Para quem não sabe, o El Niño é um fenômeno atmosférico oceânico que incide há milhares de anos sobre a região do Pacífico Equatorial. Ele faz com que as águas atinjam temperaturas acima do padrão médio histórico, gerando efeitos globais sobre a circulação da umidade que causa as temperaturas e também chuvas fora do padrão em diferentes regiões do planeta. Aliás, o nome El Niño tem origem secular, já que ocorre comumente próximo ao Natal. De modo que os pescadores peruanos o batizaram assim, em homenagem ao menino Jesus.
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No último século, 54% dos anos apresentaram influência do El Niño em maior ou menor intensidade. A última aparição do menino, com intensidade, foi entre 2014 e 2016, quando os seus efeitos trouxeram temperaturas acima de 40 graus no centro-oeste e no norte do país. Além da preocupação quanto a produtividade das safras agrícolas naquele biênio, a mesma coisa aconteceu para a pecuária de corte.
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A seca estendida, hoje, poderá retardar a engorda do gado a ser entregue na safra, o que sugere falta de oferta para o primeiro semestre de 2024. Entretanto, a gente não pode se esquecer que o desafio na produção de forragem, concentrado no último trimestre, significa desafio reprodutivo para as fêmeas que, com menos forragem, tendem a apresentar taxas mais baixas de concepção.
Dessa forma, a repetição do cio das vacas poderá trazer oferta adicional de fêmeas no início do ano que vem, dando continuidade à liquidação que a gente tem observado no momento, em decorrência dos preços. O movimento tem sido muito comum em países como Estados Unidos e Austrália que, diante do desafio climático trazido por secas prolongadas, viu os seus produtores liquidarem fêmeas como uma forma de aliviar as pastagens.
A intensidade do El Niño atual é impossível de ser prevista, por enquanto. Mas seja como for, o cataclismo produtivo está longe de acontecer e a história já nos mostrou isso em outras ocasiões em que o menino resolveu brincar também com as temperaturas globais. E mesmo assim nossa produção deu conta do recado de alimentar mais de 1 bilhão e meio de pessoas no Brasil e no mundo.
*Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
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