O Brasil tem em operação 20 usinas de etanol de milho, das quais 11 estão localizadas em Mato Grosso, seis em Goiás, mais Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná com um cada. Outras nove usinas estão projetadas ou já com calendário de implantação aprovado nos estados de Mato Grosso, Tocantins, Bahia, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, unidades que devem produzir etanol de milho e também de outros cereais.
“Depois do plantio direto e da rotação de culturas, a próxima onda de crescimento econômico e de desenvolvimento no Cerrado é a agroindustrialização”, diz Guilherme Nolasco, presidente executivo da UNEM (União Nacional do Etanol de Milho), entidade criada em 2017, com sede em Cuiabá (MT) e que reúne o setor privado e entidades representativas do setor agrícola.
“Temos enormes excedentes exportáveis e podemos transformar grãos em riquezas, empregos, valorização ao produtor para que ele tenha capacidade de investimento e impostos para manter os serviços básicos e a infraestrutura, além de criar grandes oportunidades de negócios na economia circular”, afirmou Nolasco, durante o Encontro de Pesquisa e Inovação da Embrapa Agroenergia (DF), realizado na Embrapa Sede, em Brasília, entre os dias 24 e 26 de outubro.
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A região do Cerrado concentra 70% da produção nacional de milho, que na safra 2022/2023 foi de 4,39 milhões m3 e pode alcançar 10,88 milhões m3 na safra 2031/2032, de acordo com o IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária). “Até 2017, não existia nada e neste ano devemos produzir 6 milhões m3 de etanol de milho, o que já representa 22% da produção total de etanol do País”, disse Nolasco.
De acordo com o executivo, para produzir esse volume são retiradas 16 milhões de toneladas, sem prejuízo para a produção de alimentos e outras cadeias de negócio. “Ainda temos mais de 50 milhões de toneladas exportadas nesta safra. Estamos simplesmente retirando milho do navio e transformando-o em riquezas.”
Com uma tonelada de milho, é possível produzir 440 litros de etanol, 221,9 kg de grãos de destilaria (os DDGs, usados na dieta animal), 16,9 kg de óleo de milho e ainda co-gerar 42,2 KWh de bioeletricidade com o uso de 424 kg de cavaco de madeira de eucalipto. “Há toda uma economia circular gerada de pecuária, agricultura, suinocultura sobre excedentes exportáveis”, afirma Nolasco.
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As inovações dão relevância ao que ainda está por vir. Está em desenvolvimento o primeiro projeto brasileiro para captura e armazenamento do CO2 (gás carbônico) resultante da fermentação do milho no processo de produção do etanol. O projeto é da FS Bioenergia, na unidade de Lucas do Rio Verde MT). “Conseguimos extrair um CO2 com 98% de pureza, que será injetado a 2 mil metros de profundidade, em solos com características esponjosas. O etanol de milho brasileiro passará a ter uma pegada de carbono negativa, o que vai ao encontro das metas de descarbonização do país”, diz Nolasco.
De acordo com o Imea, as previsões de setembro apontavam para uma safra atual de 133,13 milhões de toneladas de milho, em 22,26 milhões de hectares. Nolasco compara os dados com 2005/06, safra com 42,51 milhões de toneladas, em 12,96 milhões de hectares. “Há a possibilidade de chegarmos a 200 milhões de toneladas facilmente, apenas expandindo a área de segunda safra e em ganhos de produtividade”, diz ele.
O milho segunda safra, que é plantado depois da soja, foi de 45,5 milhões de toneladas na safra 2022/2023, de acordo com estimativas, enquanto o aumento da área plantada foi muito menor. De acordo com Nolasco, é preciso “construir narrativas para mostrar ao mundo que o etanol de milho brasileiro não é alimento versus combustível. É um círculo diferente, em que estamos estimulando o aumento do plantio do milho de segunda safra e o aumento da produtividade.”
Um estudo publicado na revista Nature sobre os impactos socioambientais do etanol de milho de segunda safra no Brasil aponta que a pegada de carbono do biocombustível é de 20 g CO2 eq/MJ, enquanto a da gasolina é 87,4 g CO2 eq/MJ. “E quando incorporamos todo o ciclo de vida do etanol de milho de segunda safra, podemos chegar a uma pegada de 9,5 g CO2 eq/M”, afirma Nolasco. “Essa produção tem um enorme potencial para as estratégias de transição energética e descarbonização da matriz de mobilidade do nosso país.” De acordo com projeções do setor energético, a produção do etanol de milho deverá evitar a emissão de até 10 milhões de toneladas de carbono em 2030.
A produção em escala do etanol de milho em Mato Grosso também tem transformado a dinâmica de uso do solo: as áreas de pastagens para a pecuária extensiva estão dando lugar às lavouras de grãos e às florestas plantadas. A área com a pecuária é reduzida, porém o uso se torna mais intensificado – em 2008, a área de pastagem era de 25,49 milhões hectares, passando para 17,88 milhões hectares em 2021, enquanto o rebanho bovino cresceu de 25,93 milhões para 32,77 milhões de cabeças, de acordo com o Imea.
Além disso, a proporção de bovinos abatidos com menos de 36 meses passou de 48,9% em 2005 para 72% em 2023, segundo dados do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso. Lembrando que parte do bom desempenho se deve aos DDGs como ração animal, reduzindo o ciclo do boi e liberando áreas de pastagem de baixa produtividade para o cultivo de grãos.
(Com Embrapa)