Ele é, também, fruto do trabalho da Embrapa Trigo, unidade localizada em Passo Fundo (RS), que se dedica ao desenvolvimento de cultivares com ampla adaptação, estabilidade no rendimento e resistência a doenças, o que levou à consolidação e expansão dos cultivos de cereais de inverno no País, bem como a redução no uso de defensivos e aumento na rentabilidade do produtor. Além do trigo, a unidade pesquisa cevada, triticale, aveia e centeio.
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“Alimento de qualidade e com oferta capaz de atender tanto os brasileiros quanto o mercado internacional é o que move a Embrapa Trigo rumo ao futuro”, diz Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, um ícone no estudo do grão e reverenciado entre os grandes protagonistas da ciência agrária brasileira.
“A criação da Embrapa Trigo tinha a finalidade de reduzir a dependência externa do Brasil por trigo. As importações oneravam os cofres públicos e a escassez desse cereal ameaçava a segurança alimentar da população”, diz Gilberto Cunha, um dos pesquisadores da unidade. Atualmente, a equipe conta com 178 colaboradores locados na sede, mais as unidades dedicadas ao trigo em Coxilha (RS); na Embrapa Cerrados, em Brasília (DF) e no Núcleo Avançado de Trigo Tropical, em Uberaba (MG).
Segundo ele, nas primeiras tentativas de produzir trigo no sul do Brasil, seja pela importação de semente ou usando as trazidas pelos imigrantes europeus, especialmente quando eram trigos de inverno, as lavouras acabavam dizimadas, por doenças, toxidez do solo ou por falta de frio para cumprir o ciclo. A Embrapa Trigo passou a se dedicar à criação de um programa de melhoramento genético, além da introdução de linhagens de trigo trazidas do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), com sede no México, onde também foram treinados os primeiros pesquisadores que chegavam à Embrapa.
Vencida a adaptação genética, começaram a ser desenvolvidas as cultivares brasileiras de trigo visando ao aumento da produtividade. Atualmente, as pesquisas estão alinhadas às novas tendências de consumo, promoção da saúde e preservação do meio ambiente.
Atualmente, o melhoramento genético tem buscado pelo aumento da concentração de proteínas e um balanço mais adequado de aminoácidos no grão. Os principais avanços estão associados com uma menor concentração do chamado Ácido Fítico, que implica em farinhas de trigo com concentração mais elevada de Fósforo, Magnésio e Manganês, reduzindo assim o uso de aditivos durante a industrialização dos alimentos.
O foco são grãos com qualidade tecnológica equivalente aos grãos importados da Argentina ou Canadá. Justamente para cobrir a demanda crescente pelos produtos industrializados com características específicas na alimentação humana (massa amarela, pão branco, biscoito crocante, alimentos infantis e espessantes) e para alimentação animal (maior teor de proteínas, fibras e aminoácidos) tem orientado a seleção de cultivares que serão utilizadas nas lavouras.
As novas fronteiras do trigo
O avanço da soja para o Centro-Oeste do Brasil levou junto o trigo. O programa de melhoramento genético de trigo para o Cerrado foi intensificado na Embrapa na década de 1980, com a oferta das primeiras cultivares poucos anos depois. O foco das pesquisas na época estava sobre o sistema de produção, como encaixe na rotação de cultura da região, zoneamento climático, identificação de possíveis pragas e doenças da região tropical, disponibilidade de máquinas e insumos.
Outro importante apoio está na Embrapa Cerrados. Com suporte da pesquisa e o setor produtivo melhor organizado, rapidamente o trigo expandiu e conta com o cultivo indicado para os estados de SP, MG, MS, MT, BA, GO, DF. Novas fronteiras nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, estão sendo prospectadas pela pesquisa em parceria com produtores, indústria moageira e institutos federais de pesquisa. Levantamento da Embrapa Territorial mapeou 2,7 milhões de hectares na região do Cerrado que podem ser cultivados com trigo, sem necessidade de abrir novas áreas.
No Rio Grande do Sul, atualmente maior produtor de trigo no país, também estão sendo abertas novas fronteiras para o cereal. O avanço da soja na Metade Sul do Estado abriu espaço para a triticultura, seja para a produção de grãos ou como forragens para engorda do gado no inverno. Sistemas de drenagem em áreas de várzea, em rotação com arroz e milho, estão sendo desenvolvidas em parceria para a Embrapa Clima Temperado, assim como modelos de ILPF (Integração Lavoura Pecuária-Floresta) com cereais de inverno são avaliados em conjunto com a Embrapa Pecuária Sul, unidade localizada em Bagé (RS).
Unidade também fez história no plantio direto
A Embrapa Trigo também é uma empresa de referência na história do plantio direto no Brasil. Os primeiros cultivos com plantio direto na palha, adaptação de máquinas e capacitação de agricultores iniciaram no norte do Rio Grande do Sul, onde está localizada a unidade.
O programa de controle biológico de pulgões no trigo até hoje é reconhecido como um caso de sucesso na comunidade científica mundial. Criado em 1978, através da parceria entre pesquisadores da Embrapa Trigo e da Universidade da Califórnia, o trabalho teve por base a introdução de inimigos naturais nos trigais brasileiros, especialmente uma espécie de vespa capaz de parasitar o pulgão, principal praga do trigo na década de 1970.
Os parasitóides eram criados em larga escala no laboratório de entomologia da Embrapa Trigo e liberados nas lavouras. A redução no uso de inseticidas chegou a 855 mil litros por ano. Ainda hoje, os danos causados por pulgões não têm sido significativos, mostrando que o controle biológico de afídeos no cereal continua ativo no ambiente. Agora as pesquisas estão voltadas ao monitoramento dos afídeos e ao desenvolvimento de cultivares com resistência genética às viroses transmitidas pelos insetos.
Outra vertente de pesquisas se deu para atender ao crescente mercado de proteína animal. Para isso, foram desenvolvidas as primeiras cultivares de trigos com duplo propósito, disponibilizadas de forma inédita pela Embrapa Trigo em 2002, com o objetivo de ampliar a oferta de forragem para um rebanho de 25 milhões de cabeças existentes na Região Sul.