Percepções sobre o agro

1 de janeiro de 2023
Inae Riveras/Reuters

Agricultor observa colheitadeira em Xanxerê (SC)

Em fevereiro de 2021, entidades associativas, empresas e profissionais ligados ao agronegócio criaram o movimento “Todos a uma só voz”, destinado a disseminar conhecimento correto para estimular a empatia entre campo e cidade. E, em 28 de setembro deste ano, já foi divulgada uma interessante pesquisa organizada por ele: “Percepções sobre o Agro – o que pensa o Brasileiro”.

Foram ouvidas 4.215 pessoas em todas as regiões do país, abrangendo diferentes classes sociais de diversas faixas etárias. E os resultados são animadores: a maioria dos brasileiros ama o campo!

Cerca de 52% dos entrevistados foram mulheres; 48% homens. Entre os entrevistados, 30% tinham entre 15 e 29 anos; 52% entre 30 e 59 anos e 18% mais de 60 anos. 49% pertenciam às classes B e C; 50% às D e E; e só 1% à classe A. Foram ouvidas pessoas do Sudeste (42%), Nordeste (26%), Sul (14%), e 9% tanto no Centro-Oeste quanto no Norte do país.

Da amostra toda, diferentemente do que se imaginava, 67% das pessoas avaliam positivamente o agro, e, 33%, nem tanto. Mas, para aqueles que vivem em regiões próximas à atividade rural, 80% são favoráveis ao segmento, permitindo supor que, quem conhece mais, gosta mais.

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Por outro lado, a maior resistência é a dos mais jovens. Seria legítimo imaginar que a falta de conhecimento nessa faixa – ou, até pior, a educação enviesada por causa de material escolar descolado da realidade e negativo ao agro – seja responsável por esse distanciamento? É o que está procurando estudar outro interessante movimento nascido no ano passado: “De olho no material escolar”. Criado no interior do estado de São Paulo por mães e pais inconformados com o que dizem muitas apostilas e livros adotados em escolas públicas e privadas, o “De olho” já se esparramou por todo o país e vem demostrando às editoras principais de material didático que existe uma clara distorção da verdade devida ao desconhecimento dela ou a uma posição ideológica à esquerda dos autores. Seja como for, é preciso cuidar dessa importantíssima parcela da sociedade, pois é o futuro.

Para 69% dos entrevistados, um dos atributos do agro é geração de riquezas, enquanto 68% acreditam que o setor gera orgulho e 65% consideram que ele tem credibilidade.

São 78% os que só associam o agro à produção de alimentos, 8% a combustíveis, 6% a medicamentos, 3% a vestuário e 3% a móveis (madeira). E 95% comem todo tipo de alimentos. Só 5% se declararam vegetarianos, veganos ou consumidores preferenciais de orgânicos.

Há muitas outras informações derivadas da pesquisa que podem orientar os integrantes do “Todos a uma só voz” a que pontos atacar para um projeto de comunicação permanente junto à sociedade brasileira (e internacional) para melhorar a conexão campo/cidade, que é tão mais integrada nos países desenvolvidos. Como insiste a ABMRA (Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro), uma das principais coordenadoras do projeto, o movimento não é uma campanha de curta duração, mas um verdadeiro programa educacional.

Roberto Rodrigues é engenheiro agrônomo, agricultor, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e embaixador especial da FAO para Cooperativas. Participa de diversos conselhos empresariais, institucionais e acadêmicos.

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Artigo publicado na edição 102, de outubro de 2022.