A maioria dos cultivos destinados à alimentação humana precisa passar por algumas etapas de classificação e processamento, antes de estarem prontos para serem consumidos diretamente ou serem utilizados como ingrediente em algo que gostamos de comer. No processo, vários “fluxos secundários” de sabor desagradável ou não comestíveis são gerados. Mas a indústria de alimentos pode ganhar dividendos econômicos caso encontre usos para esses produtos, em vez de simplesmente deixá-los ir para o lixo, acredita o trio que comanda a empresa: Jarna Hyvönen, COO, Tuure Parviainen CEO e Matti Tähtinen CTO.
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Uma opção muito interessante é utilizar o “super poder” de um inseto chamado Black Soldier Fly (BSF ou mosca-soldado-negro) para desbloquear o potencial nutricional e energético em sidestreams, mesmo que de outra forma eles não tivessem tanto valor (BSF é uma mosca originária da América do Norte e que hoje está disseminada por toda a Europa). O caso é que BSF pode, de fato, ter saído originalmente do Novo Mundo, mas elas efetivamente pegaram carona ao redor do mundo com os humanos e se tornaram “cosmopolitas”.
As moscas são inofensivas para as pessoas, mas têm uma capacidade notável de comer praticamente qualquer coisa, porque produzem pelo menos 17 enzimas digestivas diferentes. Seu estágio larval pode prosperar em muitos “fluxos secundários”, normalmente de baixo valor e, em seguida, elas podem ser processadas como farinha de proteína de alta qualidade e gorduras desejáveis.
O sistema BSF já está sendo amplamente utilizado para fazer ração animal, mas também é uma excelente opção para alimentar peixes, porcos e galinhas. Várias tecnologias significativas, baseadas em BSF, estão se tornando rapidamente uma indústria de grande escala. Ainda assim, há um enorme potencial de expansão e até mesmo de competição com o uso de bioenergia de diversos “sidestreams”.
O processo atualmente aprovado para fazer ração animal a partir de larvas de BSF envolve uma adição substancial de água e uma boa quantidade de energia para garantir que haja uma “etapa de morte”, que não apenas cuidaria de qualquer contaminação bacteriana patogênica, mas também destruiria qualquer príon (molécula de proteína), como o que causou o mal da Vaca Louca.
Mas a Volare desenvolveu e patenteou um processo para produzir ração animal, com proteínas e lipídios de alta qualidade a partir de larvas de BSF, sem uma adição significativa de água. Por causa disso, seu processo consome substancialmente menos energia do que o método já existente e, portanto, com um custo operacional 50% menor. A Volare, no entanto, passou pelo difícil processo de convencer os reguladores da UE de que poderiam cumprir seus padrões de segurança com o novo método.
A empresa de proteínas é dona de uma fábrica que pode processar centenas de toneladas métricas/ano de “sidestreams” e produzir proteína e óleo à base de BSF. Seus controladores estão planejando outra instalação e esperam poder processar 50 mil toneladas/ano até o final de 2024. Para isso, utilizam uma variedade de matérias-primas, incluindo casca de aveia, casca de batata e destilados da indústria cervejeira.
Ainda assim, a Volare vê espaço significativo para expansão porque quase dois terços dos “fluxos secundários” em todo o sistema de alimentos podem valer mais como produtos BSF do que para a produção de biogás. Além disso, a instalação necessária para a produção de BSF tem um custo de capital semelhante à instalação de um digestor anaeróbio, mas é mais fácil de operar. Proteínas e óleos à base de insetos estão a caminho de se tornar uma parte cada vez mais significativa do suprimento de ração animal, e se espera que essa tecnologia ajude a acelerar essa mudança.
* Steven Savage, colaborador da Forbes EUA, está envolvido com tecnologias agrícolas há mais de 40 anos. É biólogo pela Universidade de Stanford e doutor pela Universidade da Califórnia, em Davis.