Foi no projeto Bem-Estar, oferecido pela empresa, que ele encontrou o apoio de que precisava. Para Soares, o primeiro passo foi entender a importância de cuidar da saúde mental. “Esse tema eu conheci na Raízen. Me cadastrei no grupo para receber informações e isso mudou a minha vida e a de meus familiares”, afirma. O gestor de operações explica que a melhora se deu em vários aspectos. “Hoje, também tenho uma alimentação melhor e consigo praticar esportes de forma regular”, completa.
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De acordo com Carmem Miriam Rocha, psicóloga clínica e coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Municipal Doutor Cármino Caricchio, em São Paulo, não existe diferença entre trabalhador rural ou urbano, pois todos estão sujeitos, em determinados processos da vida, a desenvolverem transtornos psicológicos e emocionais.
“No centro dessa discussão está cada um de nós, cidadãos urbanos ou rurais; moradores de diferentes regiões da cidade, estado ou país, porém, com uma necessidade em comum: os cuidados com a saúde, como um todo, inclusive a mental”, afirma Rocha. “Somos constituídos, enquanto humanos, por uma estrutura intrapsíquica, que é a subjetividade, e a extra-psíquica, que é o ambiente em que vivemos e tudo o que envolve o coletivo, o social, o econômico e o político. Por isso, ambas as estruturas nos influenciam e podem potencializar o adoecimento”, completa.
Segundo a médica, no imaginário coletivo, por muitas vezes a área rural e consequentemente os trabalhadores e moradores dessas regiões são tidos como atrasados em relação ao acesso às informações. “Mas essa visão vem se transformando aos poucos, felizmente”, afirma.
Nos Estados Unidos, país que lidera o ranking da OMS em casos de depressão e está na terceira posição entre os países com a população mais ansiosa do mundo, saúde mental nas fazendas e como dar suporte à população rural estão na ordem do dia.
De acordo com o National Institute of Mental Health (Instituto Nacional de Saúde Mental), órgão do governo norte-americano e maior organização de pesquisa especializada em saúde mental do mundo, 81% dos condados rurais do país necessitam de enfermeiros psiquiátricos e cerca de 65% dos condados precisam de médicos psiquiatras para tratamentos. Nos EUA, condados são as subdivisões regionais de um estado. Hoje, são 3.141 condados no país (média de 62 por estado).
A pandemia da Covid-19, em 2020-21, perturbou ainda mais as estruturas de atendimento nos EUA. Não por acaso, ganharam forças grupos como o Farm Crisis Center, da National Farmers Union, e plataformas como a Farm State of Mind, da American Farm Bureau Federation.
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Foi criado, também, um 0800 interno, com ligação gratuita e aberta a funcionários e seus familiares. É o sigilo dos atendimentos que dá segurança e conforto para quem precisa de um serviço que ainda é visto como supérfluo. Foi isso o que uma funcionária da Raízen falou à Forbes na condição de anonimato. Ela conta que, durante a pandemia, o ex-sogro faleceu e que a ajuda ao ex-marido, que não trabalha na Raízen, veio por meio do serviço chamado Psicólogo na Tela. Ele realizou quatro consultas em um período de quase dois meses. Foram as sessões de psicoterapia que o ajudaram a superar a perda familiar e a encarar o luto. “Uma das coisas importantes para ele, naquele momento, foi desabafar e colocar os sentimentos para fora, mas com um profissional”, diz a funcionária. “E foi muito bacana, por causa do sigilo e da facilidade de ser um serviço online”, completa.
De acordo com Ettore Martines, diretor de recursos humanos da Raízen, de agosto de 2022 a agosto deste ano, a procura pelos serviços do PAE cresceu 90%. Foram 1.300 pessoas, o equivalente a 1,3% do total de 100 mil beneficiários, entre funcionários e seus dependentes. Para o executivo, o olhar da população brasileira sobre saúde mental tem mudado após a pandemia – hoje há mais visibilidade e aceitação para implantar programas como esse no ambiente de trabalho.
Mariana Pedroza, coordenadora de bem-estar e benefícios da Raízen, afirma que a escolha por um site se deu com o objetivo de alcançar mais pessoas na indústria e também os trabalhadores no campo. Nas usinas, que agora a empresa chama de bioparques, 80% dos funcionários atuam no “chão de fábrica”, o que significa 36 mil pessoas na ponta da cadeia de produção. “Nossos colaboradores do campo não têm um e-mail corporativo, então enxergamos que o site seria a melhor ferramenta”, afirma Mariana. “A ideia é que ele possa procurar ajuda quando necessário, além de informações que são repassadas pelos gestores de cada grupo”, completa.
Em setembro, quando o governo federal realizou campanhas para falar sobre saúde mental, o chamado “Setembro Amarelo”, Ettore conta que a Raízen não perdeu a oportunidade de abordar o tema. Em rodas de conversas, foram recebidas cerca de cinco mil pessoas. “Falamos sobre o gerenciamento das emoções e contamos com a presença de psicólogos que explicaram sobre as emoções primárias que são: tristeza, medo, alegria e raiva”, diz ele. “Tivemos, também, apresentações lúdicas teatrais”, completa.
Mente saudável, funcionário mais produtivo
Os caminhos escolhidos pela Raízen corroboram com o que mostram os dados da OMS: funcionários mentalmente saudáveis podem ser até 12% mais produtivos. Além disso, quando esses empregados têm um alto nível de satisfação com o ambiente de trabalho, podem ser até três vezes mais criativos no desempenho de suas funções.
Vinicius Kitahara, professor da Fundação Dom Cabral, onde coordena o curso de “Felicidade Corporativa” e que em 2015 fundou a consultoria Vinning, com sede em São Paulo, diz que o conceito de “felicidade corporativa” – em que estado emocional positivo é um objetivo se vivenciar experiências, percepções e sentimentos –, tem tomado a agenda das empresas. Kitahara relata que no último ano sua percepção é que triplicou o interesse das corporações em cuidar das emoções dos funcionários.
“As pautas se tornaram interesse das lideranças, inclusive do agronegócio”, afirma Kitahara. Além da Raízen, ele cita como outro exemplo a Suzano, a maior empresa de celulose do país, que criou o setor da “felicidade”. “Esse setor direciona ações para implantar a saúde mental entre todos os segmentos de trabalho. Ao trazer essa pauta, essas empresas se tornam pioneiras e podem atrair novos talentos, além de reter os talentos já contratados pela companhia”, completa.