O acordo, com prazo inicial de cinco anos, prevê o fornecimento médio de 7.800 metros cúbicos de biometano por dia, volume que atende 100% o consumo das fábricas da Scania, que hoje são supridas com gás natural, disseram as empresas à Reuters.
O valor do contrato não foi divulgado.
As empresas já têm uma unidade operacional em Guariba (SP), onde produzem principalmente biogás para geração de energia elétrica, e estão construindo mais uma em Piracicaba (SP), com investimentos de 300 milhões de reais. Essa unidade, que começa a operar em 2023, será totalmente dedicada à produção de biometano.
A entrega do gás “verde” à Scania será realizada por meio da rede de distribuição de gás – neste caso, da Comgás, a quem a Raízen solicitará um estudo de viabilidade técnica e econômica.
Com a substituição do gás natural pelo biometano, a Scania superará sua meta de reduzir em 50% a emissão de gases de efeito estufa das operações industriais e comerciais até 2025, alcançando um corte de 75% no “hub” industrial paulista onde produz caminhões “de parachoque a parachoque”, afirmou o presidente e CEO da Scania Latin America, Christopher Podgorski.
Segundo ele, como as moléculas de gás natural e biometano são equivalente, a troca é simples e não exige grandes investimentos.
“Validamos nossos processos industriais do ponto de vista de engenharia, (fizemos) pequenas adaptações (na fábrica)… São investimentos marginais, porque em última instância estamos falando da mesma substância “, explicou.
Já para a Raízen, o acordo representa mais um avanço na estratégia de ampliar seu portfólio de produtos renováveis, em meio à demanda crescente por parte de seus clientes, disse Paula Kovarsky, vice-presidente de Estratégia e Sustentabilidade.
“Agora estamos avançando nessa jornada, estamos falando do E2G, usar o bagaço e palha (da cana) para fazer mais etanol de segunda geração, e chegando aqui no biogás, que é essencialmente pegar vinhaça e transformar em um novo produto, que é tratado para virar biometano.”
Além da Scania, a Raízen já anunciou contratos de longo prazo para fornecimento de biometano à Yara Fertilizantes e à Volkswagen.
Gás para frota de pesados
A próxima fronteira que a Raízen pretende ultrapassar é a oferta de biometano para uso na frota de caminhões, mas esse plano ainda está em fase de estudos.
“O segundo e terceiro passos serão dados, mas é uma mudança relevante, inclusive de logística de abastecimento”, disse a executiva.
Ela lembrou ainda que a inexistência de um mercado secundário de caminhões a gás – algo importante para os negócios das transportadoras– é um dificultador para a aplicação do biometano nas frotas.
O mercado brasileiro para biogás e biometano vem crescendo nos últimos dois anos, com projetos de grandes companhias, como Raízen e Vibra. No entanto, a distribuição do combustível pelo país ainda é um entrave para os investimentos.
Segundo dados da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), entre 2019 e 2021, o setor de biogás dobrou sua capacidade de produção, com a instalação de 140 novas plantas adicionando 38 megawatts (MW) na geração de energia elétrica e 120 mil metros cúbicos por dia de biometano.
Esses números, no entanto, ainda estão muito aquém do potencial do aproveitamento de resíduos da agropecuária brasileira para a produção de biometano – tanto que o segmento tem sido apelidado de “pré-sal caipira”.
A ABiogás calcula, por exemplo, que o país “desperdiça” 100 milhões de metros cúbicos de biometano por dia, volume que poderia substituir 70% do consumo nacional de diesel.