Próximo Plano Safra deve ter juros ao produtor como prioridade na sua formulação

14 de fevereiro de 2023
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O Plano Safra 2022/23 conta com taxas de juros entre 5% e 6% ao ano para o Pronaf (programa da agricultura familiar)

O Ministério da Agricultura pretende reduzir juros no próximo Plano Safra, referente a 2023/24, mas para tanto precisará de “força política”, disse nesta terça-feira (14) o indicado para a Secretaria de Política Agrícola da pasta, Neri Geller, em meio a embates do governo com o Banco Central sobre o nível adequado da taxa e preocupações com a inflação.

“Acho que a taxa de juros, sim, é bastante elevada… vamos ver qual é a força política que nós temos para buscar a equipe econômica (para a redução dos juros)”, afirmou durante seminário do Lide Agronegócios, citando que reconhece que o país tem dificuldades orçamentárias.

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Recentemente, integrantes do governo atual e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm questionado o patamar da taxa básica de juros do país, a Selic, defendendo que não haveria justificativa para o nível de 13,75% ao ano definido pelo Banco Central.

No agronegócio, o Plano Safra 2022/23 conta com taxas de juros entre 5% e 6% ao ano para o Pronaf (programa da agricultura familiar), enquanto os médios produtores possuem tarifas de 8% ao ano.

Em programas como o da ABC (agricultura de baixo carbono) e a PCA (linha de crédito que financia armazéns agrícolas) os juros podem chegar a 8,5% ao ano.

Geller, que espera sua nomeação formal como secretário para os próximos dias, ressaltou ainda que o Ministério de Agricultura, sob a gestão do ministro Carlos Fávaro, será “muito forte” na questão do crédito rural.

Ele lembrou que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) reabriu linhas de crédito que estavam fechadas para o setor, com um valor de R$ 2,9 bilhões para financiamento da safra 2022/23, mas que os recursos se esgotaram em poucos dias.

Déficit de armazéns

O esgotamento do recursos do BNDES está travando a tomada de crédito principalmente para investimentos na lavoura, conforme reportagem publicada pela Reuters na véspera. Com isso, ampliações em capacidade de armazenagem e melhorias nos parques de máquinas, por exemplo, estão ficando para depois.

Também presente no evento do Lide Agronegócios, o presidente CSEAG (Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos) da Abimaq, Paulo Bertolini, lembrou que o Brasil tem necessidade de investimentos na ordem de R$ 15 bilhões ao ano para impedir o crescimento do déficit de silos de grãos, estimado em 117 milhões de toneladas para esta safra.

O Brasil espera uma colheita recorde de grãos para 2022/23, com um salto na produção de soja levando o país a uma safra de verão maior que capacidade de armazéns pela primeira vez em 20 anos, conforme antecipou a Reuters.

No último Plano Safra foram liberados R$ 5,13 bilhões para o programa PCA, linha de crédito para investimento em armazéns do setor.

Geller adiantou, no entanto, que há expectativa de novas informações sobre a retomada de recursos pelas linhas de crédito do BNDES em breve.

“Com certeza nos próximos dias vocês vão ter novidades”, disse ele, sem detalhar os valores que poderão ser anunciados pelo banco e nem quando virá um novo anúncio de recursos.

O indicado para a secretaria do ministério destacou que está aguardando um pouco para assumir o cargo, enquanto realiza um mapeamento sobre a necessidade de recursos que os produtores ainda precisam para completar o Plano Safra 2022/23 até junho.

“Queremos dar uma posição com firmeza ao setor até a Agrishow e as feiras agrícolas do início do ano”, afirmou, citando a maior feira do setor na América Latina que normalmente acontece entre o fim de abril e início de maio.

O presidente do Lide Agronegócios, Francisco Matturro, disse que o setor não pode chegar à Agrishow “sem nenhum recurso” disponível para a compra de máquinas e implementos agrícolas.

Matturro ainda pediu a Geller que o anúncio do novo Plano Safra 2023/34 seja realizado com a maior antecipação possível e ressaltou a necessidade de uma mudança para que o programa passe a seguir o ano calendário, o que facilitaria sua adequação em linha com o orçamento anual da União.

Seca

Questionado sobre a seca no Rio Grande do Sul que vem afetando a safra de grãos neste verão, Geller disse que “está bem encaminhada” a disponibilização de algum auxílio federal que será anunciado junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário.