Foi dessas análises que a companhia abriu sua trincheira de guerra para destruir uma praga da lavoura, a cigarrinha do milho, inseto transmissor de vários patógenos que levam prejuízo às lavouras. A Basf já finalizou as pesquisas e espera pela regulamentação de uma tecnologia que deve controlar a cigarrinha do milho com uma eficácia maior do que o atualmente disponível.
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A dor de cabeça se tornou tão grande que no ano passado a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do estado criou um grupo de trabalho para tentar controlar a incidência da praga. Foi nesse momento que a multinacional encontrou a oportunidade de sair na frente. A empresa, que já trabalhava na pesquisa da molécula para outro uso, decidiu testar sua eficácia contra o inseto. “Não existe nenhum similar a esse ingrediente ativo no mercado. A informação é de que ele entrou como prioridade na lista de aprovação da Anvisa”, diz Ismael, se referindo à Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Mas a Basf não quer acabar apenas com essa praga. Ela é apenas uma das linhas de pesquisa em inovação que a multinacional mantém na EEA, um complexo criado em 1980 e que nos anos 2019 e 2020 recebeu investimentos da ordem de € 7,6 milhões (R$ 40,6 milhões) em novos equipamentos e infraestrutura. Dois novos laboratórios passaram a funcionar este ano, agilizando o desenvolvimento de tecnologias. Está na agenda da companhia o lançamento de oito novas moléculas até 2030, com estimativa de que componham as fórmulas de cerca de 160 novos produtos para o mercado latino-americano.
“Para entender porque temos essa estação, e os vários campos avançados espalhadas no Brasil, precisamos pensar sobre as nossas condições edafoclimáticas, que afetam o ambiente e o solo, pois elas são diferentes e nos fazem ter uma maior incidência de pragas, doenças e plantas daninhas”, explica Ismael. “Testamos aqui as moléculas porque a intensidade da praga traz uma série de desafios diferentes”. A Basf tem 30 estações de pesquisa e campos avançados na América Latina, dos quais 15 estão no Brasil.
Os testes são divididos, de acordo com seus avanços, entre áreas de laboratório, estufas e 57 hectares de campo. Os cerca de 150 técnicos analisam sementes, folhas e estudam insetos para saber se o ativo está surtindo efeito e quais são as possíveis melhorias.
Mas o caminho a partir daí também é longo. Depois de enviar o pedido de registro para os órgãos responsáveis, no caso a Anvisa mais Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). “Não é uma crítica ao sistema, a aprovação de cada órgão é importante para a segurança no Brasil. Mas o aumento na agilidade da regulação poderia reduzir a entrega do produto a, provavelmente, seis anos”, afirma o químico João Nery, gerente dos sites de P&D (sites se referem aos espaços físicos de pesquisa).
Por conta do longo tempo, para se manter à frente nas pesquisas, segundo a empresa, ela leva em consideração as tendências do agronegócio para 2030, como a biotecnologia 4.0, gerenciamento holístico das fazendas, transformação digital e crescimento da América Latina como um dos principais exportadores de sustentabilidade. “As soluções tendem a ser cada vez mais específicas”, diz Ismael. “O que me deixa muito feliz, porque significa que vamos precisar de mais estações e mais investimentos.”