Amaggi vende antecipadamente 60% da soja da safra 2022/23 em ritmo acima do mercado

16 de novembro de 2022
Agustin Marcarian/Reuters

O clima é uma das maiores preocupações dos produtores para a safra de soja 2022/23

A Amaggi, um dos maiores conglomerados do agronegócio do Brasil, já comercializou cerca de 60% de sua safra de soja esperada para o ciclo 2022/23, patamar que supera a média da maioria dos agricultores, em uma estratégia definida pela empresa como conservadora, de vendas alinhadas com a aquisição de insumos.

“A gente vende para cobrir os custos. Historicamente, estamos em linha com o que estamos em todos os anos… mas que nem sempre está em linha com o que o mercado está fazendo”, disse à Reuters o diretor de Operações Agrícolas da companhia, Pedro Valente.

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O percentual de vendas da Amaggi é praticamente o dobro do registrado em Mato Grosso, onde a companhia concentra sua atuação agrícola, e supera em 40 pontos percentuais a média Brasil para o período, conforme dados da consultoria Datagro, que vê produtores nacionais mais cautelosos com aumento de custos e preocupações climáticas.

Mas na Amaggi Valente disse que, mesmo atento a todos estes fatores do mercado, a companhia prefere ser assertiva naquilo que, de fato, pode ter controle, que é sua gestão de custos.

“É melhor aproveitar as oportunidades do que ficar tentando acertar qual é o melhor momento (para venda)”, afirmou o diretor da companhia da família do empresário e ex-ministro Blairo Maggi. O executivo não detalhou, por questões estratégicas da empresa, se as vendas já fechadas compensam o total de despesas para a safra 2022/23.

Para ele, a lentidão na comercialização desta safra, em geral no Brasil, também está atrelada a uma demanda mais acomodada na ponta do comprador de soja. “O que se tem hoje é um desaquecimento geral da economia mundial e você não vê pressa de compra por quem consome… A China, principal consumidora de soja, segue com todo o problema ligado à Covid”, exemplificou.

A Amaggi é um grupo que atua também em outros setores do agronegócio. Além da produção, a companhia tem divisões de processamento/logística, energia e trading, comercializando 18 milhões de toneladas/ano em todo o mundo, com escritórios na Argentina, Paraguai, Holanda, China e Cingapura.

Segundo Valente, as vendas antecipadas de algodão 2022/23 da empresa também estão em torno de 60%, enquanto as de milho estão em 35%.

Nesta safra, a área total da Amaggi – considerando soja, algodão e milho – deve crescer cerca de 5,6% em relação ao ciclo de 2021/22, para 381.154 hectares. O diretor disse que a empresa inicialmente planejava manter a área de soja nos mesmos 175 mil hectares cultivados na última temporada, mas preferiu reduzir para 170,6 mil e apostar em uma elevação para o algodão, que é a cultura considerada mais importante para a companhia.

Com isso, a área da pluma, entre safra e “safrinha”, deve subir de 149,4 mil para 175,1 mil hectares no ciclo atual. No total, somadas as três culturas, a companhia deve produzir 1,55 milhão de toneladas, versus 1,19 milhão na safra passada, um crescimento de mais de 30%, acima do aumento da área, com expectativa de melhores produtividades.

Clima preocupa

“Na média, a maioria das pessoas plantou em uma janela climática melhor do que no ano passado”, disse Valente sobre a soja 2022/23 que está sendo semeada. Para a Amaggi, ele calcula que falta cerca de 1,15% da área para que o plantio da oleaginosa esteja encerrado.

O diretor contou que, até o fim de outubro, o clima estava mais chuvoso, favorável ao plantio. No entanto, nas últimas duas semanas o Mato Grosso começou a passar por um período mais seco. “Mato Grosso está sofrendo com uma instabilidade pelo La Niña… não é comum este período com veranico”, disse. “Temos preocupação sim, talvez não tão severa como está acontecendo no Sul e Sudeste, mas a preocupação é real.”

Considerando que este é o terceiro ano consecutivo de La Niña, ele lembrou que o que tem acontecido nestes últimos anos é um aumento de estiagem e depois um amplo volume de chuvas de uma vez só. “A questão não é volume da chuva, mas a distribuição dela… Não precisamos de chuvas volumosas, mas constantes”, afirmou.

Caso o clima colabore, a ideia é colher a soja e terminar o plantio do algodão segunda safra da Amaggi até 5 de fevereiro. Para o milho, a semeadura da safra deve ir até 26 de fevereiro, na tentativa de garantir uma janela de plantio ainda melhor que a do ano passado.