O que é a doença “mal da vaca louca” e o que ela provoca

23 de fevereiro de 2023
Md Babul Hosen/Guettyimages

“Mal da vaca louca” é identificada por testes, depois do abate do animal

A EBB (encefalopatia espongiforme bovina), popularmente chamada de “ mal da vaca louca” é uma enfermidade degenerativa que afeta o sistema nervoso de bovinos. A doença é provocada por príon, uma partícula proteica infecciosa, e pode ser transmitida, em sua forma clássica, a outros animais. Em humanos há uma variante, chamada de doença de Creutzfeldt-Jakob.

Confira a seguir, os detalhes do que é a doença, como ela surgiu no mundo, seus impactos na saúde animal e em humanos e por que é importante monitorar casos suspeitos:

O que é a doença do “ mal da vaca louca”?

A EEB (encefalopatia espongiforme bovina) é um quadro degenerativo crônico e transmissível do sistema nervoso central (SNC) de bovinos. Destaca-se por apresentar um longo período de incubação que pode durar, em média, cinco anos. Não existe tratamento e nem vacinas para essa doença. Animais com a doença podem apresentar nervosismo, dificuldade de locomoção e reação exacerbada a estímulos externos.

O que provoca a doença?

A doença é provocada por um príon, que pode ser definido como uma partícula protéica infecciosa. Os príons não são seres vivos. De acordo com a cartilha sobre EEB divulgada pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), a teoria mais aceita para explicar a doença “mal da vaca louca” é a de que o tal príon é derivado de uma proteína normal da membrana celular sensível à protease (enzimas que quebram ligações peptídicas entre os aminoácidos das proteínas), que ocorre na maioria das células, sendo predominantemente no sistema nervoso central.

Quando essa proteína normal sofre uma transformação, dando origem à forma anormal, ela se replica e acumula nas células do sistema nervoso central, provocando a doença. Os príons podem ser divididos em peso molecular padrão, responsável pela forma clássica da doença, e de peso molecular entre baixo e alto, responsável pela forma atípica da doença.

O que é a forma clássica da doença?

A forma clássica da doença “mal vaca louca” é transmitida por meio do alimento, o que pode causar a contaminação de mais um animal, sendo a ingestão de alimentos provenientes de carcaças infectadas, como farinhas feitas de carne ou ossos usados como suplemento proteico para animais, seu mais tradicional veículo de transmissão.

Desde 1996, o governo brasileiro proibiu o uso de ração à base de farinha de carne e osso na alimentação de bois, ovelhas, cabras e bodes. Em 2009, uma instrução normativa proibiu de vez, destacando que “qualquer alimento ou resíduo que contenha proteína de origem animal não pode ser usado na alimentação dos ruminantes (bovinos, bubalinos, caprinos e ovinos).”

O que é a forma atípica da doença?

A forma atípica é menos preocupante, considerada esporádica e é natural. A doença ocorre em função de uma mutação espontânea de uma proteína normal, não estando relacionada, portanto, com a ingestão de alimentos contaminados. Essa forma é mais comum em bovinos mais velhos. Vale destacar que a doença não é contagiosa.

Como o “mal da vaca louca” é diagnosticado?

O diagnóstico definitivo da doença da vaca louca só é feito após a morte do animal, uma vez que se faz necessário análises detalhadas do sistema nervoso. Para a confirmação, é feito o exame histológico seguido da técnica imuno-histoquímica.

Qual o correspondente em humanos do mal da “vaca louca”?

Os seres humanos, ao consumirem carne ou derivados de animal contaminado pela doença da “vaca louca”, podem desenvolver uma encefalopatia espongiforme transmissível conhecida como variante da doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ). Em 1995, observou-se casos de um tipo novo de ETT (encefalopatias espongiformes transmissíveis) em seres humanos, chamada então de um variante da DCJ.

Estudos detalhados mostraram que havia uma grande semelhança entre a variante da DCJ e a doença da vaca louca, o que sugeriu que se tratava de doenças provocadas pela mesma cepa priônica. Pessoas com a variante da doença desenvolvem alterações motoras e sintomas psiquiátricos. No Brasil, desde que foi instituída a obrigatoriedade de notificação da doença, em 2005, nunca houve registro de caso.

Qual é o histórico da doença no mundo?

O primeiro registro de EEB aconteceu em 1986, na Grã-Bretanha, sendo a maior parte dos casos registrados em vacas leiteiras com mais de 3 anos. Porém, dados epidemiológicos e revisões de arquivos de preparações histológicas mostram o aparecimento de casos já em 1985 e alguns estudos sugerem que casos anteriores possam ter aparecido já na década de 1970. Foi um desastre para a época, com grandes perdas econômicas para os europeus, que também registraram a variante da doença em humanos.

Desde 1986 foram registrados cerca de 180.00 casos de EEB (maioria na Grã-Bretanha), distribuídos por 35.000 rebanhos, numa média 1 a 2 casos por rebanho afetado. O pico da doença na Europa ocorreu em 1992, com 37.000 bovinos afetados pela doença. Por conta dos surtos, milhões de bovinos foram abatidos em cerca de 20 países, além da Grã-Bretanha, na Espanha, Irlanda, Portugal, Alemanha, Itália, Suíça, Polônia, República Tcheca, Áustria, Bélgica, Holanda e Suécia.

O Brasil já registrou casos de doença “mal da vaca louca”?

Sim, o Brasil já registrou casos atípicos como ocorreu neste início de 2023, ou seja, de degeneração celular animal, principalmente animais velhos, e não de transmissão de um animal para outro. Mas o Brasil nunca registrou um caso em sua forma clássica. Perante a OIE (Organização Mundial da Saúde Animal), organização intergovernamental, com sede em Paris, o Brasil tem status de “risco insignificante” para a doença. O reconhecimento está ativo desde 2012.