Na época, o investimento foi de US$ 115 milhões. Até o meio deste ano, Franz inaugura mais uma unidade, a terceira, e até 2026, a quarta planta produtora em Mato Grosso, saindo dos atuais 1,4 bilhão de litros de etanol de cereal, por ano, para 5 bilhões de litros no final dos investimentos. A segunda unidade está em Sorriso, inaugurada em 2020, e a que entrará em operação está em Primavera do Leste, um investimento da ordem de R$ 2 bilhões.
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Hoje, a FS é uma companhia que fatura R$ 6,6 bilhões registrados no seu balancete do ano passado, com um Ebtida de R$ 2,6 bilhões (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e uma margem líquida (fração de cada real de vendas que se transformou em lucro, ou o valor que sobra) de 22,4%. A empresa, que faz parte da lista Forbes Agro100, está entre as maiores produtoras de etanol do país, considerando a cana-de-açúcar nessa conta e concorrendo com gigantes como Raízen e BP Bunge, por exemplo.
“Quando nós pensamos em etanol de milho, temos de entender o Brasil, um país de 865 milhões de hectares. Em Mato Grosso, temos uma área de quase 100 milhões de hectares e usamos 11 milhões para agricultura”, vai contando Franz, de como a história do etanol de milho se cruzou com a sua. “Quando eu era prefeito de Lucas (2005 a 2012), o estado produzia 3,5 milhões de toneladas de milho. Conseguimos trazer a BRF para cá, na época Sadia, porque falei que iríamos produzir 15 milhões de toneladas em 2015 para alimentar suínos e aves. Eles foram um dos que acharam que eu era louco.” E Franz vai emendando: “aí, quando vendemos a ideia do etanol de milho, usamos a mesma lógica. Neste ano, Mato Grosso vai produzir cerca de 45 milhões de toneladas, mas em 2026 serão 75 milhões de toneladas de milho. O Brasil saiu de importador de milho para exportador e ainda tem para o etanol que é milho com valor agregado”.
Ao citar “vendemos a ideia”, Franz se refere ao milionário norte americano Bruce Rastetter, com o qual tem a joint venture de um complexo produtivo de etanol nos dois países, a FS Agrisolutions, onde ele hoje faz parte do conselho. Aqui, um parêntese: nos EUA, a dupla começa no ano que vem a produzir querosene para aviação a partir, também, do milho. “No Brasil, nós não temos um marco regulatório para querosene de milho e essa é a nossa primeira batalha.” Franz desconversa, mas garante que já tem um movimento nesse sentido para colocar na pauta do governo federal uma regulamentação para o mercado brasileiro.
Tecnologia que faz o milho gigante
A tecnologia é fundamental nessa caminhada. Em Lucas do Rio Verde, ela passa pela Fundação Rio Verde, entidade criada em 1992, mas que ganhou relevância a partir dos anos 2000, na mesma toada da demanda dos produtores e das empresas por serviços. A tarefa da fundação é adaptar tecnologias à realidade local, por meio de pesquisa aplicada e da realização de eventos. Todos os anos, seus engenheiros agrônomos, doutores e técnicos, realizam cerca de 400 ensaios sobre pragas, doenças, estudos de variedades, produtividade, além de análise de sementes.
Os serviços e eventos trouxeram no ano passado uma receita de R$ 11 milhões que, espera-se, dobre até 2026 a partir de investimentos, por exemplo, na expansão do laboratório de sementes. “O produtor não pode mais errar”, diz o engenheiro agrônomo, Rodrigo Marcelo Pasqualli, 45 anos, diretor executivo da fundação. “O plantio é a única operação irreversível na agricultura. Não tem como voltar no tempo.”
O foco da entidade são serviços para as três principais culturas: soja, milho e algodão. Historicamente, a demanda sempre foi capitaneada pela soja, mas nos últimos anos o milho tomou o lugar. Questionado sobre quanto da energia da fundação está no milho hoje, Pasqualli não titubeia: “com certeza, mais de 45%, por conta das possibilidades de seu potencial genético.”
Para ele, a demanda local veio por conta do crescimento do cereal na alimentação humana, na alimentação animal (suínos, aves e bovinos), mas “o principal legado da cultura foi a chegada das usinas de etanol porque elas mexeram com a destinação do cereal”, explica Pasqualli. “Antigamente, nós não tínhamos para quem vender e o milho ficava estocado a céu aberto e não havia uma justificativa para ser competitivo. O produtor colocava esse milho no caminhão e mandava para o Sul/Sudeste, a um custo de R$ 10 a saca e pagando R$ 15 de frete. Mas não é só isso. O milho vai ser menor que a soja em termos de mercado, mas ele justifica outras cadeias.”
Pasqualli se refere aos coprodutos das usinas de milho, porque o etanol é fruto da fermentação do grão. Sobra uma parte preciosa, as fibras altamente proteicas do milho e das leveduras usadas na fermentação, que são vendidas como DDG (Dried Distillers Grains – Grãos Secos de Destilaria) e o WDG (Wet Distillers Grains – Grãos Úmidos de Destilaria). No caso da FS, que utiliza tecnologia norte-americana no processo, esses coprodutos saem com cerca de 40% de proteína, 10% acima da maioria dos produtos de mercado. São ideais como ração animal. Não por acaso, há uma tendência de que os confinamentos de bovinos, hoje espalhados pelo país, comecem a migrar para as imediações das usinas de milho pela facilidade de acesso a esse alimento proteico.
No ano passado, a FS processou 3,3 milhões de toneladas de milho. Os coprodutos renderam 1,2 milhão de toneladas e representaram 19,5% da receita operacional – o etanol ficou com 75% e os restantes 5,4% vieram de bioenergia e revenda de alguma sobra de milho. “A curva de crescimento do milho nos próximos anos vai ser muito maior que a curva de crescimento da soja”, diz Franz, que é um dos usuários dos serviços da fundação e também vice-presidente do conselho curador. “Sim, vamos ser um grande vendedor de milho in natura, mas é mais inteligente transformar esse milho gerando valor agregado.”