“Desde a nossa fundação [em 2019], o selo era uma meta”, conta o administrador Guilherme Lobato, mestre em agricultura de precisão e chairman do conselho da agtech. O executivo, que já passou por companhias como Syngenta, Monsanto e Bayer, está na empresa desde novembro do ano passado e foi transferido para os EUA com a missão de impulsionar a expansão naquele país. “É um passo fundamental nesse processo de expansão dos nossos serviços. Como é uma certificação global, ela funciona como um cartão de visita”, diz.
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O executivo também afirma que a empresa já possui negociações praticamente fechadas com diferentes parceiros no país, mas só deve revelar nomes após o início de sua operação comercial, previsto para a primeira safra de 2023 nos EUA. “Estamos aqui porque as dores do produtor americano e do produtor brasileiro, em muitos momentos, são parecidas. Eles têm efetivamente as suas diferenças, mas é aí que nós vemos a oportunidade de crescermos como uma empresa e como solução”, afirma.
Reforçando o papel da tecnologia ao produtor
Para Lobato, tanto no Brasil como nos EUA, é preciso um processo de educação para a introdução de novas tecnologias no campo. O executivo cita como exemplo o plantio direto. O conceito “no-Tillage” passou a ser adotado por agricultores na década de 1960 nos EUA, mas foi plenamente adotado e aperfeiçoado como sistema no Brasil, principalmente como método para recuperar os solos pobres da região Centro-Oeste. No país, ao contrário dos EUA, o plantio direto se tornou um grande exemplo para o mundo. Por conta disso, o Brasil pode sair na frente na estruturação global de mercado de carbono em áreas de plantio direto. A estimativa é de que cada hectare com sistema de plantio direto pode sequestrar 0,5 a 1 tonelada de carbono anualmente. Segundo a Febrapdp (Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto), o sistema é adotado em 32 milhões de hectares no país.
“Já temos muito conhecimento e tempo de prática com esse sistema que aqui nos EUA chama muita atenção e tem uma demanda muito grande”, diz Lobato. Atualmente, apenas 21% dos hectares dos EUA utilizam o plantio direto, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), mas a busca pela técnica tem se intensificado e cresce cerca de 1,5% anualmente.
Processo de obtenção do selo
O processo para obtenção do selo B começou em dezembro do ano passado e contou com assessoria da Abissal, consultoria de Goiânia (GO) que já ajudou cerca de 100 empresas a se habilitarem ao certificado internacional. Para a ConnectFarm, o processo durou 8,5 meses. Foram analisados os impactos das ações da agtech em variáveis como gente, governança, meio ambiente, comunidade e clientes.
A duração do processo foi considerada “uma vitória e um recorde” por Lobato, uma vez que o tempo médio costuma ser de 14 meses. Hoje, 150 mil companhias estão na fila de aprovação do selo. Segundo o executivo, o maior trunfo foi a análise do relacionamento mantido com os produtores rurais visando a redução de desperdícios como corretivo de solo, fertilizante, semente, manejo químico e outros itens.
“É uma jornada longa. A agricultura tem uma potencialidade enorme para uso de tecnologia. E essa troca de conhecimento é chave”, diz Lobato. A empresa atende a cerca de 500 produtores, donos de 1,5 milhão de hectares em oito estados (RS, SC, PR, MT, MS, GO, SP e TO), mais o Distrito Federal.