Vants elétricos para pulverização de lavouras já estão a caminho

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15 de setembro de 2023
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Vants estão em testes em cultivos de banana e devem ir para outras culturas

As tecnologias de VANTs (veículo aéreo não tripulado) estão sendo desenvolvidas para diversos fins. Na primeira semana de setembro, foi anunciado um marco em relação ao uso de pulverizadores aéreos para o manejo de pragas na indústria da banana. A fabricante norte-americana de vants, chamada Pyka, com sede em Oakland, na Califórnia, tem trabalhado com a empresa de frutas e vegetais, Dole, fundada em 1851 no Havaí e hoje com sede na Irlanda, para avaliar as aplicações de fungicidas, uma prática que costuma ser crítica para os sistemas de produção de hortifrutis.

Os resultados da primeira fase de testes se mostraram muito promissores. Isso porque a pulverização de precisão para os fungicidas é uma alternativa viável atualmente e a indústria bananeira tem se mostrado interessada no potencial pulverizador dos vants.

Uma ideia na cabeça e um vant no ar

A empresa Pyka foi fundada em 2017 por Michael Norcia, empresário do setor de aviação. Ele se formou em física e ciências da computação e, inicialmente, trabalhou com empresas que buscavam desenvolver aeronaves autônomas para transporte humano de passageiros. Vendo que a tecnologia poderia levar décadas para ser desenvolvida, Norcia optou por se concentrar em aplicações mais realistas de curto prazo para carga e agricultura.

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A equipe de Norcia desenvolveu vants leves de fibra de carbono, movidos a eletricidade. Pyka e Dole têm feito os testes iniciais no “mundo real” com o modelo ‘Pelican Spray’ em plantações de Honduras. Os equipamentos testados têm envergadura de 11,5 metros e pesam cerca de 600 quilos, dos quais cerca de metade são baterias. O vant pode viajar a 130 km por hora a 2,7 metros acima das plantas. No comparativo com outras opções de mercado, ele apresenta maior capacidade operacional do que a maioria dos drones agrícolas existentes.

Os vants da empresa podem pulverizar cerca de 15 minutos, sendo necessária a troca de bateria, enquanto outro operador reabastece o tanque com o insumo. Em relação à mão de obra, a quantidade de funcionários é praticamente a mesma de uma aplicação aérea tripulada, mas as funções são muito menos estressantes e perigosas.

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Michael Norcia, CEO da empresa de vants, vem do setor de aviação

O aparelho utiliza quatro baterias por drone, com três cargas sequenciais. O consumo é baixo, equivalente às bombas de água de uma operação. Os vants também não exigem uma pista, como é o caso das aeronaves, e podem fazer um trabalho muito mais preciso de aplicação de fungicidas porque são guiados por sistemas RTK – uma espécie de super GPS com precisão espacial de até um centímetro.

Os especialistas em horticultura da Dole se dizem satisfeitos com o controle de doenças nas áreas de teste. Agora, a empresa segue para as avaliações da fase dois, que vão identificar o potencial de economia de custos.

Enquanto isso, a empresa Pyka está expandindo o negócio para outras culturas, conforme avança a regulação geral para o uso de drones e vants agrícolas. Segundo os executivos, o Brasil, particularmente, apresenta um cenário mais avançado, embora também progrida nos Estados Unidos, onde a tecnologia Pyka foi recentemente aprovada pela FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA). Equipes da empresa estiveram recentemente no Brasil e a expectativa é de que até 2024 estejam também no país. A expectativa é que os vants se tornem uma tecnologia cada vez mais comum para a agricultura.

Entenda por que tem vants no bananal

A banana é muito saborosa e nutritiva, ideal para as dietas modernas. Ela é a fruta mais consumida no mundo, com 59 milhões de toneladas por ano. Nos EUA, a banana ocupa a mesma posição, sendo a terceira com maior disponibilidade no país. O Brasil é o segundo maior consumidor. Bananas podem ser armazenadas fora da geladeira e são adequadas para crianças como uma excelente fonte de potássio, virtudes que conquistam os consumidores.

A banana, que somente pode ser cultivada em áreas tropicais, precisa ser transportada para mercados como os EUA, ou outro país, por via marítima, que é um meio eficiente, oferece baixa pegada de carbono e ainda gera renda adicional através do “back haul” (vai com uma carga e retorna com outra). Essa remuneração extra no transporte pode impactar em preços mais baixos da fruta para o consumidor final.

E aí começa a história que junta bananas e drones. Uma variedade da fruta chamada ‘Cavendish’ salvou a indústria quando uma cultivar que era produzida no país anteriormente foi exterminada por um fungo presente no solo, chamada de doença do Panamá, na década de 1950.

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Empresa começa também a testa vants para outras culturas, como a de girassol

As Cavendish são colhidas no estágio certo de maturidade, ainda verde, mantidas a temperaturas controladas no navio e expostas ao hormônio vegetal natural etileno em “salas de maturação”, até chegarem ao destino final, o varejo. Mas isso somente funciona se as bananas, no pomar, estiverem protegidas também de uma doença fúngica chamada cercosporiose ou mal-de-Sigatoka. Ela pode dizimar até 50% da produção.

O fungo Sigatoka não infecta diretamente os frutos, mas se houver muita contaminação nas folhas de uma planta, a produção pode amadurecer durante o transporte e chegar aos portos ‘preta’, ou seja, passada do ponto de comercialização, como acontece quando deixamos muito tempo na fruteira.

Para manter a doença sob controle, as bananeiras devem ser tratadas com fungicidas semanalmente e as pulverizações, geralmente, são feitas por meio de aviões. Os insumos usados ​​têm pouca toxicidade para pessoas ou animais, mas o processo é desafiador e um tanto perigoso para os pilotos, além de ser difícil evitar a deriva para outras áreas. Além disso, a produção orgânica não é uma opção em larga escala, por causa da pouca disponibilidade de pesticidas destinados a esse tipo de manejo, como o óleo mineral e o extrato da própria planta.

Também é fato que banana transgênica não é uma solução, embora haja biotecnologias disponíveis, como a transferência de genes de resistência das bananas selvagens. Ou seja, na prática, isso não é aplicável por causa do movimento anti-OGM (Organismo Geneticamente Modificado), também conhecidos como transgênicos.

* Steven Savage, colunista da Forbes EUA, é biólogo pela Universidade de Stanford e doutor pela Universidade da Califórnia, em Davis.