Exportação de café do Brasil deve cair em 2023 mesmo com recuperação

12 de julho de 2023
Reuters

Grãos de café

A exportação brasileira de café em 2023 foi estimada nesta quarta-feira (12) entre 37 milhões e 38 milhões de sacas de 60 kg no ano civil 2023, o que representaria uma queda em relação ao volume de 39,4 milhões de toneladas de 2022, disse o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira, durante coletiva de imprensa.

A previsão indica que, apesar da expectativa de forte recuperação de volumes exportados no segundo semestre, com a chegada de uma nova safra brasileira mais volumosa ao mercado, o total embarcado para o exterior na segunda metade de 2023 não será suficiente para compensar a queda acentuada registrada no primeiro semestre.

De janeiro a junho, as exportações totais de café do Brasil caíram quase 19%, para 16,2 milhões de sacas, informou nesta quarta-feira o Cecafé, em momento em que uma colheita em andamento e maior do que a registrada nos últimos dois anos no maior produtor e exportador global começa a chegar ao mercado.

Segundo Ferreira, as remessas de café arábica, principal variedade colhida no Brasil, deverão melhorar com a entrada da nova safra, “uma vez que a recuperação das lavouras foi acima do esperado”.

Ele disse ainda a colheita em curso de arábica, embora ainda abaixo do recorde de 2020 no Brasil, será superior à registrada em 2021 e 2022.

O presidente do Cecafé também chamou a atenção para maiores exportações de cafés canéforas (conilon e robusta), considerando que o produto brasileiro está competitivo no mercado global, após uma disparada de preços no exterior, com impacto de uma safra reduzida no Vietnã.

As exportações de canéfora dispararam mais de 60% em junho, para 230,6 mil sacas, também considerando uma base fraca do ano passado, quando o mercado interno utilizou mais robustas e conilon, deixando menos para a exportação.

“Os volumes (de exportação) de arábica e conilon tendem a aumentar de forma significativamente nos próximos meses”, resumiu.

Além da competitividade do produto canéfora na exportação, maior ainda que o produto do Vietnã, Ferreira observou que deverá haver uma oferta melhor para vendas ao exterior porque o mercado interno está utilizando mais grãos arábicas de menor qualidade, reduzindo robustas e conilon no “blend”.

O Brasil é o segundo maior consumidor global de café, atrás dos Estados Unidos.

Ele comentou que a indústria brasileira chegou a utilizar entre 80% e 85% de canéforas para produzir o torrado e moído em 2022, e que esses índices estão voltando para níveis de 50% a 55%, à medida que mais arábica vai compor a mistura. Reportagem da Reuters com analistas revelou esta tendência em junho.

“Quando o conilon estava entre 750 e 850 reais a saca, o arábica (bebida dura, 600 defeitos) para a indústria valia de 1.000 a 1.300 reais. Hoje, esse arábica está em torno de 700 a saca e o conilon a 640”, disse Ferreira, explicando as razões da mudança na composição do “blend”.

ANO-SAFRA

A exportação total de café do Brasil no ano-safra 2022/23 (julho/junho) somou 35,6 milhões de sacas de 60 kg, incluindo o produto industrializado, redução de 10,2% ante o ciclo anterior, após o país registrar duas safras mais baixas devido a adversidades climáticas, segundo dados do Cecafé.

Foi o volume exportado mais baixo em pelo menos cinco safras, segundo dados do conselho.

Em junho, a exportação de café verde do Brasil somou 2,29 milhões de sacas, baixa de 19% ante o mesmo mês de 2022, segundo o Cecafé. Já os embarques totais, incluindo o produto industrializado, atingiram 2,64 milhões de sacas, queda de 17,2% na mesma comparação.

Por variedade, no ano safra completo, a exportação de café arábica do Brasil atingiu 30,3 milhões sacas, queda de 8% ante o ciclo anterior, enquanto os embarques de canéforas somaram 1,47 milhão de sacas, 43,8% menores no mesmo comparativo.

Em 2022/23, os Estados Unidos foram os principais importadores dos cafés do Brasil, com a aquisição de 6,857 milhões de sacas, volume 13,8% inferior ao registrado no ciclo 2021/22.

A Alemanha, com representatividade de 14,5%, comprou 5,165 milhões de sacas (-20,3%) e ocupou o segundo lugar no ranking. Na sequência, vêm Itália, com a importação de 2,986 milhões de sacas (-4,8%); Japão, com 2,069 milhões de sacas (-4,7%); e Bélgica, com 1,828 milhão de sacas (-42,6%).

O presidente do Cecafé explicou que, considerando a menor oferta do Brasil e a alta dos preços, importadores usaram seus estoques.

“Nos países tradicionais nos quais as exportações caíram, esses países tendem a carregar estoques. Quando a economia está retraída e há dificuldades de produção no principal produtor, esses países vão utilizar os estoques em detrimento de novas compras”, comentou Ferreira.

Para 2024, se o clima continuar favorável no Brasil, o presidente do Cecafé espera uma colheita com volumes ainda maiores, o que poderá trazer algum alívio ao mercado global e recuperação de estoques. Lavouras prometem uma safra “importantíssima”, disse.