5 sistemas agrícolas seculares ainda utilizados no mundo

7 de novembro de 2022
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Desde 2002, a FAO certifica sistemas agrícolas como patrimônios históricos

No mundo da agropecuária 4.0, novas tecnológicas soluções parecem ser o futuro para a produção de alimentos ao redor do mundo. Mas a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) também reconhece que sistemas que datam até 7.000 anos e possuem grande importância como patrimônio global e de subsistência local. Estes diferentes tipos de agricultura são reconhecidos pela entidade como GIAHS (Sistemas de Patrimônio Agrícola Globalmente Importantes).

Conforme aponta apresentação no site da organização, o conceito é mais distinto e complexo do que uma área ou terreno protegidos como patrimônio histórico, como ocorre com as pirâmides do Egito, por exemplo. “O GIAHS é um sistema vivo e baseado na evolução de comunidades humanas em uma relação intrincada com seu território, paisagem cultural ou agrícola ou ambiente biofísico e social mais amplo”, explica.

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Para a seleção e reconhecimento destes sistemas, a FAO considera cerca de 20 critérios, como agrobiodiversidade, sustentabilidade, uso consciente de água, importância econômica e histórica para a população local, entre outros. Na última semana de outubro, o conceito comemorou 20 anos de criação. Nos dias atuais há 67 sistemas, em 22 países, reconhecidos como patrimônios agrícolas históricos.

Conheça a seguir cinco destes sistemas de agropecuários  que possuem mais de 400 anos, tendo como particularidade os cultivos dependendo de algum suporte:

Cultura de arroz com peixe

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Na China, graças à uma relação simbiótica, peixes são cultivados juntos ao arroz

Estabelecido na China durante a dinastia Han (entre 206 antes de Cristo e o ano 220), o RFC (sistema produtivo de arroz-peixe) se baseia na teoria da simbiose entre o cultivo da lavoura e a criação de peixes.

Ambos se beneficiam por estarem no mesmo ecossistema aquático de maneiras diferentes. Enquanto as fezes do peixe ajudam a fertilizar o arroz e regular condições micro-climáticas, o arroz, que é uma gramínea, oferece sombra e alimentação ao peixe por meio de larvas e algas formadas na água.

A união das duas produções também torna o custo da produção mais baixo, reduzindo gastos com fertilizantes e herbicidas contra o acúmulo de algas. Segundo a FAO, o vilarejo de Longxian é uma das regiões mais reconhecidas da China por esse tipo de produção. Em sua área de 461 hectares, cerca de 50 hectares são dedicados ao RFC. Apesar de aparecer em uma escala pequena nesse vilarejo, a técnica é utilizada em cerca de 1,5 milhão de hectares em todo o país, segundo o ministério da agricultura chinês.

Valle Salado na agrofloresta

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A extração de sal do Valle Salado ajuda produtores a terem renda para cultivar alimento em agroflorestas

Em Añana, região do país Basco, ao norte da Espanha, um modelo agrícola para a extração de sal começou a ser desenvolvido há cerca de 7.000 anos. O Valle Salado, onde a produção é realizada, foi estabelecido em um área com a presença de dois pequenos rios de água doce e um diapiro, fenômeno geológico que ocorre em material rochoso e estabelece um depósito natural de sal.

A junção das duas características faz com que o vale possua diferentes nascentes de água salgada, das quais os produtores extraem a água para realizar sua evaporação em uma salina. Com o valor recebido pela produção e venda do sal, os produtores de Añana são capazes de produzir seu alimento em um modelo agroflorestal. São produzidas culturas herbáceas (cereais, colza, batata, beterraba e outros) que não são afetadas pela salinidade do solo. A FAO estima que 9.000 pessoas são beneficiadas pelo sistema.

Chinampas e seus salgueiros

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No México, 225 mil habitantes se alimentam graças ao sistema de chinampas

Criado pela civilização asteca entre 1300 e meados de 1520, o método chinampas de agricultura se baseia na construção de canteiros flutuantes em lagos. Com produtividade alta de cinco safras anuais, as estruturas de madeira trançada acumulam lama e continuam unidas graças ao plantio ahuejotes, uma espécie nativa de salgueiro cujas raízes trazem maior estabilidade ao canteiro flutuante.

Os produtores locais conseguem produzir cerca de 51 espécies nas chinampas, incluindo culturas forrageiras, medicinais e alimentares. No México, onde a tradição de agricultura ainda é mantida, se destacam os cultivos de milho, coentro, abóbora, espinafre, acelga, alface, salsa, hortelã, cebolinha, couve-flor, aipo, alecrim e rabanetes. Atualmente, são 2,2 mil hectares de chinampas em atividade espalhadas em cinco vilarejos rurais no México, beneficiando cerca de 225 mil habitantes.

Maasai, um agropastoril diferente

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O povo Maasai do Quênia adapta sua produção de feijão e gado de acordo com o que encontra na natureza

Em meados do século 17, o povo seminômade Maasai se estabeleceu no Quênia, país africano marcado por sua aridez, e desenvolveu seu próprio sistema agropastoril. Os animais, como bovinos, búfalos, cabras e ovelhas são criados em conjunto com o cultivo de espécies endêmicas de milho e feijão.

Para isso, os membros da comunidade Maasai dividem entre si diferentes tarefas como pesquisas sobre possíveis áreas de pastagem, movimentação dos animais e gerenciamento da água. Além disso, também exploram florestas para encontrar frutas, sementes, mel e plantas medicinais para o seu próprio consumo enquanto ainda não possuem uma safra de milho ou feijão.

De acordo com a FAO, o povo Maasai já tentou mudar de estratégia, vendendo os animais, mas o círculo autossuficiente ainda é importante para sua segurança alimentar. Os Maasai utilizam três regras informais para produção: evitam áreas usadas, mantêm distância de outros grupos e evitam áreas recém-desocupadas. Eles também só realizam a movimentação dos animais quando já garantiram a disponibilidade de água e forrageiras na próxima área para onde irão. A superfície total da área reconhecida pela entidade é de 93,1 mil hectares, com uma população de 5.539 pessoas

Ramli domina a areia para plantar

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Após uma diáspora, moradores da Tunísia desenvolveram uma técnica para cultivar alimentos na areia

O método Ramli, traduzido como “na areia”, foi criado na Tunísia em meados do século 17 por um grupo de imigrantes que saiu da região de Andaluzia, na Espanha, fugindo de conflitos étnicos e religiosos.

O grupo encontrou no país do norte africano uma região desprovida de terras agrícolas e desenvolveu uma técnica para produzir alimentos às margens de lagoas. Os produtores criam, nas lagoas, uma área agricultável utilizando a matéria orgânica encontrada no local para enriquecer o solo arenoso.

Esse material é depositado para que atinja uma altura específica em que as raízes do alimento produzido sejam irrigadas por uma fina camada de água filtrada naturalmente, sem a presença de sal. A batata é o principal alimento produzido por meio do método Rami, mas a região também produz cebola, alho, melão e abobrinhas.