Ousados ​​​​e disruptivos, eles querem mudar as regras do jogo do vinho

12 de agosto de 2023
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Fernando Scandura e Gastón Sampere querem desmistificar o mundo do vinho

Eles garantem que a escolha de um vinho possa ser definida em questão de segundos e que, quando não há uma preferência específica, o impulso costuma ter um papel fundamental. Por isso, optaram por um rótulo e um nome que impactam e surpreendem o consumidor. Que desperta a sua curiosidade, que faz sorrir, que faz parar ali mesmo quando olha para as prateleiras de vinhos, para a garrafa com o rótulo marcante e um nome peculiar: El Gordo en Motoneta (na tradução, O gordo em uma scooter).

Com uma parte de engenhosidade, outra dose de facilidade, um pouco de ousadia e uma jornada permanente em busca dos melhores vinhedos de Mendoza, El Gordo nasceu na Motoneta Garage Wines, projeto de Gastón Sampere e Fernando Scandura, que hoje tem um portfólio composto por oito vinhos – dois varietais, quatro séries muito limitadas e dois espécimes de coleção, todos únicos e inesquecíveis, dizem – feitos com uvas Luján de Cuyo, cidade da Argentina, localizada na província de Mendoza.

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“Pode-se dizer que nosso caminho começou ao contrário de outros projetos vitivinícolas, porque passamos a fazer vinhos mais comerciais e de entrada, com um investimento inicial baixíssimo”, diz Sampere. Com o tempo, fomos criando novos conceitos e crescendo aos poucos, ganhando espaço nas gôndolas. Mas percebemos que esse formato de negócio não nos preenchia o coração, queríamos ter um projeto que transcendesse fronteiras. Assim, depois de muita análise e branding, decidimos criar El Gordo en Motoneta, a marca que melhor traduz a nossa essência e vinhos de gama média e alta”, completa.

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Marca possui oito rótulos e sua expansão mira também o Brasil

Atualmente, a empresa está em sua fase inicial, com um projeto de desenvolvimento em longo prazo. “Não temos limites nem fronteiras, podemos produzir em Mendoza ou em qualquer outra parte do país porque não estamos presos a estruturas que complicam qualquer tipo de negócio”, diz Sampere, que se entusiasma ao falar sobre previsões futuras. “Para o período de julho de 2023 a julho de 2024, e até a nova safra, estimamos o faturamento de R$ 4,3 milhões. As expectativas são altas, assim como nossos desejos, e esperamos continuar abrindo mercados na América Latina, com foco no Brasil, Colômbia, Equador e México”.

Mudar as regras de jogo

“Quando um empreendimento nasce da vontade de mudar as regras do jogo, da ousadia e da inovação, é sempre bom”, diz Scandura. “Pode não ser o caminho mais fácil, mas sem dúvida será o mais autêntico e especial que qualquer outro. Com esse espírito quase impertinente, e aliado a um profundo amor pelo vinho, nasceu este projeto”.

Era 2012 quando Sampere e Scandura, dois jovens de Mendoza com vasta experiência no mundo da viticultura, decidiram criar uma empresa cujo eixo era o vinho, o bom vinho. As regras? “Nenhuma”, dispara Scandura. “Queríamos criar rótulos inesquecíveis e únicos que fossem uma verdadeira experiência sensorial.” Fizeram isso, por vários anos, para terceiros, para outras vinícolas que começavam a se destacar no setor. Até que depois de vários anos de experiência, vários produtos de sucesso e algumas desilusões, veio a aposta pessoal, o desafio de cada um.

O vinho em movimento

“Com Gastón pretendemos criar marcas diferentes, autênticas e modernas”, diz Scandura. “Distanciamo-nos de tudo o que acreditamos que nos condiciona e vivemos o vinho como uma experiência agradável. O nosso projeto representa modernidade, frescura e desestruturação, mas num quadro de expressão de qualidade e aposta na cultura do vinho”, completa.

As pequenas vinícolas, dizem os empresários, têm mais dificuldade de entrar no mercado, para competir com outros nomes que têm décadas de experiência e reconhecimento.

“Às vezes, a única chance que eles têm de se diferenciar do resto da gôndola é o rótulo, principalmente quando se trata de um público jovem, que se sente mais identificado com conceitos divertidos, algo diferente. No nosso caso, o nome e os desenhos refletem a nossa paixão pelas motos e pela aventura, porque saíamos de moto para percorrer as vinhas quando começamos com tudo isto, há mais de uma década, e comparávamos uvas aqui e ali, mas sem ter uma identidade marcada”, revela Scandura.

“Agora fazemos vinhos de qualidade superior e queremos que mais pessoas subam na scooter. Até pensamos que El Gordo en Motoneta poderia se tornar um movimento, uma grande comunidade. Que o consumidor conheça os rótulos, primeiro, e depois com o vinho que está dentro da garrafa, porque tudo isto assenta no trabalho com uma equipe de enólogos que nos acompanham”, completa Sampere.

As coisas pelo seu nome

Tanto Sampere quanto Scandura insistem que o vinho não deve ser intelectualizado, porque isso o distancia do consumidor. “Já apresentamos nosso projeto em algumas feiras internacionais, e sempre nos surpreendemos que tudo seja tão técnico, que se fale com tanta solenidade de uma experiência intimamente ligada ao prazer”, diz Scandura, referindo-se, entre outras coisas, às diferentes formas que existem no mundo dos vinhos para classificar os rótulos quando se trata, por exemplo, do envelhecimento. Existem termos que se ouvem frequentemente como vinho jovem, reserva ou gran reserva, que têm a ver com o tempo de envelhecimento do vinho. “Temos uma série chamada ‘muito limitada’, porque não queríamos reservá-la. Escolhemos a expressão bem limitada porque ela nos identifica mais”, diz Scandura.

Por detrás do design dos rótulos, em que ambos os sócios participam ativamente, com ideias e conceitos que pretendem transmitir, está o especialista em branding de vinhos, Guillo Milia, com uma marca que o levou a trabalhar para adegas na Califórnia, nos Estados Unidos. Segundo Milia, o rótulo é um bem tangível que transmite credibilidade, segurança, que diferencia um produto e lhe dá posicionamento. Para Milia, imagem é valor, e quando a segmentação por preço – e qualidade – já foi realizada, resta apenas o valor agregado em termos de imagem, de embalagem.

“Trabalhamos com muitos designers, mas o Guillo nos marcou. Um dia encontrei-o, há cerca de três anos, e começamos a conversar”, lembra Scandura. Aí, surgiu a ideia de fazermos algo juntos, e a verdade é que é um luxo poder trabalhar com alguém como ele, que tende a rejeitar ofertas de vinícolas de alto gabarito”.

As garrafas de El Gordo en Motoneta variam de cerca de R$ 50 para a linha de entrada a R$ 190, e atualmente podem ser encontradas em cerca de 15 bares de vinho. “A meta é chegar a cerca de 700 mil garrafas por ano. É mais que um negócio, é um sonho”, afirma Sampere.

*Reportagem publicada na Forbes Argentina. (tradução: ForbesAgro)