Por que a boa safra de milho puxa o preço da carne para baixo

16 de maio de 2023
Photosbyjim/Guettyimages

Safra de milho interfere na oferta de grãos que compõem a ração animal

Boa notícia: abril veio com uma inflação de 0,61%, mais um mês de redução, de diminuição do ritmo inflacionário. Apesar de o indicador ter vindo acima das expectativas, ainda assim é uma desaceleração. A notícia muito positiva, afinal de contas a inflação é um dos processos que fazem comer, cortar o poder de compra do brasileiro, limitar o seu consumo, inclusive de alimentos. Ela empobrece a população.

Um dos principais pontos que levaram a esse movimento deflacionário é a expectativa de recorde de produção de milho. O cereal é um importante componente para a produção, por exemplo, de alimentos de origem animal, como carnes, leite, manteiga, ovos. Esses componentes sofrem uma influência muito grande no seu custo de produção, onde o milho tem participação na nutrição dos animais que vão dar origem a esses alimentos.

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A projeção mais atualizada da Conab sugere uma produção de 314 milhões de toneladas (de grãos), aproximadamente, para temporada 2022/23 que, em comparação com a 2021/22, mostra um crescimento de 15% (a safra de milho é estimada em 124,9 milhões de toneladas).  É um crescimento muito robusto, principalmente de uma safra para outra. Isso trouxe os preços do milho para patamares que não víamos desde 2018 e 2019, o que aliviou muito o custo de produção do produtor.

Outro componente importante que acabou trazendo esse movimento deflacionário, essa diminuição do ritmo da inflação, na verdade, é que a gente pode observar, por exemplo, o preço da carne bovina caindo ao consumidor final. Ela está caindo, no varejo, em torno de quarto 4%. Ele  (o preço) não conseguiu acompanhar a mesma queda do boi, que é a matéria-prima, obviamente, para a produção de carne.

O boi gordo no Brasil caiu em torno de 22% do ano passado para cá. A carne caiu 4% na na comparação do mesmo período do ano passado para cá. Então, não teve um acompanhamento e nós falamos isso a nossa última coluna, explicamos esse movimento.

Mas o que a gente vê, de fato, é uma desaceleração da inflação, uma redução de preços da ordem de 4% devido a uma oferta maior de animais para serem abatidos.  Apesar de as exportações historicamente ainda serem conduzidas de uma maneira boa e positiva

O último fator que acaba diminuindo a pressão inflacionária, e ajudando o poder de compra do brasileiro, é a questão do dólar, que furou a sustentação de R$ 5 e hoje está é cotado mais ou menos entre quatro e cinco reais. Vou falar aqui um range, porque o dólar tem estado bastante volátil e pode ser que até você assistir esse vídeo, ele já tenha mudado.

* Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.

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