Entenda o impacto do El Niño na pecuária

24 de novembro de 2023
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Pecuária pode ter consequências em função da onda de calor em 2024

Você está morrendo de calor? Pois é, a culpa é toda de um menino, o El Niño, que chegou com força e, muito além de apenas fazer as pessoas passarem um calorão nas cidades grandes, tem trazido também alertas em todos os noticiários a respeito da produção de alimentos.

Para quem não sabe, o El Niño é um fenômeno atmosférico oceânico que incide há milhares de anos sobre a região do Pacífico Equatorial. Ele faz com que as águas atinjam temperaturas acima do padrão médio histórico, gerando efeitos globais sobre a circulação da umidade que causa as temperaturas e também chuvas fora do padrão em diferentes regiões do planeta. Aliás, o nome El Niño tem origem secular, já que ocorre comumente próximo ao Natal. De modo que os pescadores peruanos o batizaram assim, em homenagem ao menino Jesus.

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No último século, 54% dos anos apresentaram influência do El Niño em maior ou menor intensidade. A última aparição do menino, com intensidade, foi entre 2014 e 2016, quando os seus efeitos trouxeram temperaturas acima de 40 graus no centro-oeste e no norte do país. Além da preocupação quanto a produtividade das safras agrícolas naquele biênio, a mesma coisa aconteceu para a pecuária de corte.

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A seca estendida, hoje, poderá retardar a engorda do gado a ser entregue na safra, o que sugere falta de oferta para o primeiro semestre de 2024. Entretanto, a gente não pode se esquecer que o desafio na produção de forragem, concentrado no último trimestre, significa desafio reprodutivo para as fêmeas que, com menos forragem, tendem a apresentar taxas mais baixas de concepção.

Dessa forma, a repetição do cio das vacas poderá trazer oferta adicional de fêmeas no início do ano que vem, dando continuidade à liquidação que a gente tem observado no momento, em decorrência dos preços. O movimento tem sido muito comum em países como Estados Unidos e Austrália que, diante do desafio climático trazido por secas prolongadas, viu os seus produtores liquidarem fêmeas como uma forma de aliviar as pastagens.

Já no caso do milho, os padrões de chuva associados ao El Niño acabam favorecendo o sul, sudeste e uma parte da produção no centro-oeste. E especialmente para o milho de inverno, já que aumenta a umidade nessas regiões, o desafio fica por conta do maior desembolso com defensivos e herbicidas, porque as pragas também são favorecidas pelas condições climáticas.

A intensidade do El Niño atual é impossível de ser prevista, por enquanto. Mas seja como for, o cataclismo produtivo está longe de acontecer e a história já nos mostrou isso em outras ocasiões em que o menino resolveu brincar também com as temperaturas globais. E mesmo assim nossa produção deu conta do recado de alimentar mais de 1 bilhão e meio de pessoas no Brasil e no mundo.

*Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.

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