histórico e não há nada mais emblemático dessa trajetória que a mais tradicional exposição agropecuária do país, a Expointer, que neste ano completa 121 anos. Nasceu em 1901, já recebeu nomes diferentes do atual, até que em 1972 se tornou internacional.

A feira, que acontece em Esteio, município da região metropolitana de Porto Alegre (RS), começou no sábado (27) e vai até 4 de setembro. Como todos os demais eventos do período agudo de pandemia da Covid-19, as Expointer 2020 e 2021 foram em modo virtual, o que se mostrou um desafio quase impossível de ser traduzido no que ela representa de fato: um gigante palco de relacionamento entre produtores, empresas, pesquisadores, academia e, no caso da Expointer, o maior encontro da cidade com o campo que acontece no país.

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Não há no Brasil um espaço que represente melhor essa simbiose, palavra que na ecologia significa a interação entre duas espécies que vivem juntas. Nesta edição são esperadas 600.000 pessoas no parque Assis Brasil, onde ela ocorre, uma imensa área “urbana” de 140 hectares. Para ter a dimensão de seu tamanho, são 10 mil vagas somente para estacionamento de veículos, embora a maior parte do público chegue ao local de transporte público. Só para comparação, o maior shopping center da América Latina, que tem 15 mil vagas de estacionamento, é o Aricanduva, na grande São Paulo, região metropolitana de 22 milhões de habitantes. A região metropolitana de Porto Alegre tem 4,4 milhões.

Na abertura, o governador gaúcho Ranolfo Vieira Júnior falou que “a Expointer sempre foi o momento em que o Rio Grande do Sul mostra ao Brasil e ao mundo a força da sua maior vocação, que é o agronegócio.” Estão no parque 6.378 animais, entre bovinos, equinos, ovinos e caprinos, além das áreas dedicadas às empresas de máquinas, implementos, crédito, saúde animal, nutrição, genética, mais os vários pavilhões temáticos, sendo a grande atração o espaço destinado à agricultura familiar, onde estão 337 expositores com produtos da agroindústria. É o local mais visitado da feira pelo público urbano, segundo os organizadores.

Vera Ondei

Setor de máquinas e equipamentos tem público garantido na Expointer

Aos produtores rurais, a Expointer serve para mostrar a qualidade animal por meio de julgamentos, participar de leilões, comprar genética, negociar máquinas, implementos agrícolas e se inteirar das novidades e inovações tecnológicas nos estandes das próprias empresas e nos cerca de 300 eventos que ocorrem, como palestras, encontros e simpósios. Os temas vão de mudanças climáticas à elaboração de belas kokedamas, técnica japonesa de cultivo de flores de estruturas esféricas.

A Expointer se tornou um espaço no qual grandes empresas investem para estar presente e atrair os produtores. A multinacional Elanco, por exemplo, do setor de saúde e nutrição animal – e que tradicionalmente participa da mostra – , retornou neste ano de casa nova, um espaço de quase 240 metros quadrados no coração do parque, com auditório para até 60 pessoas. “Sim, sempre estivemos aqui, mas era um sonho ter um local grande, agradável e funcional”, afirma Rodrigo Ferreira, gerente de marketing de Ruminantes para Brasil e Cone Sul, ao qual coube ciceronear os convidados durante a inauguração.

Na área de crédito, o Banrisul, uma das várias instituições financeiras presentes, está colocando à disposição dos produtores R$ 7 bilhões para crédito do Plano Safra 2022/2023. Cláudio Coutinho, presidente da instituição, diz que este é o maior volume da série histórica para a Expointer. Além disso, o Banrisul foi o principal investidor para colocar de pé o RS Innovation Agro, uma esperada novidade da agenda da mostra. Ele consiste em um ecossistema que reúne 60 startups, 10 empresas, 8 hubs, além da participação de cerca de 100 speakers. “Vamos levar essa iniciativa para todo o estado”, diz João Francisco Wolf, presidente da Febrac (Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça), local da feira onde acontece o RS Innovation Agro.

A Expointer é realizada pelos governos do estado e municipal, em parceria com o Sistema Farsul (Federação da Agricultura do RS), o Sistema Ocergs-Sescoop/RS, que reúne cooperativas, mais a Febrac , a Fetag-RS (Federação dos Trabalhadores na Agricultura) e a Simers (Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas).