Prêmios de soja no Brasil despencam com safra recorde e demanda chinesa mais fraca

20 de abril de 2023
Jorge Adorno/Reuters

À medida que a temporada avançou, os descontos da soja brasileira em relação aos preços de Chicago continuaram aumentando

Os prêmios da soja brasileira nos portos caíram para mínimas históricas nos últimos dias em meio ao arrefecimento da demanda chinesa, enquanto o país colhe uma safra recorde, disseram analistas e traders.

Os prêmios caíram para -200 pontos base por bushel esta semana em portos como Paranaguá para embarques em maio, surpreendendo alguns pela magnitude do declínio.

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“Eu tinha apostado no começo que o prêmio da soja ia bater os -50, -60, devido ao tamanho da safra”, disse o analista da Agrinvest Eduardo Vanin.

Mas à medida que a temporada avançou, os descontos da soja brasileira em relação aos preços de Chicago continuaram aumentando, disse ele, atribuindo isso a compras chinesas mais lentas no momento.

Vanin estimou os prêmios em -200 para maio e -160 para embarques em junho em meio à supersafra do Brasil, que está acima de 153 milhões de toneladas, 22% a mais do que a colheita anterior, que foi afetada pela seca do ano passado.

Sol Arcidiacono, analista da HedgePoint Global, observou que a demanda da China diminuiu com a queda das margens de esmagamento da soja no país, afetando as compras para embarques imediatos no Brasil.

A Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), que representa exportadores globais de grãos no Brasil, disse que as importações chinesas de soja brasileira caíram 9,8% no primeiro trimestre, para 13,297 milhões de toneladas.

Sergio Mendes, diretor da Anec, observou também que os gargalos logísticos afetaram os prêmios, além da grande safra e da frágil demanda chinesa.

“Quando se faz uma previsão de safra como fizemos e ela se cumpriu, evidentemente que se paga um preço”, disse Mendes.

Os prêmios de soja refletem a dinâmica de oferta e demanda em relação aos contratos de referência negociados em Chicago, resultando no preço FOB para um determinado mês de embarque.

Dois analistas disseram que é improvável que a China importe 96 milhões de toneladas de soja, conforme previsto pelo USDA. Um baixou sua estimativa para cerca de 90 milhões de toneladas.

A Abiove, que representa as esmagadoras e tradings de oleaginosas, previu que as exportações brasileiras de soja atingiriam 93,7 milhões de toneladas em 2023, 1,4 milhão de toneladas acima da previsão de março.

A Abiove se recusou a comentar sobre os movimentos do mercado.