A rodada foi liderada pela Telos Impact, empresa de consultoria da Bélgica, com a participação do fundo Peak Bridge Growth 2, de Luxemburgo, e do fundo do EIC (Conselho Europeu de Inovação). O valor será destinado a aumentar o portfólio de vendas dos ingredientes derivados de sementes e caroços de frutas para produtos lácteos e confeitaria à base de plantas e que trazem ao produto final nutrientes e sabor semelhantes aos de nozes.
Leia também:
- Plant-based: por que esse agro precisa de variedade para atrair o consumidor
- Fazenda nos EUA ganha primeira certificação orgânica regenerativa
- Dan Magliocco, CEO da Danone Canadá, diz como se rendeu ao plant based
As empresas de laticínios estão, de fato, descobrindo que alternativas como derivados de plantas são um grande concorrente aos atuais leites vegetais populares e estão dispostas a expandir a compra de produtos para bebidas sem lactose.
Sem resíduos nem descarte de caroço para a agroindústria da fruta
Fundada em 2019, a Kern Tec surgiu em conversas com agricultores e processadores austríacos de frutas que sofrem com os subprodutos excedentes gerados nas produções de geleias, marmeladas, aguardente e sucos. A empresa já previa, em suas explorações, um mercado interessante para o caroço dos frutos, que era inexplorado devido à falta de métodos de extração eficientes. “As grandes empresas processadoras poderiam ter até quatro mil toneladas desse subproduto, e isso nos parecia uma solução escalável”, diz Fichtinger.
A partir dessa ideia, a equipe decidiu empregar uma série de tecnologias de processamento – agora patenteadas – para quebrar e extrair os caroços das frutas, como ameixa, cereja e damasco e, a partir disso, obter óleos, leite e proteínas em pó. O método transforma a matéria-prima dura em compostos prontos para uso na indústria alimentícia que podem usar esses ingredientes para todos os tipos de alternativas sem lactose.
O subproduto do processamento de caroços e sementes também é reaproveitado. “Somos uma empresa com desperdício zero”, afirma Fichtinger, explicando que o excesso de material biodegradável é triturado em partículas muito finas, que pode ser utilizado para paisagismo como alternativa ao cascalho. Outra opção de uso é como adubo na agricultura para dar mais estrutura ao solo.
A cereja, ou melhor, o damasco do bolo
Apesar da empresa ter recebido um prêmio pelo óleo de sementes de cereja, o ingrediente mais vendido é o caroço de damasco, por causa do sabor, aspecto e perfil nutricional, semelhante ao de uma amêndoa.
Ao contrário de muitos novos ingredientes vegetais, os caroços de damasco não precisam de aprovação da EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) porque já fazem parte da dieta local, embora em pequena escala. De acordo com a EFSA e várias outras autoridades nacionais de segurança alimentar, os grãos podem ser consumidos, desde que processados ou cozidos. Na forma crua é proibida a comercialização porque pode causar intoxicação.
Caroço nutritivo da economia circular
- Inscreva sua empresa ou cooperativa no Forbes Agro100 utilizando este link
- Siga a ForbesAgro no Instagram
Teste de mercado direto com os consumidores
Para testar o mercado, a empresa colocou o “leite vegetal” de caroço de damasco nas prateleiras dos supermercados austríacos por meio da marca própria ‘Wunderkern’: “Cada litro custa US$ 2,66 (R$ 13,70) por litro, o que é de 20% a 30% mais barato do que outras marcas à base de plantas”, diz Fichtinger.
O preço mais baixo chamou a atenção de muitas empresas de leite natural que buscavam um caminho alternativo para o competitivo mercado de produtos vegetais. O potencial da KernTec para conquistar a indústria de laticínios é reforçado no slogan de venda que sugere a necessidade de algo novo. “As empresas não estão dispostas a colocar no mercado o décimo quinto leite de amêndoa ou a sétima alternativa de aveia”, afirma o executivo.
A startup processou até agora cerca de 2,5 mil toneladas de caroços, extraídos de 40 mil toneladas de frutas. A projeção é alcançar capacidade produtiva de 20 mil toneladas por ano.
*Daniela De Lorenzo é colaboradora da Forbes EUA, Wired, Deutsche Welle, Al Jazeera, Vice Media, entre outros. Escreve sobre sistema de produção de alimentos, meio ambiente e política da UE. (tradução: Flávia Macedo).