Cultivo legal de cannabis nos EUA rende US$ 5 bi aos agricultores em 2022

13 de novembro de 2022
Maryland_09nov22_Jahi Chikwendiu_The Washington_Getty Images

Colheita legal de cannabis nos EUA será a maior em 2022

A época da colheita chegou, mas os agricultores que cultivam cannabis nos EUA podem não gostar muito dos resultados alcançados até agora. Embora a cannabis tenha se tornado a sexta cultura mais valiosa nos Estados Unidos, o status ilegal da planta em nível federal não protege os agricultores do setor e afeta o valor da produção no atacado.

O segundo relatório anual de colheita, publicado pela Leafly, consultoria e pesquisa de mercado sobre cannabis, mostra que em 2022 os agricultores de cannabis para uso adulto plantaram nesta safra o equivalente a 2.834 toneladas da planta para uso adulto, em 15 estados que permitem o cultivo legal.

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Em comparação com 2021, a produção de cannabis aumentou 554 toneladas (24% a mais) em 2022, mas o valor da colheita caiu cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões na cotação atual) devido à diminuição dos preços da cannabis legal.

O relatório de 2022 estima que a cannabis cultivada nos EUA tem um valor da ordem de US$ 5 bilhões (R$ 25,7 bilhões) por ano. É a sexta cultura mais valiosa do país neste ano, caindo uma posição em relação a 2021, ano em que foi a quinta cultura mais valiosa dos EUA. “Somente milho, soja, feno, trigo e algodão trazem mais dinheiro no atacado”, afirma o relatório.

Os dados da Leafly são limitados apenas à produção de cannabis para uso adulto, colhida em 13.297 fazendas legais de cannabis ativas em 15 estados legais de cannabis. Portanto, não considera os cultivos de cannabis medicinal e o cultivo de operadores ilegais. O relatório visa preencher uma lacuna das autoridades federais e estaduais na avaliação do valor da cadeia de suprimentos de cannabis para uso adulto.

De fato, o USDA Departamento de Agricultura dos Estados Unidos não rastreia a produção de cannabis para uso adulto, porque a cultura usada para fins recreativos ainda é ilegal em nível federal, sob o Anexo I da Lei de Substâncias Controladas.

Mas mesmo alguns estados legais de cannabis ainda não coletam informações sobre o cultivo de cannabis para uso adulto. “O governo federal não está sozinho em ignorar o valor da colheita. Muitos estados legais ainda não conseguem capturar essas informações importantes”, diz o relatório. A consultoria entra nesse vácuo de informações sobre negócios de cannabis e cânhamo, fornecendo dados à Whitney Economics, banco de dados sobre esse mercado nos EUA e no mundo. De acordo com a Leafly, a cannabis ocupa o primeiro lugar no Alasca, Massachusetts e Nova Jersey, mas o relatório destaca que os reguladores não publicam os totais de produção em dois desses estados.

Hoje, 19 estados dos EUA e o Distrito de Columbia legalizaram o uso adulto de cannabis. Em 15 estados, a legalização está totalmente operacional e a cannabis pode ser vendida sob licença estadual, enquanto os demais estados legais de cannabis estão implementando os regulamentos para iniciar as vendas.

A ilegalidade da cannabis de uso adulto no nível federal afeta a capacidade dos produtores de cannabis de desempenhar as funções mais básicas de um negócio, como possuir contas bancárias, obter seguro de colheita e obter empréstimos.

Como os agricultores não podem vender suas colheitas diretamente aos consumidores e não têm pontos de venda legais suficientes para sua produção, os preços por quilo de cannabis no atacado caíram, apesar da inflação crescente para a maioria dos produtos e serviços no país.

Por exemplo, os agricultores da Califórnia aumentaram a produção em 63 toneladas legais, mas o valor da colheita de cannabis caiu de 5º para 8º lugar no estado, em função da queda de preços. “A libra média não aparada e seca foi negociada por US$ 786 ( R$ 4.000) no atacado em agosto de 2022, mas houve casos de preços próximos de US$ 100 (R$ 500)”, diz o relatório.

Além disso, a condição dos agricultores de cannabis também foi agravada pelos municípios que optaram por não permitir a venda legal de cannabis, “criando zonas de proteção econômica para vendedores de cannabis não licenciados e ilícitos” às custas dos operadores legais.

No geral, o relatório mostra um cenário em que os agricultores de cannabis do oeste dos EUA cultivaram muita cannabis no ano passado, enquanto os agricultores do Centro-Oeste e do Leste não aumentaram o suficiente para atender à demanda de sua região.

Como resultado, os agricultores do lado oeste não têm demanda suficiente para vender suas colheitas, enquanto os clientes do Centro-Oeste e da Costa Leste pagam demais pelos produtos de cannabis. Além disso, o fato de o status ilegal da cannabis no nível federal proibir os agricultores de vender cannabis para uso adulto em linhas interestaduais tem repercussões nos preços da cannabis.

* Dario Sabaghi é colaborador da Forbes EUA e escreve sobre a indústria da cannabis. Também escreve para a High Times e a CBD-Intel.